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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Adão e Eva precisam ser reais pro Evangelho? 0



Adão e Eva no Jardim do Éden. Foi assim que começou.
Tradução do texto [em inglês] de Albert Mohler: Adam and Eve: Clarifying  Again What Is at Stake, disponível aqui.

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Recentes discussões sobre Adão e Eva têm servido para pelo menos um bom propósito – tornar mais claro o que está teologicamente em jogo nos debates. O recente relatório da NPR (National Public Radio) alertou a grande cultura secular para o debate, mas raramente a discussão traz novidades.

O que é novo, contudo, é a sincera admissão por parte de alguns de que a negação de um Adão histórico requer uma nova compreensão da história bíblica básica – e do Evangelho como um todo.

Um dos meus mais recentes artigos, False Start? The Controversy Over Adam and Eve Heats Up (Começo Falso? A Controvérsia sobre Adão e Eva Pega Fogo) deixa este ponto mais claro. Como eu argumentei lá, a negação do Adão histórico não só implica a rejeição do ensino bíblico lúcido, mas também resulta na negação da Doutrina Bíblica da Queda, conduzindo da um modo muito diferente de contar a História Bíblica e o significado do Evangelho.

A propósito, aqueles que tentam negar que o Gênesis requer a afirmação de um Adão histórico como um indivíduo humano real e singular (argumentando, por exemplo, que a palavra ‘Adão’ em hebraico significa somente ‘o homem’) tem que enfrentar o fato que a narrativa de Gênesis apresenta Adão como um indivíduo singular que age, fala, casa-se, reproduz-se, e está listado na genealogia de Jesus. O vocabulário hebraico não oferece nenhuma escapatória convincente para a historicidade.

O ponto principal do meu artigo ‘False Start’, contudo, foi que a negação de um Adão histórico separa o ponto essencial elaborado por Paulo em Romanos 5:

Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram. Porque antes da lei já estava o pecado no mundo, mas onde não há lei o pecado não é levado em conta. No entanto a morte reinou desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão o qual é figura daquele que havia de vir. Mas não é assim o dom gratuito como a ofensa; porque, se pela ofensa de um morreram muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça de um só homem, Jesus Cristo, abundou sobre muitos. Também não é assim o dom como a ofensa, que veio por um só que pecou; porque o juízo veio, na verdade, de uma só ofensa para condenação, mas o dom gratuito veio de muitas ofensas para justificação. Porque, se pela ofensa de um só, a morte veio a reinar por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça, e do dom da justiça, reinarão em vida por um só, Jesus Cristo. (Romanos 5:12-17)

Esta é a forma do Apóstolo Paulo contar a história da Bíblia e o significado do Evangelho. Se Adão não foi uma figura histórica, e assim não houve nenhuma Queda no pecado e assim toda a Humanidade não pecou em Adão, portanto a história do Evangelho que o Apóstolo Paulo conta está errada. Além disto, Paulo estava simplesmente enganado ao crer que Adão foi uma pessoa real.

Desta maneira, a negação do Adão histórico significa que nós temos que contar a história da Bíblia de uma maneira muito diferente do que a Igreja tem lido, ensinado, pregado e acreditado há séculos. Se não há nenhum Adão histórico, então a metanarração bíblica não é Criação-Queda-Redenção-Nova Criação, mas algo totalmente diferente.

Para seu crédito, Brian McLaren afirma esta verdade e concorda que a negação da historicidade de Adão requer uma nova maneira de contar a história bíblica. Mas – e este é o ponto crucial – ele pensa que isto pode ser uma coisa boa.

Respondendo ao meu artigo, ele escreveu:

Eu concordo firmemente (em um tipo curioso de ironia) com o bom Dr. Mohler. Eu penso que a convenção constantiniana “do entendimento da metanarrativa do evangelho e o enredo da Bíblia” está errada, mal orientada, e perigosa. Nós realmente precisamos de “um completo novo entendimento” – novo, que é, comparada com o status quo, mas realmente mais antigo e primário que a abordagem convencional. No processo nós aprenderíamos melhor o que uma metanarrativa é de fato e perceber que não há um grande rótulo para aplicar ao Evangelho... “o enredo da Bíblia” é muito melhor. Isto é o que eu tenho escrito e falado na última década, e espero continuar defendendo e contribuindo para a próxima.

Naturalmente, McLaren tem escrito sobre isto e convoca uma revolução teológica. No seu livro de 2010, A New Kind of Christianity (Um novo tipo de Cristianismo), McLaren explicitamente nega que a Bíblia revela Adão como um ser histórico. Ele também nega que nós deveríamos crer numa Queda no Pecado que conduz a um veredito divino contra a pecaminosidade humana.

Em suas palavras, falando do relato de Gênesis:

É patentemente óbvio para mim que estas histórias não pretendem ser tomadas literalmente, apesar de isto não costumar ser tão óbvio, e eu sei que não deve ser agora para a maioria dos meus leitores.  É também poderosamente claro para mim que estas histórias não literais ainda devem ser levadas a sério e representadas pelo seu conteúdo rico, porque elas instilam experiente sabedoria multiforme – através de profunda linguagem mítica – sobre como veio a se tornar o que é.

Sobre Gênesis 3, ele afirma:

Neste mundo, não há nenhum momento isolado de deslocamento de declaração para história: é tudo história, do começo ao fim, e provavelmente antes e depois também. Deus não é suscetível de perder seu status de perfeição com uma promessa furiosa de eterna condenação, perdição e destruição. Deus não decretou o estado perfeito arruinado e o planeta destinado para geocídio. A experiência não é um fracasso.

Um ponto similar foi dito pela escritora conhecida como RJS em ‘Jesus Creed’, o blog do estudioso do Novo Testamento Scott McKnight. RJS rejeitou minha afirmação que uma compreensão correta de Adão é necessária para a correta compreensão de Cristo e sua expiação. “Eu rejeito categoricamente a noção que ter uma visão correta de Adão (ou uma visão específica de Adão) é requerida para ter a visão acertada de Cristo e sua obra redentiva neste mundo”, ela escreveu.

Ela está certa em argumentar que nossa compreensão da criação é inata e irredutivelmente cristológica – baseada em textos como João 1 e Colossenses 1. Todavia, isto não reduz de qualquer forma a importância da afirmação da Bíblia de que Adão é uma figura histórica e que a Queda é um evento histórico.

Ainda, ela também escreve isto:

Francamente, eu não acho que a Encarnação seja a solução para o problema criado pelos nossos antepassados originais, ou dois indivíduos únicos criados do pó ou um grupo que evoluiu para humanos. Eu penso que a encarnação era parte do plano de Deus desde o princípio.

Isto é um pouco atordoante. O Antigo Testamento claramente promete a vinda de um Escolhido que irá salvar o Seu povo dos pecados deles. A Encarnação é impossível para nós compreendermos em termos bíblicos sem a afirmação central de que Cristo veio para redimir Seu povo do pecado. Como Paulo escreveu em Gálatas 4.4-5, “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, Para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos”.
No contexto da eternidade, onisciência e soberania de Deus, é inegável que “a Encarnação era parte do plano de Deus desde o princípio”. Mas é também verdadeiro que a criação de Adão e Eva e a Queda da Humanidade no pecado foram também parte do plano divino desde o começo. Esta verdade (definida dentro do contexto da eternidade, onisciência e soberania de Deus) tem sido afirmada, a propósito, tanto por Calvinistas como por Arminianos clássicos. Esta tem sido a fé da Igreja, baseada sobre a autoridade das Escrituras.

Eu genuinamente aprecio um debate honesto sobre estes assuntos de inegável e incalculável importância teológica. Este debate tem servido para esclarecer, mais uma vez, o que está em jogo. Eu só posso terminar novamente onde eu terminei o artigo “False Start”:

A negação do Adão e Eva históricos como os primeiros pais de toda a humanidade e o primeiro par de humanos corta a ligação entre Adão e Cristo o qual é crucial para o Evangelho. Se nós não sabemos como a história do Evangelho começa, então nós não sabemos o que a história significa. Não se engane: um falso início para a história produz uma falsa compreensão do Evangelho.

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Nota do tradutor e editor do blog: aqui no Brasil também temos representantes do mesmo pensamento de Brian McLaren, participantes da escola teológica do liberalismo. Ricardo Gondim, Ariovaldo Ramos e Ed René Kivitz são bons exemplos desta escola.

[Atualização 01-09-2011]
Complementando, indico também a leitura deste texto, da autoria de Mauro Meister, no blog O Tempora-O Mores.

Porque não me envergonho do Evangelho de Cristo, Pois é o Poder de Deus para a salvação de todo aquele que Crê - Romanos 1:16

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