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terça-feira, 31 de maio de 2011

Servo de Deus ou Escravo do Pecado? 0


Depois de quase um ano, volto a publicar textos no meu blog. Este hiato de tempo ocorreu por duas causas, uma por minha vontade, e outra não.  No primeiro caso, eu precisava de um tempo para me reorganizar quanto aos fundamentos que norteiam a elaboração dos conteúdos que por aqui comento. No segundo caso, foi necessário reelaborar o layout do blog, e até ele ficar pronto, o processo criativo, por assim dizer, ficou parado.


Falando em vontade, achei que o primeiro texto desta nova etapa do blog teria que ter alguma relação com a reestruturação tanto teológica quanto estética. E o tema é o livre arbítrio. Bom, uma introdução era necessária, e uma introdução foi feita. Vamos ao conteúdo.


O livre arbítrio é um tópico importantíssimo para a ética, religião e psicologia, ente outros. Para a ética, porque ela remete à responsabilidade dos nossos atos. Para a religião, porque é a interação entre um Deus soberano e o seu poder com as criaturas por Ele criadas e suas escolhas livres. Para a psicologia é importante porque tem relação com o corpo respondendo a atividades mentais.

Interessa-nos, neste texto, a relação da nossa liberdade com Deus. Como podemos compreender esta relação? Vou inicialmente definir os termos que usarei daqui por diante no texto.

Soberania divina


Deus criou. Deus mantém. Deus controla.

Deus é Todo-poderoso e soberano sobre sua criação. Quando falamos em soberania divina, queremos dizer que Deus controla todo e qualquer aspecto da obra que criou. Nem um átomo sequer está fora do seu comando, nem mesmo as ações livres de suas criaturas.

A afirmação de que Deus é absolutamente soberano na criação, na providência e na salvação é básica à crença bíblica e ao louvor bíblico. A visão de Deus reinando de seu trono é repetida muitas vezes (1Rs 22.19; Is 6.1; Ez 1.26; Dn 7.9; Ap 4.2; conforme Sl 11.4; 45.6; 47.8-9; Hb 12.2; Ap 3.21). Somos constantemente lembrados, em termos explícitos, que o SENHOR (Javé) reina como rei, exercendo o seu domínio sobre grandes e pequenos, igualmente (Ex 15.18; Sl 47; 93; 96.10; 97; 99.1-5; 146.10; Pv 16.33; 21.1; Is 23.23; 52.7; dn 4.34-35; 5.21-28; 6.26; Mt 10.29-31). O domínio de Deus é total: ele determina como ele mesmo escolhe e realiza tudo o que determina, e nada pode deter seu propósito ou frustrar os seus planos. Ele exerce o seu governo no curso normal da vida, bem como nas mais extraordinárias intervenções ou milagres. (Bíblia de Estudo de Genebra, Nota Teológica, página 991).

Livre-arbítrio X Soberania divina


Antropocentrismo: o homem como medida de todas as coisas.
Não me admira que tudo esteja tão torto neste mundo.

Alguns pensam que, se o homem tem livre arbítrio, Deus não pode ser soberano. Ou, o contrário. Se Deus é soberano, o homem não pode escolher nada. É um erro pensar de um jeito ou de outro. Mudando o que tem que ser mudado, numa monarquia um rei governa soberanamente. Porém, seus súditos desfrutam certo grau de liberdade.

Liberdade de escolha X Autonomia

Outra ideia comum é que a liberdade de escolha tem a ver com autonomia. Autonomia (do grego autos = por si próprio e nomos = lei) é ter uma lei própria, governar o próprio destino. Neste sentido nenhum de nós é autônomo. Uma criatura autônoma não deve satisfações a ninguém. Na verdade, todos nós temos liberdade, mas não temos autonomia. É a autonomia que é contrária à soberania divina, não a liberdade.


Duas definições de livre-arbítrio


Alice: Qual caminho devo seguir?
Gato: Para onde estás indo?
Alice: Eu não sei.
Gato: Então, minha cara, isto não importa.

Teoria da Vontade Neutra

Segundo esta popular linha de pensamento, alguém só pode ter livre arbítrio no momento em que ele não possui nenhuma inclinação, tendência, preferência ou preconceito sobre as escolhas possíveis. Desta forma, ele teria total liberdade de escolha. Entretanto, como pode ser possível uma escolha assim? Para tomar uma decisão, precisamos de um motivo. E esta teoria diz que não temos nenhum motivo para escolher o que escolhemos. É como um efeito sem causa! Uma escolha seria um exercício de aleatoriedade! Como, então, dizer que um ato é bom ou mau? Como seria responsável pelas suas escolhas?

Exemplificando:

Leandro gosta de sorvete de abacaxi e de morango. Colocando iguais quantidades de sorvete dos dois sabores à minha disposição, se eu não tiver nenhuma inclinação especial a uma das taças de sorvete, ficarei indefinidamente ali, até a morte. E certamente todo o sorvete derreterá!

Teoria Reformada

A Teoria Reformada, especialmente a desenvolvida por Jonathan Edwards, diz que livre arbítrio é a escolha da mente. Ou, em outras palavras, é a capacidade de escolher o que queremos, de acordo com os nossos desejos. Esta teoria provê um motivo, uma razão para a escolha. E ela reside nos nossos desejos.

O livre arbítrio, segundo Edwards, faz com que todas as nossas escolhas sejam livres e determinadas. Parece contraditório algo ser livre e também determinado, mas explico. Nossas escolhas são livres porque a origem da escolha é a nossa própria pessoa. E é determinada porque cada escolha é determinada pelo nosso desejo; é autodeterminado.

Exemplificando:

Leandro quer fazer uma dieta. Mas ele adora comer massas. Ele sabe que precisa evitar carboidratos para emagrecer. Entretanto, quando ele vai ao restaurante, vê uma lasanha deliciosa lasanha, várias camadas, com recheios cremosos, uma delícia! Um conflito se instala em sua mente: o desejo de ficar mais esbelto e voltar a usar o mesmo número que usava antes de casar, ou ‘provar’ uma fatia generosa daquela lasanha que ele percebe claramente estar muito gostosa. Se tivesse uma vontade neutra, e não tivesse nenhuma inclinação especial por um deles – sendo todas as condições iguais – ele preferiria manter a dieta. Mas as condições nunca são iguais, e o desejo mais forte é o que vai fazê-lo decidir. Conforme ele tiver mais ou menos fome, a comida estiver mais ou menos apresentável, ou um sem-número de outras variáveis, influenciará a decisão dele. Mas a decisão sempre vai ser livre – Leandro é que decidirá – e determinada – o desejo com a inclinação mais forte do momento.

O coração é a fonte dos nossos desejos

A Bíblia nos diz que o ser humano é responsável pelos seus atos. Com isto, excluímos a primeira teoria por mais uma razão. Cada uma de nossas escolhas tem origem nos nossos desejos. A Bíblia fala muito das nossas intenções. O homem vê a aparência externa, mas Deus vê as intenções do coração. Também sabemos pela Palavra que o nosso coração é a fonte de todo o mal Marcos 7:21-23 Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios, Os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem. .

Capacidade moral e capacidade natural


Se só posso escolher coisas más, me parece que sou escravo.
Escravo do pecado.

Capacidade natural tem a ver com os atributos que me são dados no nascimento, como por exemplo: andar, ver, falar, ouvir e tomar decisões.

O problema do homem com o pecado reside na incapacidade moral de fazer boas escolhas. O homem perdeu esta capacidade. Para uma escolha agradar a Deus, é preciso que a pessoa deseje agradar a Deus. Antes de encontrarmos Deus, precisamos ter o desejo de procurá-lo.  Antes de escolhermos o bem, devemos ter desejos pelo bem. Antes de escolhermos Cristo, devemos ter um desejo por Cristo. A pergunta é: o homem decaído tem, naturalmente, um desejo natural por Cristo? Romanos 3:10-18 Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; Com as suas línguas tratam enganosamente; Peçonha de áspides está debaixo de seus lábios; Cuja boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; E não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos.

Não. Ele não tem nenhum desejo natural por Deus. Desde a queda em Adão, toda a humanidade nasceu com um sério problema. Seus desejos de agradar a Deus não existem Romanos 8:5-6 Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito. Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz. .

A única forma de um homem buscar a Deus é se Deus o buscar primeiro João 6:65 Por isso eu vos disse que ninguém pode vir a mim, se por meu Pai não lhe for concedido. . Ele precisa de um novo coração. Ele precisa de um novo nascimento. Isto não isenta os descrentes, pelo contrário: fica ainda mais evidente a sua natureza vil. É necessário que Deus intervenha desta forma porque senão nenhuma pessoa, em tempo algum, se voltaria ao Senhor.

E conheceis a verdade, e a verdade vos libertará.

Leitor, você que chegou até esta parte: ou você teve seu coração regenerado por Deus, e agora busca os interesses do seu Senhor, ou você tem o mesmo coração duro com o qual nasceu, um coração como pedra, que não busca Deus de forma alguma. Você é mau desde a meninice. Contudo, Deus não está longe para que não se possa achegar. São os seus pecados que o afastam Dele. Deus convida, e eu aqui escrevo como testemunha, a todos os que quiserem Apocalipse 22:17 E quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida , que se aproximem do trono da graça, com o coração contrito, arrependido da sua iniquidade. Deus promete que quem se aproxima dele assim jamais será jogado fora João 6:37 (...) o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora .


O que você pensa sobre o livre arbítrio? Você concorda com a teoria de Jonathan Edwards? Acredita que qualquer pessoa pode, a seu tempo e vontade, aceitar a obra salvífica de Cristo na cruz e se tornar um cristão, ou não? Comente!
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