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sexta-feira, 5 de março de 2010

Algum de vós tem falta de sabedoria? 0




Na continuação do texto sobre a Verdadeira Religião, percebi que o texto estava além do tamanho adequado à uma postagem. Preferi, desta forma, dividá-la em duas partes. Esta parte, especificamente, trata dos dois tipos de sabedoria descritos por Tiago em sua carta.

Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom procedimento as suas obras em mansidão de sabedoria. Mas, se tendes amargo ciúme e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade. Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica. Porque onde há ciúme e sentimento faccioso, aí há confusão e toda obra má. Mas a sabedoria que vem do alto é, primeiramente, pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia. (Tg 3:13-17)

O que é a sabedoria “terrena, animal e diabólica”? É terrena porque trata-se daquele tipo de conhecimento que obtemos com a nossa própria experiência de vida e pela observação do comportamento das outras pessoas. Em tese, todos nós seremos muito mais sábios ao final da nossa vida que no começo. Este tipo de sabedoria nos é muito útil por permitir a possibilidade de qualificar nossa experiência com o conhecimento dos antigos. A Bíblia, por exemplo, nos incentiva a este tipo de comportamento:

Prv 11:14  Não havendo sábios conselhos, o povo cai, mas na multidão de conselhos há segurança.

Prv 15:22  Onde não há conselho, frustram-se os projetos; mas com a multidão de conselheiros se estabelecem.

Prv 24:6  Com conselhos prudentes tu farás a guerra; e há vitória na multidão dos conselheiros.

Quando Moisés estava iniciando sua peregrinação rumo à Terra Prometida, Jetro, seu sogro, lhe sugeriu uma melhor forma de administrar as atividades judiciais necessárias para a organização do povo. Foi um sábio conselho que permitiu a Moisés dispor do seu tempo para as obrigações de ordem mais elevada, delegando poder para que os anciãos do povo resolvessem assuntos de importância menor (Ex. 18).

Entretanto, este tipo de sabedoria não é necessariamente bom. Numa sociedade ímpia, a “multidão de conselheiros” pode lhe render péssimas ideias. A sociedade brasileira atual, por exemplo, tem uma visão bastante distorcida do ideal de família; por conseguinte, não seria uma boa conselheira em questões de fidelidade e respeito, nem na educação de filhos.

Outra forma de ver uma aplicação errada da experiência humana pode ser resumida em uma filosofia chamada pragmatismo. “Uma pessoa pragmatista vive pela lógica de que as ideias e atos de qualquer pessoa somente são verdadeiros se servem à solução imediata de seus problemas” (v. Wikipédia). Se alguém está com problemas financeiros, e através de alguma ilegalidade conseguiu obter dinheiro sem ser punido, então ele considera sua ação como verdadeiramente boa. Esta filosofia é claramente errada pela ótica bíblica.

Outro adjetivo para este conhecimento é “animal”. Ora, qualquer um que tenha convivido algum tempo com animais de estimação sabe que eles podem aprender a fazer coisas com o tempo. Cães não urinam em locais onde antes o fizeram e foram “castigados”. Minha sogra tem um cachorrinho que toda vez que ela diz “vai fazer xixi”, ele sai correndo para o portão da garagem a esperando para abrir. Aliás, por causa desta aprendizagem é que os animais podem ser adestrados. Pela própria experiência eles vão se tornando “sábios”. Algumas pessoas até mesmo confundem a habilidade que os animais tem de aprender como um indicativo que são de alguma maneira “aparentados com os humanos”, como fazem de forma ingênua os evolucionistas.

Tiago também nos informa que este tipo de sabedoria é diabólico. Isto não quer significar que toda a sabedoria dos séculos de existência humana é intrinsecamente má, mas que o próprio inimigo das nossas almas aprende da mesma maneira que um ser humano. Por isto é que se diz que o Diabo é astuto pela sua antiguidade, e não por ter um conhecimento sobrenatural inato, tal como Deus. O livro de Jó, no seu capítulo 1, descreve uma cena onde Deus pergunta a Satanás “Donde vens?” E Satanás respondeu ao SENHOR dizendo “de rodear a terra, e passear por ela”. Milhares de anos observando a humanidade lhe deram muita experiência para levar destruição à vida das pessoas.

Tiago ainda acrescenta que a sabedoria terrena é facilmente corruptível pelos desejos humanos. Ele diz: “se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade”, “Porque onde há inveja e espírito faccioso aí há perturbação e toda a obra perversa” e “Essa não é a sabedoria que vem do alto”.

Não é este tipo de sabedoria que facilita a nossa passagem por provações e nem o tipo que Tiago incentiva-nos a buscar do Senhor.

Como é a sabedoria que “vem do alto”? A Palavra diz que ela é, primeiramente, pura. Significa que não há qualquer dubiedade de propósito; não há nenhuma mancha sequer de pecado ou maldade nela. Não serve ao propósito de enganar nem outra finalidade má. Como exemplo de sabedoria não-pura, cito a mais conhecida de todas as propostas, aquela que foi feita no Jardim do Éden a Adão e Eva:

Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal. (Gên 3:5)

Reluzia como algo precioso, mas, ao adquiri-la, não passava de ouro de tolo. Sem valor, sem vantagens, prejudicial não só para eles, mas para toda a raça humana desde então. A sabedoria celeste não é assim. Sua fonte é perfeita; consequentemente ela espelhará tal predicado.

Exemplificando positivamente, agora cito a ocasião do primeiro uso da sabedoria divina que Salomão fez. Duas prostitutas, de uma mesma casa, se apresentaram diante dele. Ambas haviam tido filhos nos mesmos dias; no entanto, vendo que um dos bebês havia morrido, a mãe deste trocou o bebê por aquele da outra mulher. Esta última, ao acordar, percebeu a troca e foi apelar ao então Rei Salomão. Sabiamente, Salomão sugeriu que o bebê fosse dividido ao meio, e assim cada mãe ficaria com metade. É claro que ele não levaria esta ação a cabo, mas com este subterfúgio ele conseguiu descobrir a mãe verdadeira: esta preferiu estar longe do filho, contanto que estivesse vivo (1 Reis 3:16-28).

Segundo vemos nas cartas de 1 Timóteo 1.5 e 1 Pe 1.22, quando há pureza, o amor flui como resultado. No julgamento destas duas mulheres, vemos que a sábia resolução do problema gerou a atitude mais amorosa: para o filho, pois ficou com sua verdadeira mãe; para a mãe, que amava seu filho a ponto de entregá-lo vivo para a outra mulher; e a mulher que mentiu também teve um tratamento amoroso, pois a repreensão e correção também são formas de manifestar apreço.

A sabedoria do alto também é pacífica. Vimos, na passagem do exemplo anterior, que a contenda foi desfeita com apenas uma frase! E todas as outras características da sabedoria que não perece podem ser percebidas nela:
- moderação: toda a história das mulheres foi ouvida antes da decisão do Rei, que foi equilibrada e ponderada. “Eu, a sabedoria, habito com a prudência, e acho o conhecimento dos conselhos” (Pv 8:12);
- tratável: em outras palavras, afável, benevolente. Como anteriormente dito, a bondade foi expressa para as três pessoas envolvidas;
- cheia de misericórdia e de bons frutos: gera perdão, temor, justiça, respeito, amor, alegria. O povo aprendeu a respeitar Salomão, pois viu que nele destilava a sabedoria de Deus;
- imparcial: ambas as mulheres eram prostitutas, mas encontraram soluções para a vida. A sabedoria divina não faz discriminação, independentemente da raça, cor ou condição social;
- sem hipocrisia: não há aparência de bondade ou segundas intenções na verdadeira sabedoria; antes, o temor do Senhor é o princípio dela (Pr. 15.33).

“Guiar-me-ás com o teu conselho e, depois, me receberás em glória” (Sl 73:24)


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