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domingo, 17 de junho de 2012

Crítica - A 4ª Dimensão - David (Paul) Yonggi Cho 0



Semanas atrás fui com minha cunhada à uma livraria evangélica aqui em Porto Alegre para ajudá-la a comprar alguns livros e CDs. Passeando entre as estantes, procurava descobrir se eu podia me presentear com algum bom livro. Às vezes, tenho gratas surpresas, mas não foi o caso desta vez. Paciência. Mas, no fim, até fiquei alegre, porque o tipo de literatura cristã que me atrai é também objeto de desejo de outras pessoas aqui na cidade. Gostaria de conhecê-las pessoalmente!

No meu passeio, olhei a estante de livros dedicados à oração. Achei boa parte dos títulos bem estranha, pois prometiam entregar ao leitor uma fórmula, um procedimento infalível de alcançar a Deus e lograr êxito na conquista dos seus próprios anseios. Nada mais longe do objetivo da oração, eu pensei. Olhei os autores, e não os conhecia. E vi apenas poucos nomes diferentes. Parecia uma espécie de ‘cartel da literatura evangélica’. Mas um nome chamou a minha atenção, porque já havia ouvido falar nele por aí e o nome desse livro soou bastante esotérico. O livro era “A Quarta Dimensão”, do David (Paul) Yonggi Cho, publicado pela Editora Vida.

O autor

Yonggi Cho é um pastor de uma igreja evangélica sul-coreana, considerada por ele e por muitos como a maior igreja evangélica do mundo. Devido à influência que causou com seu método de crescimento de igrejas, tornou-se conhecido pelo mundo, o que o fez trocar seu nome para um de mais fácil assimilação pelos ocidentais. Primeiro, mudou para Paul, depois achou melhor usar David.

A linguagem

Não é um livro difícil de ler. É curto, possui uma linguagem simples, sem muitos recursos estilísticos e nem vocabulário rebuscado. Não há termos teológicos nem notas de rodapé, pois o autor não se preocupou em especificar fontes às afirmações de terceiros. Quando ele utiliza um estrangeirismo, ou cita as línguas originais da Bíblia, ele o faz explicando sua compreensão da palavra ou expressão. Todo o conteúdo do livro é baseado em suas experiências, desde a sua conversão até os momentos de alegria e de dificuldade que aconteceram no decorrer do seu ministério. Há muitos diálogos transcritos, entre ele e outras pessoas, e entre ele e Deus, seja Deus Pai, ou Jesus, ou o Espírito Santo. A divisão do livro é adequada, com seu conteúdo bem distribuído e didático, o que torna o fluxo de leitura leve e agradável.

Conteúdo

É aqui que vamos encontrar muitos problemas. Pensei melhor dividí-los em tópicos para facilitar a leitura.


Ataque à soberania de Deus

Sem meias palavras, a primeira frase do primeiro capítulo já começa assim:

“Deus jamais produzirá nenhuma de suas grandes obras a menos que a realize por meio de sua fé, da fé que deu a você.”

Ele repete novamente esta ideia no capítulo 6, onde ele coloca na boca de Deus as seguintes palavras:

“Jamais me apresentarei ao mundo com poder a não ser que me manifeste através de sua vida."

E Yonggi Cho completa:

“Você é o canal. Você tem toda a responsabilidade. Se não desenvolver sua maneira de crer a fim de cooperar com Deus, ele será limitado. Deus é tão grande quanto você lhe permitir que o seja. Ele também é tão pequeno quanto você o obrigar a ser.”

Esta ideia não é nova. Ela está na boca de muitos pregadores conhecidos, curiosamente norte-americanos, que Cho critica no livro. Kenneth Copeland e Kenneth Hagin, dois famosos pregadores e escritores (os quais herdaram sua teologia de E. W. Kenyon - o verdadeiro pai da Confissão Positiva), também expressam esta noção de que Deus está, de fato, limitado pela vontade humana. Assim, parece que ele nem mesmo é dono dessa visão que é elogiada por Robert H. Schuller no prefácio desse livro como sendo uma mensagem especial do Espírito Santo trazida para Yonggi Cho.

A Bíblia ensina que Deus é soberano sobre tudo e sobre todos. A história mostra como Deus tem lidado com a Sua criação e prova que nada está fora do Seu controle. Deus governa; seus propósitos nunca serão frustrados. É surpreendente a ousadia do autor em diminuir Deus desta maneira. Ou cremos no que a Bíblia diz, ou a jogamos fora. E ela fala isto acerca do Todo Poderoso:

E todos os moradores da terra são reputados em nada, e segundo a sua vontade ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem possa estorvar a sua mão, e lhe diga: Que fazes? (Dan 4:35)
Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido. (Jó 42:2)
Ainda antes que houvesse dia, eu sou; e ninguém há que possa fazer escapar das minhas mãos; agindo eu, quem o impedirá? (Isa 43:13)
Mas o nosso Deus está nos céus; fez tudo o que lhe agradou. (Slm 115:3)
Que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade. (Isa 46:10)
(Recomendo, também, leitura da resposta de Deus à Jó, no livro de mesmo nome, nos capítulos 38 a 41)

A história já está escrita. E ela vem se cumprindo nos mínimos detalhes no decorrer das eras, porque o Deus que criou todas as coisas, continua mantendo a obra graças fazendo uso da Sua providência, bem como intervenções especiais, chamadas de milagres. Então, quando se diz que Deus não pode fazer nada a não ser que alguém aqui em baixo “se mexa”, incorremos em blasfêmia. Pois o contrário é que é verdadeiro:

Nem tampouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas (At 17:25)
Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos (At 17:28)
Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade. (Flp 2:13)


Negação da onisciência de Deus

Um deus que não é onipotente provavelmente não seja, também, onisciente. Este atributo de Deus também está ofuscado pelo ensino de Yonggi Cho. A Bíblia, porém, diz que Deus sabe daquilo que precisamos mesmo antes de pedirmos:

Não havendo ainda palavra alguma na minha língua, eis que logo, ó SENHOR, tudo conheces. (Sl 139:4)
Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera (Ef 3:20)
Na verdade, nem sabemos bem o que pedir. Por isso, o Espírito Santo intercede por nós em nossas orações. Pois o espírito do homem sabe aquilo que é do homem, mas o Espírito de Deus sabe das coisas de Deus.
Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, E não subiram ao coração do homem, São as que Deus preparou para os que o amam. (1 Co 2:9)
E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. (Rm 8:26)

Contudo, o deus de Yonggi Cho tem problemas com a precisão das petições. Novamente, o autor coloca palavras na boca do Senhor neste trecho do capítulo 1, onde ele entendeu que não recebeu os bens materiais que solicitou por falta de detalhamento no pedido:

“Sim, esse é o seu problema, o problema de todos os meus outros filhos. Imploram exigindo todo tipo de coisas, mas o fazem com termos tão vagos que não posso responder. Será que você não sabe que há dezenas de tipos de escrivaninhas, cadeiras e bicicletas? Mas você simplesmente pediu-me uma escrivaninha, uma cadeira e uma bicicleta. Não pediu uma escrivaninha específica, nem uma cadeira nem uma bicicleta específicas.”

Deus não saberia o que é o melhor para seus filhos? Claro que saberia. Deus rejeitaria o clamor de alguém que esteja tão humilhado, tão alquebrado, de maneira que não tivesse forças para orar algo além de “Oh Deus, abençoa-me” ou “Sê propício a mim, pecador” (Lc 18.13)? Mas o deus de Cho parece que só responde se você usar termos exatos:

"O Deus, abençoa-me" — então Deus pode perguntar-lhe: "Que tipo de bênção você deseja dentre as 8.000 promessas?"

Preciso explicar melhor este ponto. Não advogo que o crente tenha de fazer orações tão genéricas e abstratas de modo que abarquem qualquer coisa. Na verdade, penso que é correto fazer uso da Palavra, e mesmo citar literalmente as promessas que Deus fez a nós, em nossas orações. Isto é bom e desejável, porque gera confiança no pedido e segurança na resposta. Deus deve se alegrar ao saber que seus filhos conhecem a Sua Palavra. Concordo com o autor apenas tangencialmente, porque Deus atende a orações simples, bem como a orações mais bem fundamentadas, desde que estejam de acordo com a vontade Dele. Se o Senhor não quiser abençoá-lo com uma casa ou um carro, por exemplo, Ele não o fará, por mais que você diga a Ele quantos tijolos ou parafusos que as coisas pedidas tenham. Aliás, se a petição lhe for negada, devemos entender ISSO como a benção.


Confusão entre o poder de Deus e o poder do homem

Fica patente na leitura do livro a confusão entre aquilo que compete a Deus daquilo que compete ao homem. Yonggi Cho confunde as duas coisas, de modo que destemidamente usa passagens bíblicas mostrando a ação poderosa do Senhor como que sendo possível ao homem fazer o mesmo. No capítulo 1, Cho cita Romanos 4.17, que diz “(...) Deus, o qual vivifica os mortos, e chama as coisas que não são como se já fossem”, e pensa que o homem pode fazer da mesma maneira, quando declara:

“Acho que podia simplesmente chamar à existência aquelas coisas que não existem como se existissem, como se já as possuísse.”

Mais tarde, ao falar para a congregação acerca das “coisas que declarava como se já as tivesse”, alguns quiseram ver essas coisas. Cho reclamou ao Senhor, como se a ideia de violentar o texto bíblico fosse Dele:

"Senhor, desde o princípio essa não foi idéia minha. Foi tua idéia que eu lhes dissesse isso. Simplesmente te obedeci, e agora estou em apuros. Falei-lhes como se fosse dono das três coisas. Que explicação posso dar-lhes agora? Tu precisas ajudar-me, como sempre tens feito."

No fim do livro, ele mostra qual é o verdadeiro motivo que o crente deveria ter para orar ao seu Deus:

Irmãos e irmãs em Cristo, neste instante vocês têm todo o poder de Deus dentro de vocês. Podem recorrer a esse poder para seus gastos, suas roupas, seus livros, sua saúde, seu negócio, tudo!
Quando saírem para pregar o evangelho não estarão pregando um objetivo vago, uma teoria, uma filosofia ou uma religião humana. Na verdade estarão ensinando as pessoas a destapar o manancial inesgotável dos recursos morais e espirituais.

Uso seletivo de passagens bíblicas

O autor também revela falta de preparo no seu ministério pastoral. Ora, convenhamos, não é boa prática ficar sorteando alguma passagem da Bíblia para pregar, como ele faz ao contar logo no íncio do livro:

“Nessa manhã, lendo a Bíblia à procura de uma passagem especial para pregar, repentinamente meus olhos caíram em Romanos 4:17(...). Corri para a tenda que nos servia de igreja, onde as pessoas já haviam começado a orar, e depois de cantarmos alguns hinos comecei a pregar. Expus-lhes essa passagem bíblica (...)”

Conforme pode-se perceber pelo contexto, o ministério de Yonggi Cho ainda estava no seu começo, e (quero crer) talvez ele tenha usado esse expediente leviano apenas nessa época. Entretanto, foi nesta mesma época que ele “desenvolveu” a teologia sobre a oração que expôs no livro, o que pode dar um pano de fundo teológico à sua “revelação”.


Entendimento incorreto da natureza da fé

O que é fé? É confiança ou convicção em algo ou alguém. Fé em Deus é, portanto, confiança naquilo que Ele diz, naquilo que Ele é e naquilo que Ele faz. Há um outro sentido para fé, quando nos referimos, por exemplo, à “fé dos cristãos”, que significa “o conjunto de crenças que os cristãos têm”. Destarte, imaginar a fé como algo manipulável, como se fosse uma energia ou substância, não faz o mínimo sentido, nem bíblico, nem lógico. Analogamente, é como pesar o pensamento. Seria racional se fosse uma espécie de metáfora, mas não se considerada literalmente. A fé não é um objeto; ela precisa de um objeto, o qual é o Deus da Bíblia, para os cristãos.

Yonggi Cho afirma que existem várias dimensões no universo. Pensando geometricamente, ele ensina que existe a primeira dimensão, que é a dos pontos; a segunda dimensão, que são pontos ligados, formando planos; a terceira dimensão surge quando vários planos são agrupados - o nosso mundo físico é tridimensional; e o mundo espiritual, que seria a quarta dimensão. Conforme ele crê, as dimensões superiores abarcam e dominam as dimensões inferiores. Como os seres humanos possuem corpo e espírito, eles pertencem à 3ª e à 4ª dimensão. Se soubermos conectar o nosso espírito a esta 4ª dimensão, podemos moldar e controlar o plano físico.

Cho ensina que a fé é como uma energia que está disponível tanto para espíritos bons quanto para espíritos maus (cap. 2). E ele prova isto mostrando que outros grupos religiosos ou filosóficos podem também fazer milagres, não somente os cristãos. Perceba também um certo desdém por quem estuda teologia e gosta de falar sobre assuntos de fé:

"Os não-crentes do mundo todo estão envolvidos em meditação transcendental e meditação budista. Na meditação pede-se que a pessoa tenha uma visão e um objetivo claro. No sokagakkai constróem uma imagem de prosperidade, repetindo frases vez após vez, tentando desenvolver a quarta dimensão espiritual do homem; e estas pessoas estão criando algo. Embora o Cristianismo tenha chegado ao Japão há mais de cem anos, conta com somente 0,5% da população, e o sokagakkai possui milhões de seguidores. Sokagakkai tem aplicado a lei da quarta dimensão e tem realizado milagres; mas no Cristianismo só há falatório sobre teologia e fé.

Um pouco mais adiante, ele acrescenta:

"Não seja enganado pela conversa da expansão mental, da ioga, da meditação transcendental ou do sokagakkai. Eles estão simplesmente desenvolvendo a quarta dimensão humana, e nesses casos não estão operando na quarta dimensão do bem, antes, na do mal."

E Yonggi Cho vai mais longe. Ele diz que o próprio Deus utilizou esta fé para criar o mundo. Bastou que Ele falasse. O funcionamento dessa fé é o seguinte: as pessoas visualizam o que querem - que o autor chama de ‘imcubação’ - e, a seguir, verbalizam essas intenções; então, forças positivas (Deus, por ex.) usam estas declarações positivas para o bem, e forças negativas (demônios, por ex.) usam declarações negativas para o mal. De uma forma ou de outra, as declarações orais transformam o mundo físico. As palavras são o combustível dos seres espirituais. É importante não somente declarar intenções, mas ordená-las.

“Clame pela palavra de segurança e a proclame, pois sua palavra se espalha e cria. Deus falou e todo o universo se formou. Sua palavra é o material que o Espírito Santo usa a fim de criar.”
“Mediante o domínio na quarta dimensão, o reino da fé — você pode dar ordens a suas circunstâncias e situações, trazer beleza ao feio, ordem ao caótico, sarar os enfermos e consolar os que sofrem.”
“Portanto desejo falar-lhes a respeito do poder criador da palavra falada e por que o seu uso é de grande importância.”
“Na quarta dimensão cria-se tanto o bem como o mal.”
“Precisamos readquirir a arte perdida de expressar a palavra de ordem”
“Há tempo de orar mas também há tempo de dar a ordem. Deve orar em seu quarto secreto, mas ao sair para o campo de batalha, você sairá a fim de proferir a palavra de ordem de criação”


Hermenêutica e exegese incorretas

Para dar sustentação às suas ideias, Yonggi Cho não se faz de rogado e faz sua própria exegese da bíblia, com uso de uma hermenêutica totalmente singular.

“Gênesis 1.2: "A terra, porém, era sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas." Mas se examinarmos a língua original da Bíblia, esse versículo quer dizer que o Espírito de Deus estava incubando sobre as águas, chocando-as.”

O verbo hebraico râchaph, que aqui é traduzido por “pairava”, tem outros significados, tais como movimentar, agitar, vibrar. Como boa regra hermenêutica, é bom ver em quais outros contextos a palavra aparece, para buscar melhor compreensão dela. E este verbo também aparece em outras passagens, como em Dt 32.11, onde é traduzido por “move”, e em Jr 23.9, que em português ficou “estremecer”. Não há, nem de leve, qualquer menção à “incubar”, ou “chocar”, salvo se, por licença poética, ele quiser interpretar “move-se sobre os seus filhos” como “chocar”, na passagem de Deuteronômio, embora não me ocorra como uma ave choca seus ovos se movendo agitadamente sobre eles.

Em outra passagem do seu livro, Cho afirma que Eva fez uso da sua técnica de visualização para pecar. Aqui, Cho também tem uma revelação extra bíblica, narrando outras partes da conversa entre a serpente e Eva.

“Venha ver o fruto da árvore proibida. Olhar não faz mal; por que você não vem e dá uma olhada? Uma vez que o simples olhar para o fruto parecia inofensivo, Eva foi e olhou para a árvore. Olhou para ela não somente uma vez, mas continuou a olhar. A Bíblia diz em Gênesis, no capítulo 3, versículo 6: "Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu, e deu também ao marido, e ele comeu." Antes de comer do fruto ela viu a árvore, e viu também o fruto em sua imaginação. Brincou com a ideia de comer da árvore e trouxe essa ideia para sua quarta dimensão.”

Neste outro texto, percebemos que Abrão perdeu a oportunidade de possuir todo o oriente médio: afinal, Deus poderia ter-lhe dado mais, mas Abrão não tinha uma visão (literalmente) muito ampla, e viu apenas alguns quilômetros de terra, que seriam dele e da descendência dele.

“Deus tem usado essa linguagem do Espírito Santo para mudar muitas vidas. Observe com cuidado ao ler Gênesis 13:14-15: "Disse o SENHOR a Abrão, depois que Ló se separou dele: Ergue os olhos e olha desde onde estás para o norte, para o sul, para o oriente e para o ocidente; porque toda essa terra que vês, eu ta darei, a ti e à tua descendência, para sempre." Deus não disse: "Oh, Abrão, dar-lhe-ei Canaã. Simplesmente reivindique-a." Não, mui especificamente, Deus lhe disse que desde onde estava olhasse para o norte, para o sul, para o oriente e para o ocidente que ele lhe daria essa terra, a ele e a seus descendentes.
(...)
Gostaria que Abrão tivesse tido um helicóptero, para subir bem alto e olhar lá de cima toda a região do Oriente Médio. Assim seriam evitados tantos problemas que sofre essa região hoje. Uma vez que Abrão não possuía binóculos nem helicópteros, sua visão foi bastante limitada. Ver é possuir. Abrão viu a terra. Então voltou para sua tenda, para sua cama, a fim de sonhar com as terras que seriam suas. O Espírito Santo começou a usar essa linguagem de sua quarta dimensão. O Espírito Santo começou a exercer domínio.”

Penso aqui que Cho também limitaria a ação de Deus. Melhor do que um helicóptero, ele poderia ter dado uma olhada para a terra a partir de um ônibus espacial, não é mesmo?

Adiante, mais um problema de interpretação. Não há especialista em grego do NT que traduza o nome Simão por “cana”. Mas isto não impediu o autor de impor sua própria interpretação à palavra. Como bônus, uma revelação adicional de mais uma frase dita por Jesus:

“— Isso também foi verdade com referência ao apóstolo Pedro. Seu nome original era Simão, que significa "cana". Quando Pedro veio, trazido por André, Jesus olhou em seus olhos e sorriu. — Sim, você é o Simão. Você é uma cana. Sua personalidade é tão dobrável, tão mutável. Num momento você está com raiva; no outro você ri. Às vezes você se embriaga e outras vezes mostra quão inteligente pode ser. “

Não sei tipo de Bíblia este homem tem, mas com certeza não é a mesma que os cristãos usam. Vejam a citação abaixo, aparentemente extraída de Tiago 3:

“— A língua é o menor membro de nosso corpo, mas pode dominar o corpo todo.”

É realmente isto que o apóstolo diz? Não, a passagem diz que quem domina a língua, consegue dominar o restante do corpo (e não que a língua domina o corpo), pois apesar de pequena, ela pode causa grande mal. Porque o que contamina o homem é aquilo que sai dele, e não o que entra, como explicou Jesus nos evangelhos.

“Há uma terceira razão pela qual usar o poder da palavra falada: por seu intermédio a pessoa cria e libera a presença de Jesus Cristo. Ao abrir a Bíblia e ler Romanos 10:10 descobrimos que "com o coração se crê para justiça, e com a boca se confessa a respeito da salvação". É mediante a confissão da fé que a pessoa pode-se assegurar da salvação que vem somente por Jesus Cristo. Em lugar algum nesta passagem diz ser necessário que alguém vá ao céu e de lá traga Jesus Cristo de volta à terra a fim de conceder a salvação. O que se diz é que as palavras que podem resultar em salvação estão perto, na sua boca e no seu coração.”

Cho também crê que a conversão se dá mediante a declaração, ou oração de fé, ou seja, que é após a pessoa declarar verbalmente que crê na obra de Jesus Cristo que a operação salvífica do Espírito Santo acontece. Mas a Bíblia ensina o contrário: o Espírito Santo faz com que a pessoa que ouve o evangelho responda de forma positiva a ele, fazendo com que o seu coração creia para a justiça e sua boca confesse a salvação. A regeneração de um pecador é uma obra milagrosa de Deus, e em nada é dependente da vontade do homem, como ensina João 1.12-13. Por isso, essa operação é chamada de novo nascimento. Pelo que consta, ninguém nasce por vontade própria.

A Bíblia ensina que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação (2 Pe 1.20),. mas que toda ela é “proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça” (2Tm 3:16). Então, ela não é só um meio de conhecimento geral sobre Deus, mas é Espírito e vida (João 6.63). A fé não foi nos dada para produzir milagres, mas os milagres para confirmar a fé, para crermos que Jesus é o Cristo, o filho de Deus (João 20.30).

Finalmente, Yonggi Cho dá o fundamento do seu livro - e de sua doutrina - ao fazer uma interpretação particular de duas palavras usadas intercambiavelmente no Novo Testamento, a palavra “palavra” em grego: logos e rhema.

“As pessoas pensam que podem crer na Palavra de Deus. Podem. Mas falham em fazer a diferença entre a Palavra de Deus que dá conhecimento geral a respeito de Deus e a Palavra de Deus que ele usa para conceder fé acerca de circunstâncias e problemas específicos. É este último tipo de fé que produz milagres.

No grego há duas palavras diferentes para "palavra": logos e rhema. O mundo foi criado pela palavra logos de Deus. Logos é a palavra geral de Deus, que se estende desde o livro do Gênesis ao Apocalipse, pois todos estes livros falam acerca de Jesus Cristo, direta ou indiretamente. Ao ler a palavra logos do Gênesis ao Apocalipse a pessoa pode receber todo o conhecimento de que necessita a respeito de Deus e de suas promessas; mas pela simples leitura a pessoa não recebe fé. A pessoa recebe conhecimento e compreensão acerca de Deus, mas não recebe fé. Romanos 10:17 mostra-nos que o material usado para edificar a fé é mais do que simples leitura da Palavra de Deus: "a fé vem pela pregação e a pregação pela palavra de Cristo." Nesta passagem "palavra" não é logos, mas rhema. A fé, especificamente falando, vem pela pregação da palavra rhema. O Dr. Ironside define em seu "Léxico Grego" a palavra logos: A palavra dita de Deus"; e rhema: "A palavra dizente de Deus." Muitos eruditos definem a ação de rhema como se o Espírito estivesse tomando alguns versículos da Palavra de Deus e vivificando com eles uma determinada pessoa. Eis minha definição de rhema: "Rhema é uma palavra específica, dada a uma pessoa específica em uma situação específica.”

Eu procurei descobrir quem é este Dr. Ironside, ao qual o autor faz referência. Pela internet, encontrei apenas um Harry A. Ironside (http://en.wikipedia.org/wiki/Harry_A._Ironside), canadense-americano que foi teólogo e pregador, entre outras coisas. Olhando a obra deste homem (http://www.newble.co.uk/writers/Ironside/writings.html), não descobri nada que sequer lembrasse um estudo sobre a língua grega. Ele escreveu diversos livros, todos sobre a fé cristã, mas nenhuma obra erudita, até porque ele estudou apenas até a 8ª série. Concluindo, não é o Ironside citado no livro. Então, não pude avaliar a veracidade da declaração de Cho. Entretanto, olhando obras acerca do grego do NT disponíveis (entre as quais o léxico grego de Strong é o mais conhecido), não encontrei diferença significativa para discriminar as duas palavras como o autor fez. Os autores do Novo Testamento usam de forma alternada as palavras logos e rhema, e mais parece um recurso estilístico do que doutrinário. Embora seja deveras importante descobrir como uma palavra é usada no decorrer dos textos bíblicos, é boa regra hermenêutica não criar uma “babel doutrinária” em cima de uma variação de sinônimos, impondo significados que não são respaldados pelo conjunto das escrituras.

E a partir da diferenciação que Cho faz destas palavras, ele consegue invalidar as Escrituras, considerando-as apenas conhecimento teórico sobre Deus, não promessas divinas. No exemplo abaixo, ele narra a situação onde Pedro andou sobre as águas para ilustrar o ponto. Ele conta que algumas pessoas haviam morrido por terem tentado andar sobre as águas de um rio, confiando que Deus agisse com eles como agiu com Pedro.

“Mas Deus não tinha motivos paia apoiar a sua fé. Pedro nunca andou sobre as águas por causa da palavra logos, a qual prove informação geral acerca de Deus. Pedro pediu que Cristo lhe desse uma palavra específica. Disse ele: — Se és tu, Senhor, manda-me ir ter contigo, por sobre as águas. Respondeu Jesus: — Vem! A palavra que Cristo deu a Pedro não era logos, mas rhema. Deu-lhe uma palavra específica: "Vem!" A uma pessoa específica: Pedro; numa situação específica: uma tempestade. Rhema traz fé. A fé vem pela pregação e a pregação de rhema. Pedro nunca andou por sobre as águas pelo conhecimento de Deus somente. Pedro tinha rhema. Mas essas moças tinham somente logos, conhecimento geral de Deus, e neste caso, a obra de Deus mediante Pedro. O erro foi exercitarem sua fé humana em logos. Deus, portanto, não tinha responsabilidade alguma de apoiar sua fé, e a diferença entre o modo pelo qual estas moças exercitaram sua fé e a maneira de Pedro exercitar a sua é tão grande como a noite do dia. “

As moças do caso citado erraram porque “andar sobre as águas” não é promessa para todo crente. O NT apenas narrou o acontecimento. Mas o autor do livro também errou porque igualou todo o texto da Bíblia a uma narração ou descrição. E erra mais ainda por fazer com que as pessoas dependam de novas revelações (extra bíblicas) para viverem sua vida cristã, sendo que 2 Timóteo 3.16-17 diz que “Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra.”

Abaixo, mais uma “forçada” no texto bíblico para fazer com que ele apoie a doutrina do autor. Apesar de esta passagem literalmente dizer isto, exete (tende) pistin (fé) theou (de Deus), unanimamente tem sido traduzida como “Tende fé em Deus” nas nossas bíblias. Os eruditos na língua explicam que a palavra theou (Deus), que nesta expressão no grego é um genitivo objetivo, é objeto da fé, e não sujeito. Portanto, nossas bíblias estão traduzidas corretamente. A única Bíblia onde uma nota de rodapé dá essa segunda interpretação é uma bíblia de referência editada por Kenneth Copeland, já citado anteriormente nesse texto, que dá essa leitura alternativa.

“A versão de Almeida, de Marcos 11.22, 23 diz que se a pessoa tiver a fé em Deus poderá então ordenar a um monte que se atire no meio do mar. O texto grego, entretanto, diz que a pessoa deve ter a fé de Deus. Como é que se pode ter a fé de Deus? Ao receber rhema a fé que lhe é dada não é sua; foi-lhe concedida por Deus. Depois de receber essa fé, que vem do alto, então pode ordenar que montanhas sejam removidas. Sem receber a fé de Deus a pessoa não pode fazer tal coisa.”

Além disso, esta interpretação dá uma ideia (falsa) de que o homem pode ter o mesmo tipo de poder que Deus tem, bastando pronunciar oralmente sua vontade.


Novas revelações

É líquido e certo que, quando falta conhecimento bíblico, brotam heresias de todos os tipos. E para alguns, as escrituras não são suficientes para nos ensinar todas as coisas (2Tm 3.16), buscando “novas revelações”. Contudo, Hebreus 1 fala sobre como Deus se revelou ao mundo: primeiramente através dos profetas, e nos últimos dias, de forma definitiva, pelo Filho, Jesus Cristo. No entanto, Cho recebeu novas revelações, diretamente de Deus - segundo ele -, não atentando com diligência para as coisas que temos ouvido, para que em tempo algum nos desviemos delas (Hebreus 2.1). A própria ideia central do livro foi fruto de uma “nova revelação”:

“Então Deus falou a meu coração: "Filho, assim como a segunda dimensão inclui e controla a primeira, e a terceira inclui e controla a segunda, assim também a quarta dimensão inclui e controla a terceira, produzindo a criação da ordem e da beleza. O espírito é a quarta dimensão. Cada ser humano é um ser espiritual assim como físico. Possui a quarta dimensão e também a terceira em seus corações." Deste modo os homens, explorando sua fé espiritual na esfera da quarta dimensão, por meio de visões, imaginações e sonhos, podem influenciar a terceira dimensão, produzindo nela mudança. Isto foi o que me disse o Espírito Santo.”

“Então ouvi o Senhor dizer ao meu coração: "Filho, isso não é atrapalhação de Satanás. Esse é o desejo visual do Espírito Santo. É palavra de sabedoria e de conhecimento. Deus deseja curar essas pessoas, mas não o pode fazer até que você fale." "Não", respondi, 'não creio nisso. Deus pode fazer tudo sem que eu jamais tenha de dizer uma palavra." Mais tarde li no primeiro capítulo de Gênesis: "A terra, porém, era sem forma e vazia' e o Espírito Santo pairava sobre ela, incubando-a; mas nada acontecia. Então Deus me revelou uma importante verdade. Disse ele: "Lá estava a presença do Espírito Santo, a poderosa unção do Espírito Santo incubando e pairando sobre as águas. Aconteceu alguma coisa nessa época?" "Não" respondi. "Nada aconteceu." Então disse Deus: "Você pode sentir a presença do Espírito Santo em sua igreja — a presença palpitante e penetrante do Espírito Santo em sua igreja — mas nada acontecerá alma alguma será salva, lar desfeito algum será reconstruído até que você diga a palavra. Não fique simplesmente a implorar o de que você precisa. Dê a palavra. Dê-me o material com o qual eu possa construir acontecimentos miraculosos. Como eu fiz ao criar o mundo, pronuncie-se. Diga: "haja luz", ou diga: "haja um firmamento". “

“Comecei a obra de minha igreja dirigido por rhema, não por logos. Deus falou claramente ao meu coração, dizendo: "Levanta-te, vai e edifica uma igreja para dez mil pessoas.'' “

Às vezes, ele cita frases e diálogos que os personagens bíblicos tiveram, mas que não constam em nenhum dos livros inspirados:

Pedro dizia vez após vez; "Sou eu como uma rocha? Sou? Sim, sou como uma rocha."

Quando Pedro veio, trazido por André, Jesus olhou em seus olhos e sorriu. — Sim, você é o Simão. Você é uma cana. Sua personalidade é tão dobrável, tão mutável. Num momento você está com raiva; no outro você ri. Às vezes você se embriaga e outras vezes mostra quão inteligente pode ser.


Entendimento incorreto sobre a natureza dos milagres

Para que servem os milagres? O que eles são? Ainda existem hoje em dia operadores de milagres como existiam nos tempos apostólicos? Antes de responder essas questões, vamos ver o que Calvino falou quando a Igreja Católica cobrou milagres dos reformadores para comprovar a veracidade dos seus ensinos:

Que de nós exigem milagres, agem de má fé. Ora, não estamos [nós] a forjar algum Evangelho novo, ao contrário, retemos aquele mesmo à confirmação de cuja verdade servem todos os milagres que outrora operaram assim Cristo como os Apóstolos. E isto de singular têm [eles] acima de nós, que podem confirmar a sua fé mediante constantes milagres até o presente dia! Contudo, [o fato é que] estão antes a invocar milagres que se prestam a perturbar o espírito doutra sorte inteiramente sereno, a tal ponto são [eles] ou frívolos ou ridículos, ou vão e mendazes (As Institutas – Editora Cultura Cristã, 1985, SP; vol. 1, p. 20).

Qual é o ponto aqui? Os milagres sempre foram os instrumentos que autenticaram o ministério dos homens de Deus. Esses milagres, também chamados de sinais, não podiam ser reproduzidos por meios humanos, pois se pudessem, como comprovariam que eles fornecem credenciais da parte de Deus aos homens? Calvino e os outros reformadores (bem como os romanistas) também criam dessa maneira. Invariavelmente, os milagres descritos no Antigo e no Novo Testamento eram associados à palavra profética, vinda de Deus. Assim, quando alguém se dizia profeta, que falava da parte de Deus, os sinais os acompanhavam, comprovando a sua origem celestial.

O ministério de Jesus também teve sua confirmação através dos sinais que fez, bem como o ministério dos apóstolos. Entretanto, a revelação terminou - a palavra inspirada está completa. Consequentemente, o dom de operar milagres também deixou de ser necessário para a Igreja de Cristo.

Isto não significa que Deus não realize milagres hoje. O Senhor Deus é soberano sobre a criação, e Sua mão não está encolhida. De fato, ele pode e responde à oração dos justos, curando e realizando grandes coisas em favor dos seus eleitos, fazendo-as segundo a vontade Dele, e não segundo a nossa. Seja como for, esses milagres não fazem parte da mesma categoria dos milagres feitos através dos personagens bíblicos. Essas ações miraculosas da providência divina não servem para confirmar a autenticidade profética de ninguém mais. O cânon está fechado. A acepção estrita de milagre da qual escrevo (como confirmação revelacional) deixou de existir assim que o último apóstolo morreu.

R. C. Sproul, em seu livro A mão invisível, escreve:

A posição clássica da Reforma sobre essa questão concorda que os milagres têm outras funções além de autenticar os agentes da revelação, como vimos. Isto é, os milagres podem fazer mais do que atestar os agentes da revelação. Contudo, a questão continua; eles podem fazer menos? Nisto reside o problema. Se um não-agente da revelação é capaz de realizar milagres, como os milagres podem funcionar como provas do testemunho de um agente da revelação? Se agentes e não-agentes da revelação podem realizar milagres, que valor de testemunho pode existir em um milagre? Se um falso profeta pode realizar um milagre, o verdadeiro profeta não pode apelar aos milagres como provas de sua própria posição. O problema fica mais difícil quando vemos que o Novo Testamento apela aos milagres dos apóstolos como provas de sua autoridade, o que é claramente um apelo ilegítimo e um argumento falso se é verdade que os não-agentes da revelação podem realizar milagres.


Que quero dizer? Que os milagreiros de hoje, que prometem “paneladas” de milagres, são farsantes! Da mesma maneira que os magos do Faraó do Egito simularam alguns sinais, mas não conseguiram reproduzir os milagres de Moisés, muitos hoje “curam” psicologicamente as pessoas mais influenciáveis, e ainda assim, dores de cabeça e nas costas! Sproul continua:

Uma das coisas que está notavelmente ausente no repertório dos operadores de milagres modernos é o tipo de milagres que eram realizados por intermédio dos agentes bíblicos da revelação. Benny Hinn realiza seus milagres em um palco com um equipamento cênico que teria escandalizado os apóstolos. Ele não realiza milagres no cemitério. Quem é o operador de milagres hoje que é capaz de transformar água em vinho ou ressuscitar pessoas que morreram há quatro dias? Benny Hinn não pode separar o mar Vermelho ou fazer com que machados flutuem. Por que não? A qualidade do milagre que sobrevive até os dias de hoje é menor do que aquela dos realizados pelos agentes bíblicos da revelação? Será que o braço do Senhor está encolhido?

E da mesma forma podemos afirmar que os “sinais, milagres e prodígios” feitos por Satanás também são embuste e engano; pois se o próprio Diabo fosse capaz de realizar milagres verdadeiros, como poderiam servir para autenticar um verdadeiro profeta?

Mas Yonggi Cho não vê diferenças substanciais entre esses milagres, ao ponto de afirmar que mesmo descrentes e pagãos podem manipular este mundo através da fé, desde que desenvolva a sua “esfera espiritual” - a quarta dimensão.

“Esses iogues e monges budistas podem, portanto, explorar e desenvolver humanamente sua quarta dimensão, sua esfera espiritual. Ao lograr uma visão clara, formar quadros mentais de boa saúde, podem incubar essa saúde sobre os enfermos. Por ordem natural a quarta dimensão tem poder sobre a terceira, o espírito humano. Com certas limitações, é claro, podem dar ordens e criar coisas. Deus deu ao homem poder sobre a criação. Ele pode controlar o mundo material e dominar as coisas, responsabilidade que pode executar mediante a quarta dimensão. Ora, os incrédulos, explorando e desenvolvendo seu ser espiritual interior de tal maneira, podem executar domínio sobre sua terceira dimensão, que inclui as doenças e enfermidades físicas. Então disse-me o Espírito Santo: "Veja os sokagakkai. Eles pertencem a Satanás. O espírito humano junta-se ao espírito maligno da quarta dimensão e com a quarta dimensão maligna exercem domínio sobre seus corpos e circunstâncias." O Espírito Santo mostrou-me que foi assim que os mágicos do Egito exerciam domínio sobre várias ocorrências, assim como Moisés o fazia.”

"Os não-crentes do mundo todo estão envolvidos em meditação transcendental e meditação budista. Na meditação pede-se que a pessoa tenha uma visão e um objetivo claro. No sokagakkai constróem uma imagem de prosperidade, repetindo frases vez após vez, tentando desenvolver a quarta dimensão espiritual do homem; e estas pessoas estão criando algo. Embora o Cristianismo tenha chegado ao Japão há mais de cem anos, conta com somente 0,5% da população, e o sokagakkai possui milhões de seguidores. Sokagakkai tem aplicado a lei da quarta dimensão e tem realizado milagres; mas no Cristianismo só há falatório sobre teologia e fé.”

E Cho acredita que todos podem operar milagres:

“As pessoas são criadas à imagem de Deus. Deus é um Deus de milagres; seus filhos, portanto, nascem com o desejo de ver milagres realizados. Sem ver milagres as pessoas não podem satisfazer-se de que Deus é poderoso. Você é o responsável por suprir milagres para essas pessoas.”

Mas a Bíblia diz que não é assim que funciona:

Ora, vós sois o corpo de Cristo, e seus membros em particular. E a uns pos Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro doutores, depois milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas. Porventura são todos apóstolos? são todos profetas? são todos doutores? são todos operadores de milagres? Têm todos o dom de curar? falam todos diversas línguas? interpretam todos? (1Co 12:27-30)


Negação da realidade de Jesus Cristo

E os erros vão sendo empilhados. Dei graças a Deus porque o livro era pequeno. Imagine se houvesse mais espaço! Quantos erros e heresias mais seriam proferidos? O autor em estudo nutre um conceito meio estranho sobre Jesus Cristo. Parece que nosso Senhor só vai aparecer (ou existir, ou deixar de estar preso em algum lugar) se declaramos verbalmente (cap. 3):

“Deus não o usa por você estar completamente santificado, pois enquanto o cristão viver estará lutando com a carne. Deus o usa por você ter fé. Irmãos e irmãs, façamos uso da palavra falada — para o êxito em nossa vida, para o material com o qual o Espírito Santo possa criar, e com o propósito de criar e liberar a presença de Jesus Cristo.”

Poderia isso ser apenas uma figura de linguagem, mas mais tarde ele reafirma a mesma ideia com mais detalhes (observe a falha hermenêutica relativa a passagem de Mateus):

“Onde está Jesus Cristo? Qual é seu endereço? Certamente que não é lá nos altos dos céus, ou embaixo na terra. Jesus está na Palavra dele. Onde estão as palavras que podem salvá-lo? Essas palavras estão em sua boca e em seu coração. Jesus fica limitado ao que você expressa. Assim como a pessoa pode liberar o poder de Jesus mediante a palavra falada também pode criar a presença dele. Se você não falar a palavra de fé claramente, Cristo jamais pode ser liberado. A Bíblia diz: "tudo o que ligardes na terra, terá sido ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra, terá sido desligado no céu" (Mateus 18:18). Você tem a responsabilidade de levar e trazer a presença de Jesus Cristo.”

Mateus 18.18 tem uma questão de ordem. Ela diz que tudo aquilo que for ligado (ou desligado) aqui na terra é porque ANTES foi ligado (ou desligado) no céu, e não o contrário! Ainda não acabou: veja, na citação abaixo, que quem é Senhor não é Jesus, mas aquele que fala dele.

“Você cria a presença de Jesus com sua boca. Se falar a respeito da salvação, o Jesus que salva aparece se falar acerca da cura divina, terá o Jesus que cura em sua congregação. Se falar do Jesus que realiza milagres, então a presença do Jesus que opera milagres é liberada. Ele é limitado por seus lábios e por suas palavras. Ele depende de você e se você não falar claramente por causa do temor de Satanás, como é que Cristo Jesus manifestará seu poder a esta geração? Por isso, fale com audácia.”

Incorreções bíblicas quanto à salvação

Tudo que temos visto até agora é reflexo da diminuição da importância de Deus e da Sua vontade e um aumento da importância do homem e da sua vontade, típico da escola teológica arminiana. Não poderia ser diferente, portanto, o entendimento incorreto da obra graciosa da salvação aplicada aos eleitos de Deus. Exemplificando, o texto abaixo provê a síntese da crença arminiana da conversão, onde primeiro a pessoa deve ter fé, e depois, consequentemente, ela é regenerada para a nova vida:

“Ao receber a Jesus Cristo como seu Salvador pessoal, seu espírito nasce de novo instantaneamente. Recebe, num instante, a vida de Deus, e nesse mesmo instante, seu ser espiritual ganha a vida eterna.”
E a confirmação da importância da “oração da fé” que deve ser feita pelo crente para ser salvo:
“Por não poder receber a oração da fé, tornou-se descrente de novo.”


Atitudes Duvidosas

Até agora falei apenas das incorreções teológicas, de implicação espiritual. Mas Yonggi Cho também age mal de outra forma. Assume uma postura tal como se fosse o “coronel” ou “dono” de suas ovelhas, negociando com elas, em troca de favores financeiros. No trecho abaixo, Cho fala com o gerente de um banco, do qual ele pretendia tomar um empréstimo para cobrir um cheque sem fundos:

“Apanhe o telefone e peça informações a meu respeito. Sou o Dr. Yonggi Cho, pastor da maior igreja evangélica da Coréia. Nossa igreja possui mais de dez mil membros e tenho grande autoridade sobre todos esses cristãos. Posso fazer com que todos eles transfiram suas contas para o seu banco no ano que vem. Far-lhe-ei esse tremendo favor se o senhor me fizer um pequeno.”

Um líder espiritual é somente isto: líder espiritual. Ele não tem o direito de dizer o que as pessoas devem fazer no que se refere a vida particular e de foro íntimo. Mas aposto que muitos líderes tem este desejo de manipular o povo que o segue a seu bel prazer.


Coisas boas

Próximo ao fim do livro, encontrei algumas coisas boas! E vou citá-las, fazendo justiça àquilo que Yonggi Cho acertou.

“Você deve ler a Bíblia. Não ler a Bíblia por costume ou prescrição religiosa. Não ler a Bíblia procurando novas formas legalistas de viver. Não leia a Bíblia por tradição histórica. Leia-a para alimentar a sua mente e mudar por completo toda a ordem de seus pensamentos, para renovar, totalmente, sua vida de pensamento. Encha seu pensamento com a Palavra de Deus. Então Deus poderá fluir livremente através de sua vida e fazer, por seu intermédio, grandes coisas para sua glória.”
“Devemos viver pelo conhecimento revelado encontrado do Gênesis ao Apocalipse, não por nosso conhecimento sensório.”

Ele poderia usar esses conselhos para si mesmo também.

Conclusão

Não recomendo este livro. Muitos livros evangélicos que já li são assim: uma mistura de coisas boas e más, verdades e mentiras. Infelizmente, quem não tem intimidade com a escritura dificilmente vai filtrar o joio do trigo e vai acabar engolindo tudo como se fosse verdade bíblica. A melhor prescrição, nesse caso, é debruçar-se sobre a Palavra, entendê-la, comparar texto com texto, estudá-la como se sua vida dependesse disso (e depende).

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