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sábado, 29 de dezembro de 2007

Construindo pontes para o evangelho 1

Construindo pontes para o evangelho

John A. Studebaker

Traduzido e adaptado por Leandro Teixeira
Artigo original pode ser encontrado aqui.

Como cristãos, somos chamados por Deus para ser embaixadores dEle. Agora esta é uma descrição completa do trabalho! A fim de cumprir nossa tarefa gloriosa, entretanto, nós teremos que saltar de nossos isolados círculos cristãos e aprender como atravessar o abismo entre a igreja cristã e o mundo de hoje.

O que é um construtor de pontes?

Na faculdade eu recebi um diploma em engenharia civil. Nas aulas nós aprendemos como desenhar uma das mais importantes estruturas do nosso mundo – pontes. Pontes são fascinantes, eu penso, porque elas são construídas para juntar coisas – porções de terra, estradas e pessoas.

Eu acho minha vida cristã excitante pelo mesmo motivo – porque agora eu me tornei um construtor de pontes para Cristo. Naturalmente, Jesus é o único mediador entre Deus e os homens (1 Tm 2:5); mas, agindo debaixo de Sua autoridade, os cristãos têm o privilégio de construir pontes também. Que tipos de pontes ainda restam para ser construídas? Não-cristãos freqüentemente têm barreiras que os defendem de considerar Cristo: barreiras morais, culturais e intelectuais. Nós podemos ser suas pontes para o evangelho. Exatamente como Jesus deixou o paraíso para vir e se misturar com o mundo pecador, Ele nos deixou com uma tarefa gloriosa de penetrar criativamente no nosso mundo com as boas novas. Num sentido, então, pode não haver uma hora em que nós estejamos mais como Jesus do que quando nós estamos atravessando estas fendas culturais com o evangelho.

Como alguém se torna um construtor de pontes para Cristo? Enquanto é verdade que nós precisamos conhecer teologia e a mensagem do evangelho, nós devemos também compreender que os não-cristãos crêem, como eles pensam, e como eles têm sido impactados com a cultura atual. E então, como embaixadores de Cristo, nós nos tornamos a ponte entre a igreja e o mundo pela comunicação do evangelho dentro do contexto da experiência do não-cristão.

Eu penso que a maioria das pessoas hoje vê o ministério transcultural como algo executado por uma nação estrangeira. Mas a América hoje se tornou muito secular, desenvolvendo uma cultura de individualismo em um sentido ideológico – alguém muito diferente da cultura da igreja. Então, hoje, nós precisamos visualizar nossa cultura americana como uma oportunidade de ministeriar transculturalmente! Nós fazemos isto pela investigação das visões de mundo da nossa cultura. De acordo com David Hesselgrave, no seu livro Communication Christ Cross-Culturally, “compreender outras visões de mundo (ou sistemas de crenças) é o ponto de partida para anunciar o evangelho”(1). Mostrando uma compreensão e um interesse nas crenças de outras pessoas, nós ganhamos credibilidade e integridade perante aquela pessoa – e provavelmente um ouvinte da mensagem cristã.

Em uma oportunidade, por exemplo, eu estava compartilhando Cristo com um estudante chinês. Após ouvir atentamente por 45 minutos sua crença no Taoísmo, e fazer várias questões, ele finalmente me perguntou. “No que você crê?”. Que abertura para compartilhar o evangelho! Como nós aprendemos a investigar as visões de mundo de nossa cultura, nós estaremos ajustados para nos divertir falando com não-cristãos.

Um construtor de pontes é alguém que tem feito um compromisso em entender pessoas com diferentes conhecimentos e crenças a fim de fazer o cristianismo relevante para estas pessoas. A fim de se tornar um construtor de pontes, entretanto, nós temos de passar por um processo – um que nós veremos neste panfleto. Primeiro, nós precisamos examinar o problema do isolamento encontrado em muitas igrejas hoje. Então nós olharemos o modelo de ministério de Cristo o qual supera nosso isolamento. Em seguida, nós encontraremos como nossas vidas podem construir pontes para o mundo. Finalmente, nós veremos a necessidade da educação a fim de construir pontes melhores.

O problema do isolamento

Imagine estar recebendo uma ligação informando que você foi escolhido com embaixador americano na China. Você considerará isto uma completa honra! Como você se prepararia para esta tarefa? Você poderia querer fazer um estudo radical da cultura e costumes chineses. Se você simplesmente disser, “Sem problemas, Eu sou um americano!” e negligenciar este estudo, você mesmo verá que será um embaixador muito pouco eficiente.

Agora imagine que Cristo chamou você, como um americano, para ser Seu embaixador na América. Como você se prepararia para isto? Bem, de fato é para isto que Cristo nos chamou (2 Co 5:20). Mas e se nós disséssemos “Sem problemas, eu sou um cristão!”, porém negligenciando qualquer tentativa de conhecer nossa própria cultura?

Surpreendentemente, isto é o que muitas pessoas na igreja hoje tem feito. Alguns crentes têm realmente evitado qualquer ligação com o mundo. Jan Johnson no seu artigo no Moodly Monthly intitulado “Escaping the Christian Ghetto” – Escapando do Gueto Cristão – chama estas pessoas de “cristãos toca de coelho”. De acordo com Johnson, “Na manhã eles extinguem a segurança das suas casas cristãs, segurando seus fôlegos no trabalho, apressando-se para ir para casa, para suas famílias e então livres para seus estudos bíblicos, e finalmente terminam o dia orando pelos não-crentes a quem eles cuidadosamente evitam por todo o dia”(2).

Na antiga América, os cristãos se divertiam discutindo filosofia e teologia com os crentes e os descrentes da mesma forma. A Nova Inglaterra era uma comunidade que nutria a atividade intelectual. Seus jovens, por exemplo, estudavam os clássicos e a Bíblia hebraica com profundidade.

Os cristãos de hoje, contudo, são constantemente vistos pelo mundo como antiintelectuais, como pessoas que tem negligenciado suas mentes a fim de se tornarem “espirituais”. Mas com esta mentalidade, nós somos incapazes de tratar os assuntos críticos dos nossos dias, e então nossa cultura começa a procurar respostas em outros lugares: no humanismo secular, por exemplo.

Qual é a raiz desta separação intelectual? Bem, muitos crentes hoje mantêm uma visão pietista da vida cristã. O Pietismo surgiu a partir de 1800, mas tinha uma clara deficiência. De acordo com Francis Schaeffer, “era platônico naquilo que fazia uma aguçada divisão entre o ‘mundo espiritual’ e o ‘mundo material’. A totalidade da experiência humana não estava dando-se ao luxo de um lugar apropriado”(3).

Esta visão pietista da vida cristã, eu penso, não se aproxima da vida real fora da experiência cristã de muitas pessoas. Isto é porque a espiritualidade de alguém nunca se afasta suficientemente de integrar-se com o mundo real. Nós ainda terminamos tentando ser bons cristãos, mas muitas áreas de nossa humanidade são deixadas de lado. Nem mais parece muito atrativo para aquelas primeiras a investigação da fé, da mesma forma. De fato, alguns descrentes se assustam!

Como nós mudaremos este padrão? Nós devemos remover esta aguçada divisão procurando como nossa vida espiritual funciona no mundo físico, desenvolvendo uma visão de mundo bíblica. Como nós aprendemos aplicar a fé cristã a nossa própria vida e mundo, nós nos tornamos aptos para falar aos descrentes como aplicar às suas também, e isto abre portas para o evangelho. Mas sem uma fé bem fundamentada nós não nos sentiremos à vontade em submeter nossa mensagem dentro do mercado das idéias modernas, e então nós ficaremos isolados. O que nós realmente precisamos é um modelo para construir pontes dentro da complexidade da cultura atual, um que faça o cristianismo relevante para as vidas das pessoas reais. Cristo mesmo providenciou este modelo numa forma absolutamente maravilhosa. Qual é este modelo?

O modelo de contextualização de Cristo

O modelo é baseado no caráter de Deus. A Bíblia apresenta para nós um Deus que continuadamente procura o homem entrando no contexto cultural dele. No Novo Testamento nós primeiramente vemos Deus procurando o homem tomando uma “forma contextualizada” – aquela de um homem. Contextualização significa identificar-se com a parte oposta e requer quebrar barreiras culturais a fim de estabelecer comunicação.

Através da encarnação de Cristo, Deus atravessou uma larguíssima “fenda cultural” para encontrar o homem, e identificar-se com o homem, por verdadeiramente se tornar um homem. Deus tomou nosso contexto, e ao fazer isto, Ele rompeu duas barreiras que impedem o homem de ter um relacionamento com Ele. Quais eram estas duas barreiras?

Primeiramente Cristo atravessou nossa barreira da humanidade. Cristo submeteu-se à carne, padrões culturais, padrões de idéias, práticas e à fraqueza associada com a humanidade. Ele deixou Seu mundo e entrou no nosso. E em segundo lugar, Cristo atravessou a barreira do pecado. Ele foi à cruz e trouxe o pecado sobre si em nosso favor, então nós devemos esquecer os nossos pecados e vir conhecer Deus pessoalmente.

Não somente Deus encontrou o homem tornando-se um deles, mas Seu compromisso em encontrar o homem continua após a morte e ressurreição de Cristo, mas tomada de uma forma diferente. Seu modelo de comunicação, uma ainda envolvendo contextualização, continua através de Seu povo. Em 2 Co 5:20 nós vemos que Deus tem chamado os crentes para serem embaixadores para Cristo. Como nós cumpriremos esta tarefa? Seguindo o modelo de Cristo, e atravessando as mesmas duas barreiras. Primeiro, nós devemos atravessar a barreira da humanidade. Motivados por Seu amor, nós também precisamos entrar no mundo dos descrentes, procurar compreender seu contexto e encontrar bases comuns. Isto significa que, sem compromisso, nós nos envolvemos com pessoas reais e suas necessidades, dores e dúvidas intelectuais. Segundo, nós precisamos ajudar as pessoas derrubando a barreira do pecado. Nós fazemos isto compartilhando o evangelho dentro do seu contexto, numa forma que faça sentido dentro de outra composição intelectual e cultural da pessoa.

De acordo com Francis Schaeffer, “[Uma missão estrangeira] deve conhecer a linguagem da forma de pensamento das pessoas para as quais alguém fala. Então é com a igreja cristã. Sua responsabilidade não é somente manter os princípios básicos e bíblicos da fé cristã, mas comunicar estas verdades imutáveis ‘dentro’ da geração na qual alguém está vivendo”(4).

Agora vamos voltar nossa atenção em como usar este modelo de construção de pontes para o evangelho que Cristo nos deu.

Nós somos as pontes de Deus

Quando não-cristãos nos encontram, qual a impressão que eles têm ao caminhar conosco? Eles simplesmente vêem outra “religião”, ou eles encontram um cristianismo que é relevante fora da igreja e dá um bom sentido racional em cada área da vida humana?

Como Cristo submeteu-se no contexto da carne humana, então nós devemos entrar no contexto do mundo atual. A base para nosso ministério, então, não é somente encontrado no compartilhamento das verdades da fé cristã, mas também na utilização da nossa humanidade como um efetivo canal para relatar estas verdades.

A igreja antiga repetidamente seguiu o modelo de Cristo construindo pontes humanas a fim de comunicar o evangelho dentro do contexto da platéia. Em Atos 17, Paulo compartilhou o evangelho com os filosóficos e politeístas gregos diferentemente do que fez com os tradicionalistas e monoteístas judeus. Ele podia fazer isto porque ele tinha uma profunda compreensão de cada cultura. Muitas vezes, no Novo Testamento, claramente indivíduos eram habilitados para construir pontes por causa da experiência cultural comum. Suas vidas reais e heranças construíram uma ponte natural. Timóteo, por exemplo, podia facilmente ministrar aos gregos em sua cidade por causa de sua descendência grega. Em outras oportunidades, contudo, não há nenhuma base comum aparente, e nós temos que aprender como os descrentes estão pensando e adaptar-se de acordo. Por exemplo, quando Paulo precisou de Timóteo para acompanhá-lo numa viagem missionária, ele tinha Timóteo circuncidado. Por quê? Porque eles estavam indo entrar em contato com os judeus a quem verificaram que a circuncisão era muito importante.

Cristo mesmo claramente submeteu-se a uma aproximação contextual para ministrar. Em João 3, Cristo confrontou Nicodemos, um mestre da lei, com algumas profundas percepções teológicas. Mas em João 4, como Jesus conversava casualmente com a mulher no poço sobre o passado imoral dela, Ele usou o poço como uma simples ilustração da “água viva” que Ele podia prover. Em cada caso, Jesus mostrou um genuíno respeito pelas experiências e conhecimentos daquelas pessoas “costurando” o evangelho apropriadamente. Do mesmo modo, um embaixador de Cristo deve mostrar o maior respeito pelas pessoas que ele está tentando alcançar, e pelos seus conhecimentos. Demonstrando um profundo conhecimento da cultura, nós ganhamos integridade e credibilidade da nossa platéia.

A chave é que nossas vidas reais são pontes, ou canais, para o evangelho. Quando Deus criou o homem, Ele deu a ele o domínio sobre o mundo (Gn 1:28). Deus estava essencialmente dando a cada pessoa a designação de mostrar o caráter dEle na terra. Como embaixadores de Cristo, Ele tem dado a cada um de nós específicas áreas onde nas quais nós podemos nos tornar canais de Seu amor e verdade e tornar estas áreas completamente dEle. Estas áreas incluem nossos talentos, obrigações, campos educacionais, habilidades, e dons espirituais. Se uma pessoa é um dono de casa, um dentista, um candidato a Ph.D., ou um fazendeiro, ele ou ela necessitam fazer um extensivo estudo considerando como a verdade bíblica provê um fundamento para aquela “plataforma” que Deus deu. Freqüentemente Ele irá mostrar a uma pessoa uma subcultura específica que somente ele ou ela pode alcançar.

A importância da educação

A fim de tornar-se um construtor de pontes entre a igreja e o mundo, nós precisamos ser educados em ambos, e também sobre como integrar os princípios bíblicos dentro da cultura de hoje. Então, tornar-se um efetivo embaixador de Cristo requer conhecimento das seguintes áreas:

Teologia

Como construtores de pontes nós primeiro precisamos desenvolver um completo conhecimento do caráter de Deus, da pessoa de Cristo e da mensagem da salvação. Como sabemos, o Espírito Santo incorpora este conhecimento em nossas vidas pessoais e ministeriais. Muitas igrejas hoje, contudo, desconsideram a importância da teologia como uma real solução para problemas de nossa nação; alguns têm adotado uma atitude antiteológica. De acordo com London e Wiseman em seu livro Pastores em Risco, “Hoje, as conjecturas mantidas por longo tempo sobre doutrinas devocionais não se aplicam mais. Menos e menos pessoas escolhem uma igreja ou continuam a tomar parte por causa do ensino bíblico ou particular tradição”(5). Ao invés disso, nós devemos desenvolver um apetite por teologia, e por se tornar teologicamente educado. Você pode querer começar lendo o livro clássico de J. I. Packer, Conhecendo Deus (6), ou outra boa obra teológica.

Antropologia

Nós também necessitamos compreender as pessoas do nosso mundo. Isto inclui a natureza bíblica do homem, as visões de mundo predominantes hoje, e como estas visões mostram suas faces na mídia atual, atitudes, educação, governo, etc. Além disso, quais são as necessidades do nosso mundo hoje? Há necessidades físicas, emocionais, intelectuais e espirituais a considerar. Mas, para discutir estas necessidades, nós devemos estar educados. Um livro que eu recomendaria é de R. C. Sproul, Lifeviews,(7) o qual ajudará não somente a entender a cultura americana de uma forma melhor, mas ajudará você a trazer a fé para dentro desta cultura.

Contextualização

Como nós começamos dialogar com descrentes dentro de nossa própria esfera de ação, nós realmente vamos aprender como usar estes espaços como canais para a verdade bíblica. Descrentes precisam ver que uma fundamentação bíblica funciona dentro de seus próprios campos de interesse antes de adotarem estes fundamentos para suas vidas inteiras. Então, nós devemos nos tornar completamente educados, relativamente aos fundamentos bíblicos de nossa própria esfera de ação, seja ela a ciência, marketing, educação, medicina, direito, educação infantil, trabalho fabril, qualquer que seja. Eventualmente você estará apto a desenvolver uma estratégia para ministrar dentro do seu campo educacional ou profissional, transformando-o num campo missionário.

Um grupo de advogados, por exemplo, poderia iniciar um programa de defesa legal para a educação cristã na área deles, ou poderia ensinar numa classe de escola dominical sobre “Uma base bíblica para a Lei e a Justiça”. Um fazendeiro poderia treinar pessoas em como iniciar um jardim, e abrir para a comunidade, relacionando princípios bíblicos. Uma equipe de médicos poderia ensinar um curso noturno de educação sexual para estudantes secundaristas e primários (incorporando as perspectivas fisiológicas, psicológicas e bíblico-morais) na igreja – e abrir para toda a comunidade. O céu literalmente é o limite.

A questão precisa ser encarada, contudo, se é ou não este tipo de educação e trabalho duro é realmente importante para nós. Porque teria a igreja perdido seu lugar como uma força dominante dentro da nossa cultura americana? Simplesmente porque os cristãos têm negligenciado este tipo de estudo – e freqüentemente a substituído com um cristianismo emocional e trivial.

Considere fazer um compromisso diante de Deus para educar a si mesmo em tal maneira um caminho como transformar seus campos profissionais e educacionais em um campo missionário. Não há nada mais emocionante que estar vivendo uma vida modelada após a encarnação de Jesus Cristo.

Notas

1. David Hesselgrave, Communicating Christ Cross- Culturally (Grand Rapids: Zondervan, 1978), p. 121.

2. Jan Johnson, "Escaping the Christian Ghetto," Moody Monthly (Nov. 1987), pp. 81-82.

3. Francis A. Schaeffer, The Complete Works of Francis A. Schaeffer, 5 vols. (Westchester, Ill.: Crossway Books, 1982), vol. 5, p. 424.

4. Ibid., vol. 1, p. 207.

5. H.B. London and Neil Wiseman, Pastors at Risk (Wheaton, Ill.: Victor Books, 1993), p. 36

6. J.I. Packer, Knowing God (Downers Grove, Ill.: Intervarsity Press, 1973).

7. R.C. Sproul, Lifeviews (Old Tappan, NJ: Fleming H. Revell, 1986)

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terça-feira, 18 de dezembro de 2007

A cultura do sexo livre 2

A cultura do sexo livre
Vivemos em uma época de liberdade. Pelo menos no Brasil. Não há mais censura na TV. Qualquer coisa pode ser exibida, desde que contenha uma indicação de classificação etária. Não só a TV, mas qualquer outro meio de comunicação pode ser utilizado para veiculação de notícias e propagandas. A Internet se mostrou um meio quase que democrático de inclusão. Quase porque muitas pessoas ainda não tem acesso ao computador, algumas porque simplesmente não querem, outras por não ter condições financeiras ou educacionais. Filmes, novelas, propaganda... todos estes apelam, indiscutivelmente, à sensualidade e ao sexo.

A revista IstoÉ, de julho de 2007, trouxe como matéria de capa este fato, a nova liberação sexual. O conteúdo desta reportagem é pra lá de tendencioso, desinformativo e incorreto, do ponto de vista histórico e moral.

Em todas as gerações, os jovens tiveram que se deparar com dificuldades. Um jovem do século XV teve suas dificuldades tantas quanto um jovem do século XXI. É claro que deve-se considerar que o mundo em que vivem ou viveram são diferentes, tanto a situação social quanto seus próprios anseios. O ponto ao qual quero chegar é que qualquer um de nós se deparou em algum momento com uma escolha, que de forma geral, consistia em manter o antigo, o 'tradicional' ou abdicar disto e aventurar-se por novos caminhos.

É da natureza do jovem romper com o que é 'velho'. Nos adolescentes já vemos sinais que mais tarde formarão o seu caráter quando adulto. A desobediência aos pais mostra-se nem sempre como uma constatação consciente da ineficiência do ensino destes últimos, mas como uma necessidade de autoafirmação. É a negação de qualquer influência externa, numa tentativa de encontrar a si mesmo, a sua essência.

São muitas as variáveis que influenciam no desenvolvimento de um ser humano adulto. A família, os amigos, os colegas, os professores, os patrões e a situação social, educacional e econômica são algumas dessas variáveis. Dependendo do grau de carência envolvido em cada uma delas, haverá insatisfação e uma necessidade de remediar os seus efeitos. Cada geração tentou, de uma forma ou outra, criar seu próprio método de 'libertação'. Nos anos 50, por exemplo, com o advento do Rock'n'roll, os jovens viram uma nova forma de extravasar sua energia e também mostrar ao mundo o que eles pensavam e queriam. Havia no ar uma 'pitada' de rebeldia, que veio a se intensificar nas gerações posteriores. Nos anos 60, na filosofia de 'paz e amor', os jovens de então descobriram um novo tipo de 'conforto': o uso das drogas, o sexo sem compromisso e a pacificação. A década de 70 trouxe uma preocupação maior com o corpo, o que refletiu no aumento da prática esportiva. Era um direito e uma obrigação parecer mais erótico, mais satisfatório visualmente.

Cada qual em sua geração, a juventude detectava um problema e, via de regra, culpava alguma coisa da herança de seus pais e avós por isto. O problema é a falta de liberdade de expressão? Vamos gritar palavras de ordem, escutar um novo estilo de música. O problema é o vestuário? Vamos abandonar estes padrões antigos e façamos nossa própria moda. O problema é o governo? Preguemos a anarquia. O problema é a repressão sexual? Vamos viver livremente a sexualidade, sem nos preocuparmos com o que fazemos do nosso corpo e com o dos outros.

Ignoram que algumas leis, costumes e regras foram criadas com um objetivo bem definido. Não surgiram espontaneamente. O problema é que às vezes não sabemos porque elas foram criadas. Sendo assim, já começamos o processo de aniquilação destas. Eliminar o antigo só por ser antigo. Esta é a lógica atual, que, pensam os jovens, os impede de serem felizes ou plenamente realizados. Infelizmente, já estamos colhendo os frutos desta liberação sexual: a destruição dos valores familiares, do sentido do amor real, dos laços afetivos, da confiança, do respeito e do amor-próprio, inclusive.
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terça-feira, 11 de dezembro de 2007

A Matança dos cananitas 14

A Matança dos cananitas


Por William Lane Craig

Traduzido e adaptado por Leandro Teixeira.

Artigo original disponível aqui.


Questão 1:

Nos fóruns, tem havido muitas boas questões levantadas acerca do assunto da ordem de Deus para os judeus cometerem “genocídio” às pessoas da terra prometida. Como você tem colocado em alguns de seus trabalhos escritos que estes atos não se ajustam com o conceito ocidental de Deus sendo um doce papai no céu. Agora nós certamente podemos encontrar justificativas para aquelas pessoas ficarem debaixo do julgamento de Deus por causa dos seus pecados, idolatria, sacrifício de suas crianças, etc. Mas uma difícil questão é a matança de crianças e bebês. Se as crianças são jovens o suficiente juntamente com os bebês são inocentes dos pecados que a sua comunidade tinha cometido. Como nós reconciliaremos esta ordem de Deus para matar as crianças com o conceito de Sua Santidade? – Obrigado, Steven Shea.

Questão 2:

Eu tenho ouvido você justificar a violência do AT com a base de que Deus usou o exército Israelita para julgar os cananitas e a eliminação deles pelos israelitas é moralmente correta por que eles estavam obedecendo a uma ordem de Deus (devia ser errado se eles não tivessem obedecido a Deus na ordem de eliminar os cananitas). Isto se assemelha um pouco em como os Muçulmanos definem moralidade e justificam a violência de Maomé e outras questões morais questionáveis (os muçulmanos definem moralidade como o cumprimento da vontade de Deus). Você pode ver alguma diferença entre a sua justificativa da violência no AT e a justificação islâmica de Maomé e os versículos violentos do Alcorão? São a violência e as ações questionáveis de moralidade e os versículos do Alcorão bons argumentos ao falar com os muçulmanos? - Anônimo


Dr. Craig responde:

De acordo com o Pentateuco (os cinco primeiros livros do Antigo Testamento), quando Deus tirou seu povo da escravidão do Egito e os fez voltar para a terra dos seus antepassados, Ele os direcionou para matar todo o povo cananita que estavam vivendo na terra (Dt. 7:1-2; 20:16-18). A destruição seria completa: cada homem, mulher e criança seriam mortos. O livro de Josué conta a história dos israelitas levando a cabo a ordem de Deus cidade após cidade do começo ao fim de Canaã.

Esta história ofende nossa sensibilidade moral. Ironicamente, contudo, nossa sensibilidade moral no Ocidente foi basicamente, e para muitas pessoas inconscientemente, formada por nossa herança judaico-cristã, a qual nos ensinou os valores intrínsecos dos seres humanos, a importância da conduta justa mais que caprichosamente, e a necessidade da adequada punição para o crime. A Bíblia mesma inculca os valores os quais estas histórias parecem violar.

A ordem para matar as pessoas cananitas está discordante precisamente porque ela parece tão em desacordo com o retrato de Javé, o Deus de Israel, como Ele é pintado nas Escrituras Hebraicas. Contrariamente à retórica vituperante de alguns como Richard Dawkins, o Deus das Escrituras hebraicas é um Deus de justiça, que sofre e de compaixão.

Você não pode ler os profetas do Antigo Testamento sem um senso de profundo cuidado de Deus pelos pobres, oprimidos, humilhados, órfãos e outros. Deus demanda justas leis e justas regras. Ele literalmente suplica às pessoas que se arrependam de seus caminhos errados que Ele poderia não julgá-los. “Vivo eu, diz o Senhor DEUS, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva” (Ez. 33:11).

Ele enviou um profeta até mesmo para a cidade pagã de Nínive por causa da Sua compaixão pelos habitantes, “homens que não sabem discernir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda” (Jn 4:11). O próprio Pentateuco contém os 10 mandamentos, um dos maiores códigos morais da antiguidade, os quais moldaram a sociedade ocidental. Até mesmo o severo “olho por olho, dente por dente” não foi uma descrição de vingança, mas uma verificação na punição excessiva para cada crime, servindo para moderar a violência.

O julgamento de Deus é qualquer coisa, menos caprichoso. Quando o Senhor anunciou de julgar Sodoma e Gomorra pelos seus pecados, Abraão corajosamente perguntou,

E chegou-se Abraão, dizendo: Destruirás também o justo com o ímpio? Se porventura houver cinqüenta justos na cidade, destruirás também, e não pouparás o lugar por causa dos cinqüenta justos que estão dentro dela? Longe de ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio; que o justo seja como o ímpio, longe de ti. Não faria justiça o Juiz de toda a terra? (Gn 18:25).

Tal como o negociante do Oriente Médio pechincha em uma barganha, Abraão continuadamente diminuiu o preço, e a cada vez Deus se comprometeu, sem nenhuma hesitação, garantindo a Abraão que se houvesse até mesmo 10 pessoas corretas na cidade, Ele não a destruiria por causa deles.

Então o que é que Javé está fazendo comandando o exército judeu para exterminar o povo cananita? É precisamente porque nós esperamos que Javé agisse justamente e com compaixão que nós achamos estas histórias tão difíceis de compreender. Como pode Ele comandar soldados para matar crianças?

Agora, antes de tentar dizer algo em forma de responda para esta difícil questão, nós devemos por bem primeiramente parar e perguntar a nós mesmos o que está em jogo aqui. Suponha que nós concordemos que se Deus (que é perfeitamente bom) existe, Ele não poderia ter emitido semelhante ordem. O que se segue? Que Jesus não ressuscitou dos mortos? Que Deus não existe? Dificilmente! Então qual é o suposto problema?

Eu tenho freqüentemente ouvido populares levantarem esta ordem como uma refutação do argumento moral para a existência de Deus. Mas eles estão obviamente enganados. A afirmação de que Deus não pode ter emitido tal ordem não falsifica ou diminui qualquer das duas premissas no argumento moral que eu defendo:

  1. Se Deus não existe, valores morais objetivos não existem;

  2. Valores morais objetivos existem;

  3. Então, Deus existe.

De fato, à medida que os ateus pensam que Deus fez algo moralmente errado na ordenação do extermínio dos cananitas, eles afirmam a premissa (2). Então, qual é o suposto problema?

O problema, parece-me, é que se Deus não emitiu tal ordem, então a história bíblica deve ser falsa. Qualquer um dos incidentes nunca realmente aconteceu, mas é apenas folclore israelita; ou senão, se elas aconteceram então Israel, cheio de um completo fervor nacionalista, pensando que Deus estivesse do lado dele, afirmou que Deus os comandou para cometer estas atrocidades, quando de fato Ele não os comandou. Em outras palavras, este problema realmente é uma objeção à inerrância bíblica.

De fato, ironicamente, muitos críticos do Antigo Testamento são céticos que os eventos da conquista de Canaã ocorreram. Eles tomam estas histórias como parte da lenda da fundação de Israel, de forma semelhante ao mito de Rômulo e Remo e a fundação de Roma. Para tais críticos o problema das ordenações de Deus desaparece.

Agora vamos colocar esta ordem em uma perspectiva totalmente diferente! A questão da inerrância bíblica é importante, mas não é como a existência de Deus ou a deidade de Cristo! Se os cristãos não podem encontrar uma boa resposta para a questão antes de nós e estão, além disso, convencidos que tal comando é inconsistente com a natureza de Deus, então nós teremos que desistir da inerrância bíblica. Mas nós não devemos deixar um descrente levantar esta questão enganando-se pensando que ele implica mais do que ele realmente faz.

Eu penso que um bom começo para este problema é enunciar nossa teoria ética que fundamenta nossos julgamentos morais. De acordo com a versão do mandamento divino ético que eu defendo, nossas obrigações morais são constituídas pelos mandamentos de um santo e amoroso Deus. Uma vez que Deus não emite ordens a si mesmo, Ele não tem obrigações morais para cumprir. Ele certamente não esta sujeito às mesmas obrigações e proibições a que nós estamos. Por exemplo, eu não tenho nenhum direito de tirar a vida de um inocente. Para mim, fazer isto me tornaria um assassino. Mas Deus não tem tal proibição. Ele pode dar e tirar a vida como Ele decidir. Nós todos reconhecemos isto quando censuramos alguma autoridade que presume tirar vidas como “brincar de Deus”. Autoridades humanas arrogam a si mesmas direitos os quais cabem somente a Deus. Deus não está sob qualquer obrigação para estender minha vida por mais um segundo. Se Ele quiser me desferir a morte agora, esta é Sua prerrogativa.

O que isto implica é que Deus tem o direito de tomar as vidas dos cananitas quando Ele achar melhor. Quanto tempo eles vivem e quando eles morrem é decisão Dele.

Então o problema não é que Deus terminou com a vida dos cananitas. O problema é que Deus mandou os exércitos israelenses acabarem com elas. Não é como mandar alguém cometer assassinato? Não, não é. Antes, uma vez que nossas obrigações morais são determinadas pelos mandamentos de Deus, Ele está mandando fazer algo que, na ausência da ordem divina, poderia ser assassinato. O ato era moralmente obrigatório para os soldados israelitas em virtude do mandamento divino, ainda que, tivessem eles o tratado em sua própria iniciativa, eles estivessem errados.

Na teoria do mandamento divino, então, Deus tem o direito de ordenar uma ação, a qual, ausente de um mandamento divino, seria pecado, mas a qual é moralmente obrigatória em virtude deste mandamento.

Muito bem; mas tal ordem não é contrária à natureza de Deus? Vamos olhar este caso mais de perto. É talvez significativo que a história da destruição de Sodoma por Javé – juntamente com Suas sérias garantias a Abraão que se houvessem tantas quanto até mesmo 10 pessoas retas em Sodoma, a cidade não seria destruída – dá forma a parte do fundo para a conquista de Canaã e ao mandamento de Javé de destruir as cidades lá. A implicação é que os cananitas não são pessoas retas, mas estão sob o julgamento de Deus.

De fato, antes da escravidão no Egito, Deus falou a Abraão,

Sabes, de certo, que peregrina será a tua descendência em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos... e a quarta geração tornará para cá; porque a medida da injustiça dos amorreus não está ainda cheia.” (Gn. 15:13,16)

Pense nisto! Deus suspende seu julgamento aos cananitas por 400 anos porque sua perversidade ainda não tinha atingido o ponto de intolerabilidade! Este é o Deus que suporta a dor que nós conhecemos das Escrituras hebraicas. Ele até mesmo permite que Seu povo escolhido definhe na escravidão por 4 séculos antes de determinar que o povo cananita esteja pronto para o julgamento e tirar o Seu povo do Egito.

No tempo de sua destruição, a cultura cananita era, de fato, devassa e cruel, abraçando práticas tais como prostituição cultual e até mesmo sacrifício de crianças. Os cananitas estão para ser destruídos “Para que não vos ensinem a fazer conforme a todas as suas abominações, que fizeram a seus deuses, e pequeis contra o SENHOR vosso Deus.” (Dt 20:18). Deus tinha razões moralmente suficientes para Seu julgamento sobre Canaã, e Israel era meramente o instrumento da Sua justiça, da mesma fora que centenas de anos depois Deus usaria as nações pagãs da Assíria e Babilônia para julgar Israel.

Mas tirar a vida de crianças inocentes? A terrível totalidade da destruição foi incontestavelmente à proibição da assimilação de nações pagãs. No ordenamento da destruição completa dos cananitas, o Senhor falou: “Nem te aparentarás com elas; não darás tuas filhas a seus filhos, e não tomarás suas filhas para teus filhos; Pois fariam desviar teus filhos de mim, para que servissem a outros deuses; e a ira do SENHOR se acenderia contra vós, e depressa vos consumiria.” (Dt 7:3-4). Este mandamento é parte e parcela de toda a estrutura da complexa e característica lei judia de práticas puras e impuras. Para a contemporânea mente ocidental muitas das regras da lei do Antigo Testamento parecem absolutamente bizarras e sem sentido: não misturar linho com lã, não usar os mesmos recipientes para carnes e laticínios, etc. O impulso que sobrepujava estas regras é a proibição de vários tipos de mistura. Linhas claras de distinção são esboçadas: isto e não aquilo. Isto serviu como um tangível e diário lembrete que Israel é um conjunto especial de pessoas separado para Deus.

Eu falei uma vez com um missionário indiano que me contou que a mente oriental tem uma tendência inveterada com respeito à amalgamação (fusão). Ele falou que os Hindus ouvem o evangelho sorrindo e dizem “Sub ehki eh, sahib, sub ehki eh!” (Tudo é Um, sahib, Tudo é Um!). Faz quase o impossível para alcançá-los por causa até mesmo das contradições lógicas incluídas no todo. Ele disse que ele pensa que a razão de que Deus deu a Israel tantas ordens arbitrárias sobre pureza e impureza era para ensiná-los a Lei da Contradição!

Por definição em tal grau forte, severa dicotomia Deus ensinou Israel que qualquer assimilação com a idolatria pagã era intolerável. Era Sua forma de preservar a saúde e posteridade espiritual de Israel. A matança das crianças cananitas não apenas serviu para prevenir uma assimilação da identidade cananita, mas também serviu como uma ilustração tangível e detalhada da separação de Israel como um povo exclusivo de Deus.

Além do mais, se nós acreditarmos, como eu acredito, que a graça de Deus é estendida para aqueles que morreram na infância ou como pequenas crianças, a morte destas crianças era verdadeiramente sua salvação. Nós somos tão apegados à perspectiva naturalista terrena, que nós esquecemos que aqueles que morrem estão felizes por deixar esta terra pela alegria incomparável do paraíso. Então, Deus não faz nada errado ao tomar suas vidas.

Então o que Deus faz de errado ao comandar a destruição dos cananitas? Não os cananitas adultos, porque eles eram corruptos e mereciam o julgamento. Não as crianças, porque eles herdaram a vida eterna. Então quem é o transgressor? Ironicamente, eu penso que a maior dificuldade de todo este debate é o aparente erro que os soldados israelenses fizeram a si mesmos. Você pode imaginar que seria como ter que invadir uma casa e matar uma mulher aterrorizada e seus filhos? O efeito brutal nestes soldados israelenses são perturbadores.

Mas então, novamente, nós estamos pensando de um ponto de vista ocidental cristianizado. Para as pessoas do mundo antigo, a vida já era brutal. Violência e guerra eram fatos da vida na vivência das pessoas no oriente antigo. Evidências deste fato é que as pessoas que contam estas histórias aparentemente não pensam nada do que os soldados israelenses estavam ordenados a fazer (especialmente se estas são lendas da fundação de uma nação). Ninguém estava com peso na consciência pelos soldados terem matado os cananitas; aqueles que o fizeram se tornaram heróis nacionais.

Além do mais, meu ponto acima retorna. Nada podia ilustrar para os israelitas a seriedade de sua chamada como povo escolhido de Deus somente. Javé não estava brincando com eles. Ele estava falando sério, e se Israel apostatasse, a mesma coisa aconteceria com eles. Como C. S. Lewis colocou, “Aslan não é um leão manso”.

Agora, como relacionar tudo isto a Jihad Islâmica? O islamismo vê a violência como um meio para propagar a fé muçulmana. O Islamismo divide o mundo em duas partes: a dar al-Islam (Casa da Submissão) e a dar al-harb (Casa da Guerra). A primeira são aquelas terras as quais têm sido adquiridas em submissão ao Islamismo; a última são aquelas nações que ainda não se submeteram. Assim é como o Islamismo verdadeiramente vê o mundo!

Em contraste, a conquista de Canaã representa o justo julgamento de Deus sobre aquelas pessoas. O propósito não era fazê-los se converterem ao judaísmo! A guerra não foi usado como um instrumento de propagação da fé judaica. Além do mais, o extermínio dos cananitas representou uma circunstância histórica incomum, não uma habitual forma de comportamento.

O problema com o Islamismo, então, não é que ele tem a teoria moral errada; é que ele tem o Deus errado. Se os muçulmanos pensam que nossas obrigações morais são constituídas de mandamentos de Deus, então eu concordo com eles. Mas os muçulmanos e os cristãos diferem radicalmente sobre a natureza de Deus. Os cristãos crêem que Deus é um Deus amoroso, enquanto os muçulmanos acreditam que Deus ama somente os muçulmanos. Alá não tem amor pelos incrédulos e pecadores. Então, eles podem ser mortos indiscriminadamente. Além do mais, no Islamismo, a onipotência de Deus supera tudo, inclusive sua própria natureza. Ele é então absolutamente arbitrário na sua conduta com a humanidade. Em contraste, os cristãos sustentam que a natureza santa e amorosa de Deus determina seus mandamentos.

A questão não é, então, de qual a teoria moral está correta, mas qual é o verdadeiro Deus?

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quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Deus, moralidade e o mal – parte 5 1


Traduzido e adaptado por Leandro Teixeira

Debate Craig-Nielsen:

Segunda Refutação do Dr.Craig



Argumento moral

Falemos novamente sobre se valores objetivos existem se Deus não existir. Eu não penso que Professor Nielsen respondeu minhas respostas adequadamente.

Eu sugeri primeiro que a distinção "propósito de vida / propósito em vida" não provê base alguma para determinar o valor moral do propósito em vida que nós escolhemos. Fica puramente arbitrário. E eu não vi nenhuma resposta àquele ponto.

Eu então disse que conduz ao relativismo moral e dei os exemplos de extraterrestres e estupro. A resposta dele é que nós só nos preocupamos com moralidade para seres humanos. Mas obviamente a ilustração dos extraterrestres é destinada a mostrar que isto é puramente relativo, que há nenhuma necessidade de uma afirmação objetiva de valor moral para seres humanos. Os extraterrestres simplesmente são uma hipótese para revelar aquele relativismo. Ele disse que se pudesse convencê-los de valores objetivos dizendo, " Você considera o ser humano" - e então ele se respondeu e disse, " Você considera degradação como uma coisa ruim?" Isso foi uma nota importante porque estes extraterrestres bem poderiam dizer, "Não, nós não consideramos a degradação humana ou o sofrimento como uma coisa ruim", não mais do que nós consideramos o sofrimento de mosquitos como uma coisa ruim. O ponto é que eu não posso ver qualquer base moral objetiva na qual estes extraterrestres devam estar interessados sobre como eles se comportam para os seres humanos. E Dr. Nielsen mais ou menos admite isto, então. Ele diz, "você não pode argumentar com eles. Você não pode provar isto a eles". E esse é exatamente o meu ponto. Não há nenhuma base objetiva para moralidade humana em uma visão de mundo ateísta. Eles não considerariam estupro como degradante, de forma que isto não ajudaria os convencer que degradação está errada porque no sistema moral deles não é degradante.

Dr. Nielsen diz, "Mas e sobre os mandamentos divinos?". E eu disse que estes estavam baseados na natureza de Deus. Ele não voltou naquele ponto.

Eu disse que ele confundiu a ordem de saber com a ordem de ser. Ele realmente não defende lá o ponto dele, mas ele diz, "eu tenho uma razão por que nós deveríamos ser morais". Ele diz, "é do nosso interesse ser moral." Eu realmente fui pego de surpresa por isto ter vindo dele. Este tipo de motivação puramente de interesse próprio para a moralidade é, penso eu, fatal à posição ateísta, porque para alguém que é suficientemente poderoso para não estar preocupado com o que os outros fazem, o interesse próprio só pode conduzir a um tipo de hedonismo auto-alimentado. Conduz ao tipo de vida de um Marcos, um Papa Doc Duvalier, um Mbbutu, e assim sucessivamente. Interesse próprio nunca poderá justificar uma moral de compaixão. E assim, eu penso que isso foi uma admissão fatal da parte do Dr. para a visão de mundo ateísta.

Ele diz, "Mas se não houver nenhum Deus, sofrer não continua sendo mal?" Não, eu não vejo por que deveria. Por que sofrimento humano seria mais mal do que qualquer sofrimento de ratos ou insetos é mal? Sem Deus como o padrão absoluto, eu não vejo que os valores humanos sejam diferentes do que estas outras adaptações biológicas.

Ele sugeriu que nós partimos de truísmos morais. Eu disse que você pode ter padrões diferentes, contraditórios, e eu não vi uma resposta a isso. Eu também disse que não há nenhuma razão para adotar o ponto de vista moral em qualquer condição, para o qual nós obtivemos esta fatal resposta do interesse próprio.

Deixe-me, além disto, só dizer que há um par de elementos da filosofia de Nielsen que é especialmente incompatível com o valor moral objetivo dos seres humanos. Primeiro seria o seu materialismo. Na visão do Dr. Nielsen, não há nenhuma distinção entre corpo e alma ou mente e corpo. Seres humanos não são essencialmente diferentes dos animais, de forma que não há nada neles além de substâncias químicas. Nós somos somente bolsas de água em esqueletos, em essência, - muito complexos, mas não há nada distinto do corpo material. Quando uma bomba destrói um ser humano, simplesmente rearranja os átomos que uma vez eram uma pequena menina.

Segundo, seria o determinismo de Nielsen. Derivando do seu materialismo está a sua negação do livre arbítrio. Porém, para ser moralmente significante, as escolhas têm que ser livres. Se nossas escolhas morais simplesmente são o resultado de estímulos que nós recebemos pelos cinco sentidos, então nossas escolhas morais são de nenhuma forma mais significantes que o crescimento de um galho em uma árvore.

Por último, o seu nominalismo. Ele nega que haja qualquer objetivo, tipo de padrão Platônico de valores morais. Mas valores morais claramente não são coisas físicas; assim eu não vejo de onde no mundo ele obtém os valores morais objetivos na sua metafísica.

Assim, nessas três áreas - seu materialismo, seu determinismo e o seu nominalismo, parece-me que não há simplesmente nenhuma razão para pensar que sem Deus há valor moral objetivo.

Imortalidade

Lembre-se dos pontos sobre imortalidade da mesma forma. Eu disse que não há nenhuma razão para adotar o ponto de vista moral porque todos nós morremos e terminamos o mesmo modo. Secundariamente, não há nenhuma base para abnegação no ponto de vista ateísta, e ele não respondeu isto ainda.

O Problema do mal

Ele disse algumas coisas sobre o problema do mal. Deixe-me só responder a este - primeiro, com respeito ao problema probabilístico do mal. A pergunta aqui não é se Deus é misterioso. Isso foi um erro de interpretação. Meu ponto era que, por causa de nossas limitações em espaço e história, nós podemos não ver os propósitos de Deus emergindo em nossa vida. Então nós não estamos em uma boa posição para calcular as probabilidades de por que Ele permitiu certo mal. Mas eu não vejo nenhuma base na visão ateísta por pensar que é improvável que Deus pudesse ter razões moralmente suficientes para os males que acontecem.

Por que, então, tanto mal acontece? Novamente, eu escreveria isto fora do livre arbítrio humano. Como para o sofrimento animal, isto é provavelmente devido simplesmente às leis da natureza – leis geológicas e meteorológicas que Deus colocou em ação. Mas lembre-se que quando os humanos sofrerem estes tipos de desastres naturais, eles serão recompensados na vida após a morte.

Meu tempo acabou, mas eu não penso que o debate aqui esteja focalizando o problema do mal. Parece-me estar focalizando dentro da área de valores morais objetivos sem Deus. E eu não vejo nenhuma esperança em colocar uma base moral objetiva para a afirmação de valores humanos além do próprio Deus.


O artigo original, em inglês, pode ser acessado aqui.

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Deus, moralidade e o mal – parte 4 0


Traduzido e adaptado por Leandro Teixeira

Debate Craig-Nielsen:

A Primeira Refutação de Dr. Nielsen



Valores morais sem Deus

Dr. Craig diz que se você usar a metodologia lógica que eu uso (e muitos outros filósofos morais também o fazem) terminaria em relativismo moral. Eu penso que isso é completamente questionável. Pegue o caso do estupro. Ele diz, "Suponha que para alguns seres extraterrestres, o estupro seja louvado por eles como uma coisa desejável." Isso poderia ser possivel. Primeiro, eu quero dizer uma coisa: a moralidade com a qual nós estamos preocupados é a moralidade para seres humanos com certas naturezas. Como o filósofo legal H. L. A. Hart disse, se nós cultivássemos exoesqueletos, nosso conceito de dano mudaria. Eu só estou interessado em moralidade para seres humanos, como nós os reconhecemos ou poderiam se tornar.

Dr. Craig diz, "Suponha estes seres extraterrestres, com concepções bastante diferentes de nós, viessem interagir conosco. Nós consideramos estupro como mal. (Pelo menos é o que nós dizemos. Eu espero que sim.) Mas eles não. O que poderíamos dizer nós?" É um exemplo perfeito para um argumento lógico. Eu poderia dizer a eles (assumindo eles falam a mesma linguagem), "Olhe, você considera sofrimento como uma coisa ruim? Você considera degradação humana - degradação de pessoas tais como vocês e os humanos - como uma coisa ruim?" Se eles disserem assim, eu posso mostrar de forma razoavelmente fácil para eles que a convicção sobre o estupro ser desejável é uma convicção enganada usando a metodologia padrão que eu mostrei. Eu posso lhes dar uma razão muito boa, não somente uma razão subjetiva. Suponha que eles digam, "Nós não vemos nada errado com sofrer. Nós não vemos nada errado com a dor ou com a degradação humana." Se eles disserem isto, então, como disse Wittgenstein, eu não posso “achar meus pés" com tais pessoas. Seria como pessoas em ciência que dizem que não prestariam atenção a uma experiência corretamente conduzida. Se você realmente tem pessoas que dizem isto, não há nada que você possa dizer a eles. Mas isto seria igualmente verdade para o crente. Você tem as pessoas que estão fora completamente do jogo moral, como nós o entendemos. Não há modo de argumentar com eles. Mas porque não há nenhum modo de argumentar com tal extraterrestre se eles tivessem aquela concepção - eles nem mesmo tem uma concepção de moralidade (da mesma maneira que a pessoa que não tem uma concepção de ciência e não presta nenhuma atenção a uma experiência bem dirigida), então Craig poderia dizer, "O que eles realmente estão perguntando é 'Por que ser moral?' E você, Nielsen ou qualquer ateu não pode dar uma resposta para 'por que ser moral?'"

Hobbes deu uma resposta muito direta: se nós os seres humanos não somos morais (a maioria do tempo pelo menos), a vida seria "sórdida, bruta e curta". Só isso. Moralidade pode não pagar em toda instância por todo indivíduo; egoísmo e moralidade às vezes podem conflitar. Mas se as pessoas geralmente não forem morais, as suas vidas seriam completamente miseráveis. Não é a única razão por ser moral, mas é uma razão - uma razão extremamente poderosa. É completamente objetiva e não tem nada que ver com crer em Deus e nem descansa em tal concepção problemática na crença em Deus.

Craig diz, "Dr. Nielsen, você pensa de alguma maneira que os seres humanos são a única fonte de valor moral." Eu não sei o que é a fonte de valor moral. Eu sei que nós, os seres humanos, nos preocupamos com certas coisas; nós avaliamos certas coisas. Nós podemos dar sentido a esses valores.

Ele pergunta, "Por que você pensa que estupro é errado? Ou por que você pensa que, se houver alguma catástrofe no mundo, você deveria ajudar as pessoas?" Bem, a resposta parece ser muito simples. Nós nos preocupamos uns com os outros. Nós amamos uns aos outros. Como nós fazemos isto? Nós viemos a fazer, se tivermos sorte, por meio de nossos pais ou certos tipos de interação social com outros seres humanos.

Ele diz que eu confundo a ordem de saber com a ordem de ser. Eu penso que ele se obriga a algo repetidamente, tal como a falácia genética. Eu não me preocupo como nós chegamos a estas coisas. O ponto é que nós consideramos amor e preocupação como coisas que são intrinsecamente valiosas. Se a pessoa tenta provar este valor intrínseco, a pessoa fica em círculos. Não há como provar.

Outro modo de olhar para isto é este: se Deus não existe, sofrer não seria mau? Se você acredita em Deus, e suponha que você esteja enganado nesta convicção - se não há nenhum Deus, sofrer ainda é mau; a felicidade e a compreensão e solidariedade humana ainda são boas. Isto mostra que você pode saber estas coisas e estas são boas. Elas não ficam boas porque Deus é bom. Elas são boas em si mesmas. Nós podemos reconhecer que estas são boas. (Ou se você não gosta do verbo reconhecer porque ele é muito cognitivo, nós podemos apreciar que estas coisas são boas.) Nós podemos ser mais confiantes nisto do que em qualquer convicção religiosa enigmática que tivermos, que são inacreditavelmente problemáticas quando olharmos para o mundo (particularmente o mundo atual). Há consenso sobre estas concepções morais subjacentes. Há consenso muito pequeno sobre convicções religiosas se você olhar além das placas.

Há grandes dissensões entre os crentes religiosos. Muitos crentes religiosos, distintamente os Drs. Craig e Plantinga, pensam que é tolice até mesmo tentar provar a existência de Deus. Eles pensam que isso é um completo engano, embora eles acreditem em Deus. Alguns têm concepções diferentes de Deus. Há outras religiões diferentes do Cristianismo. Alguns, como eu mostrei para você, nem mesmo têm uma concepção de Deus. Há um montante enorme de dissensões sobre isto - e sem chão claro para definir que é certo e que é errado. Por outro lado, a classificação de "truísmos morais" e o modo nós podemos usá-los para definir regras morais é mais objetivo do que aquele.

O Problema do mal

Deixe-me voltar ao problema do mal porque eu realmente não falei sobre isto. Eu te falei que eu não vejo por que, se eu não tiver alguma razão para acreditar em Deus, eu não poderia conjurar alguma razão. Eu poderia finalmente usar o que Craig fez primeiramente. "Deus é misterioso. Os poderes dele estão além de nossos poderes. Como nós poderíamos compreender os modos de Deus agir? Assim nós aceitamos o mal e concluimos que 'Deus sabe a razão.'" Sim, você pode fazer isto se tiver alguma razão para crer. Mas se você não tem qualquer razão antecedente para crer e olhar para o mundo que nós vemos (uma observação que Hume fez há muito tempo), você nunca concluiria que este mundo foi feito pelo Deus cristão. Você pensaria que algum tipo de deus aprendiz imperfeito o fez, se qualquer um fizesse. Só é porque você tem alguma outra razão para acreditar em Deus que você poderia pensar, "O problema do mal não contesta a existência de Deus". Não se houver estas outras razões. Não também porque você sempre pode falar sobre mistério.

Uma coisa que eu vi nos argumentos positivos dele foi onde ele disse, "Um das coisas cruciais para nós é o valor do conhecimento de Deus." É dito freqüentemente que o que é tão incrivelmente importante sobre o conhecimento de Deus e o conhecimento da natureza dele é que isto nos conduz a uma crença em uma vida de felicidade eterna. Eu não vejo nada tão intrinsecamente valioso no conhecimento de Deus. É porque crer em Deus nos conduz a uma oportunidade de vida eterna que parece desejável, e isso nos devolve a felicidade ou algo muito parecido com felicidade.

Deixe-me colocar isto deste modo. Talvez Deus não pudesse ter evitado criar um mundo em qual haveria mal porque ele precisou nos permitir algum sentido de liberdade. (Isto foi declarado no segundo argumento.) Se nós não fôssemos livres, se nós não pudéssemos fazer o mal, então nos faltaria uma qualidade essencial do ser moral. Assim um Deus bom, todo poderoso, onisciente não poderia criar um mundo que fosse perfeitamente bom. Ele não poderia ter feito o homem perfeitamente bom. Isso assume que só um tipo de análise de livre arbítrio está correto e nenhuma análise compatível poderia ser aceita. Isto não é óbvio. Mas deixaremos assim. Até mesmo se Deus não nos pudesse ter feito seres perfeitos e ainda nos permitisse ser livres, por que ele nos fez como suínos? Nós realmente fazemos coisas perfeitamente terríveis neste mundo. Como isto é possível para um Deus que é todo poderoso, onisciente e bom? Por que tanto mal? Eu concedo que pudesse haver um pouco de mal, mas por que tanto? Então você recorreria à primeira observação – “Deus é totalmente misterioso”. Uma vez dito isto, você pode evitar todo o argumento: “Os caminhos dele não são os nossos caminhos". Você pode dizer isto, mas não vai me convencer ou qualquer pessoa que não acredita na existência de Deus.

Em segundo lugar, que falar sobre o sofrimento animal? O que dizer sobre o sofrimento de filhos deformados que não têm nenhuma capacidade para agir justamente ou injustamente? Eles sofrem inacreditavelmente. Animais sofrem inacreditavelmente neste mundo. Por que um Deus bom e todo poderoso permite isso? Além disso, por que Deus criou os seres humanos (ou o mundo) como um todo? Para adorá-lo? Isso parece uma razão bem egoista.


O artigo original, em inglês, pode ser acessado aqui.

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Deus, moralidade e o mal - parte 3 0


Traduzido e adaptado por Leandro Teixeira

Debate Craig-Nielsen:

Primeira Refutação de Dr.Craig

Em minha primeira fala, eu defendi três teses relativas ao problema do mal. Dr. Nielsen não se preocupou em discutir os dois primeiros ou, de certo modo, até mesmo o terceiro (que refere-se que a evidência total da existência de Deus é provável). Mas ele discute meu argumento moral para a existência de Deus.

Argumento moral

Eu discuti:

1. Se Deus não existir, então valores morais objetivos não existem.

2. Mal existe.

3. Então, valores morais objetivos existem.

4. Então, Deus existe.


Vejamos como ele discorda deste argumento e veja como rebato as objeções dele.

Primeiro, ele sugere que nós podemos dar sentido às nossas vidas moralmente até mesmo se nós não acreditarmos em Deus. Nós podemos ter um propósito na vida até mesmo se não houver nenhum propósito para a vida. Agora eu tenho duas respostas a isto.

Em primeiro lugar, eu nunca neguei que o senhor possa ter propósitos subjetivos na vida, mas o que eu estou discutindo é que não há nenhuma base objetiva para assumir o valor moral de seu propósito na vida em uma visão ateística. Todos os propósitos na vida que você escolhe são moralmente iguais - se você quer viver uma vida como um médico que se preocupa com os pobres ou escolhe, ao invés disto, ser um Ferdinand Marcos. Não há nenhuma base objetiva por avaliar o valor moral desses propósitos.

Professor J.P. Moreland, no seu debate com Dr. Nielsen intitulado “Deus Existe?”, colocou isto muito bem. Ele escreve,

A natureza radical da tese de Nielsen. . . é que se não há nenhuma verdade moral a ser descoberta e se eu tenho simplesmente que escolher o ponto de vista moral porque aquele tipo de vida é o que eu acho que vale a pena para mim, então a decisão é arbitrária, racionalmente falando. E a diferença entre, digamos, Madre Teresa e Hitler está aproximadamente igual à diferença entre tocador de trompete ou um jogador de beisebol. Há nenhum fator racional ou verdade no assunto em jogo.{9}

Em segundo lugar, isto conduz a um relativismo moral, como eu expliquei. Pense na prática hindu de queimar viúvas vivas. No sistema ético deles isto está certo. Em que base objetiva esta prática pode ser condenada como injustiça simplesmente porque nós não compartilhamos dela no Oeste democrático? Ou, para usar outro exemplo provido por Michael Ruse. Ele, em uma composição intitulada "Estupro é Errado em Andrômeda?", pergunta se estupro estaria errado ou não para uma raça inteligente em algum outro planeta. E ele diz, "Não necessariamente!" Ele escreve, "Nós não podemos assumir automaticamente que extraterrestres pensariam que estupro é imoral". Por quê?

Porque embora a imoralidade do estupro seja uma constante humana, nós não podemos assumir assim que seria uma constante para outros organismos incluindo organismos inteligentes extraterrestres. Certamente se nós olharmos em outro lugar no mundo animal, nós veremos que atos que se parecem muito com estupro acontecem em uma base regular. Além disso, há boas razões biológicas por que este tipo de comportamento freqüentemente acontece. Se um animal macho está preparado para tentar estuprar numa ocasião, então é mais provável para ele se reproduzir do que caso contrário {10}.


Agora isto levanta duas perguntas muito problemáticas:

(1) como este extraterrestre (que considera que o estupro é moral) deveria se comportar para nós? Suponha que eles são suficientemente semelhantes a mamíferos ao ponto de poder copular com fêmeas humanas; e suponha que eles vieram a terra e começaram a estuprar ao longo da terra. Se nós protestássemos, "Mas nós, os humanos, não pensamos que seja certo!" Eles responderiam, "Sua moralidade é um produto efêmero do processo evolutivo, da mesma maneira que são suas outras adaptações. Não tem nenhuma existência além disto e qualquer significado mais profundo é ilusório." Na realidade, suponha que estas criaturas eram tão superiores a nós como nós somos ao gado e aos cavalos, e eles decidiram cultivar a terra para nos usar como comida ou trabalhando como animais. O que você poderia dizer para mostrar que o que eles estão fazendo está moralmente errado? Eles têm o seu próprio sistema coerente de moralidade. Por que eles deveriam adotar o ponto de vista humano? Na visão ateística, eu não posso pensar em qualquer razão por que os seres humanos deveriam ser considerados como a fonte de todo o valor moral objetivo.

(2) o segundo que pergunta problemática que levanta é, "Por que eu não deveria estuprar se eu acho isto certo? Extraterrestres fazem isto. Animais fazem isto. É biologicamente vantajoso. Por que eu não deveria fazê-lo?” Na visão ateística, eu não posso ver nenhuma resposta a esta pergunta. Nós podemos ter sentimentos, como seres humanos, que estupro é errado, mas no ponto de vista do evolucionista moderno, este é simplesmente um mecanismo de adaptação biológica inculcado em nós por milhões de anos de evolução biológica e social. Não há nenhuma razão para considerar estes valores como absolutamente certos ou errados.

Desta forma, me parece que não é suficiente falar sobre haver estes truísmos morais, como o Dr. Nielsen faz. Ele diz, "Nós justificamos nossos truísmos morais os reunindo em um padrão coerente." Isso significa que você pega seus sentimentos morais - as intuições que você tem - e tenta colocá-los em um pacote que é internamente consistente, que faz sentido.

Mas há duas coisas erradas com isto. Primeiro, o que dizer sobre alguém que tem um pacote coerente de valores mutuamente exclusivos dos seus? Pense no extraterrestre ou nos hindus antes de colonização britânica. Você pode ter sistemas morais coerentes que são incompatíveis. Na visão dele, não há nenhum modo para julgar o que é certo ou errado. De fato, realmente não há nenhuma verdade sobre qual uma coisa é certa ou errada. E em segundo lugar, por que adotar um ponto de vista moral? Por que não simplesmente ser niilista e assumir, como Ruse e Mackie o fazem, que estes sentimentos morais que nós temos simplesmente são os produtos de evolução biológica e social? Assim Nielsen realmente não pode justificar as suas convicções morais. Ele tem estas intuições morais e eu disse em minha primeira fala que certamente sem Deus nós podemos construir sistemas de moralidade. Nós podemos reconhecer valores morais objetivos sem Deus. Mas o que nós não podemos fazer, eu penso, é afirmar consistentemente que os seres humanos retêm valor moral objetivo na ausência de Deus.

Agora Nielsen responde neste momento, "Mas veja, que base você, crente cristão, tem para afirmar valores morais objetivos? Se você diz que é há somente mandamentos divinos, isso é arbitrário." Eu não diria que está baseado em mandamentos divinos. Eu diria que está arraigado na natureza de Deus, o qual Platão chama de "o Bom." Está arraigado no caráter de Deus. Mas Dr. Nielsen diz, "Mas você ainda tem que julgar aquele Deus então é bom. Como você sabe que Deus é bom?" Aqui eu penso que ele está claramente confundindo a ordem de saber com a ordem de ser. Para reconhecer que Deus é bom, eu terei que ter um pouco de conhecimento anterior do que o bem é para ver que Deus é bom. Mas isso não afeta o fato que, na ordem de ser, os valores derivam a suas fontes de Deus. Ele está confudindo a ordem de saber com a ordem de ser. Simplesmente porque você pode reconhecer valores morais sem convicção em Deus, você não pode deduzir disto que valores morais objetivos podem existir sem Deus. Assim eu diria que nós temos intuições morais fundamentais. Na realidade, a Bíblia diz que Deus plantou estes no coração de toda pessoa humana de forma que nós intuitivamente reconhecemos valores morais objetivos. Estes valores são ontologicamente arraigados no ser e natureza do próprio Deus.

Imortalidade

Finalmente, ele toca no assunto da imortalidade e diz, "Morte não arruina os valores morais. Na realidade, as coisas que nós damos valor ficam mais preciosas ainda". Bem, em um sentido ele tem razão. É a ausência de Deus que arruina a objetividade de valores morais, não a morte. Mas suponhamos que haja valores morais objetivos. O que seria arruinado pela falta de imortalidade? Eu penso duas coisas.

Primeiro, eu penso que não haveria nenhuma razão para adotar o ponto de vista moral. Considerando que você vai morrer, todo o mundo termina da mesma forma. Não faz nenhuma diferença se você vive como um Hitler ou uma Madre Teresa. Não há nenhuma relação entre sua vida moral e seu último destino. E assim naquele sentido, a morte arruina a razão tanto para adotar o ponto de vista moral tanto para ser um egoísta e viver para seu ego.

Segundo, não há nenhuma base para abnegação neste ponto de vista. Por que deveria um ateu, que sabe que tudo vai terminar em morte, fazer coisas que são moralmente certas, indo contra o egoísmo? Por exemplo, alguns anos atrás houve um terrível desastre aéreo, durante o inverno, em Washington, DC, quando um avião colidiu com uma ponte que atravessa o Rio Potomac, jogando seus passageiros nas águas geladas. E como os helicópteros vieram salvar estas pessoas, a atenção focalizou-se em um homem que passava sua vez, várias e várias vezes, deixando a segurança dele. Sete vezes ele fez isto e quando eles vieram novamente, ele tinha sumindo. A nação inteira atentou para este homem, em respeito e admiração pelo ato nobre de abnegação que ele tomou. Mas na visão ateística, aquele homem não era nobre. Ele fez a coisa mais estúpida possível. Ele deveria ter ido primeiro pela escada de corda, repelindo os outros, se necessário para sobreviver! Mas renunciar toda a breve existência que ele teria por outros que nem mesmo conhecia? Por quê? Parece-me, então, que não simplesmente a ausência de Deus arruina valores morais objetivos, mas o viver eticamente também é arruinado pelo ponto de vista ateístico porque você não tem nenhuma razão para adotar o ponto de vista moral, e então não terá nenhuma base para atos de abnegação.

Por contraste, na visão cristã onde você tem Deus e imortalidade, há as pressuposições necessárias para a afirmação dos valores morais objetivos e para viver consistentemente uma vida ética.


Notas

{9} J. P. Moreland e Kai Nielsen, Deus existe? (Nashville: Thomas Nelson, 1991), pp. 117.

{10} Ruse, " Estupro é Errado em Andrômeda?" pp. 236-237.


Artigo original em inglês aqui.
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Deus, moralidade e o mal - parte 2 0


Traduzido e adaptado por Leandro Teixeira

Debate Craig-Nielsen:

Considerações Iniciais do Dr. Nielsen

Eu estou bastante desnorteado sobre como faremos isto. A forma que Dr. Craig define o problema sobre o qual nós vamos nos preocupar esta noite é muito diferente da forma que eu farei - e não porque eu sou um ateu e ele é um crente cristão, mas nós vemos o problema de perspectivas muito, muito diferentes, independentemente disso.

O Problema do mal

Dr. Craig, lendo meus escritos (me sinto honrado que ele os tenha em alta estima), poderia ter refletido no fato de que eu nunca discuti o problema do mal, ou, se eu faço, só incidentalmente. Eu não me lembro de ter discutido isto detalhadamente. E a razão por que eu não faço isto é porque, ao contrário de muitos ateus, e ao contrário do Dr. Craig, eu nunca pensei que o problema do mal seja o maior obstáculo para a crença em Deus. Eu penso que algumas das razões ou provas independentes para acreditar em Deus - ou por via de revelação ou aceitando certas coisas em fé - que Plantinga ou que algum outro trouxer (entretanto não estou particularmente convencido do tratamento do Dr. Craig acerca destes problemas), você pode se iludir acerca das premissas, modificando-as de uma maneira ou de outra. Como o grande lógico Quine diz, modificando certas premissas de uma grande inconsistência ou alegada inconsistência de certo modo, você normalmente pode evitar esta inconsistência.

Da Idade Média em diante, os teólogos cristãos acharam modos de dissolver ambos os problemas probabilísticos e lógicos do mal no mundo em vários graus de satisfação e não totalmente improváveis. Para mim, não há um problema da solução do mal. O mal, como disse Dr. Craig, está aí, inevitável, inescapável. A pergunta é como você o ataca, como você o minimiza, como você luta contra isto. Para o ateu, não há tal coisa como o problema do mal. Há somente mal no mundo, contra o qual nós lutamos eternamente, e só.

Valores morais sem Deus

O meu problema, e talvez aí seja onde nós começamos nos encontrar, é que você pode, de um modo perfeitamente racional, dar uma concepção de valores objetivos. Que significado "valores absolutos" tem eu não sei, mas o senso de " valores morais justificáveis e objetivos", pode ser dado independentemente de qualquer compreensão de Deus ou crença em Deus ou assemelhados. Agora Craig não se preocupou com este problema, mas muitos cristãos - particularmente cristãos fideístas – o fazem. Muitos cristãos ficam ansiosos em saber da existência de Deus ou provar sua existência. Eles são muito desconfiados, e eu penso que há boas razões para isto. Há uma forte e difundida tendência (eu penso em Kierkegaard ou Haman ou Pascal) entre a elite intelectual e outras pessoas acreditar que em um mundo sem Deus, nada importa. (É coisa de Nietzsche.) Em um mundo sem Deus, tudo é permitido; nossas vidas serão fragmentadas e sem sentido. Nossa própria moralidade será sem sentido. Nós não podemos saber se qualquer coisa é boa ou ruim. E assim, eles se sentem pressionados a postular a existência de Deus para resolver este problema.

O que eu quero dizer a esses seus que são céticos sobre a existência de Deus é que você não precisa nada disso. Você pode fazer perfeitamente dar um bom sentido para sua vida e suas convicções morais sem crer em Deus. Talvez Deus exista; talvez não. Talvez nós possamos provar que ele existe; talvez não. Eu penso que nós não podemos. Eu nem mesmo penso que o conceito de Deus é muito coerente, por não ser antropomórfico. Mas talvez eu esteja errado sobre isso. É tudo o que farei esta noite. Eu permitirei que você possa provar a existência de Deus - algo que eu não acredito no momento. Eu considerarei que o conceito de Deus é coerente. O que eu quero tentar convencer você é que, com ou nenhum Deus, você pode dar sentido a sua vida sem crer na sua existência.

Agora, como eu disse, algumas pessoas acreditam que se Deus estiver morto, nada importa e nossas vidas serão fragmentadas. Eu sei que algumas – na verdade, muitas - pessoas acreditam nisso. Mas algumas pessoas acreditam que em algumas culturas isto não seja necessário. Por exemplo, nós sabemos que há umas poucas religiões antigas e distintas do Judaísmo, Cristianismo e Islã - por exemplo, Budismo - com muitos partidários que não têm nem Deus nem adoração. Os budistas, até onde eu posso ver, podem dar sentido às suas vidas e achar um senso de valor objetivo. Até mesmo dentro de nossa cultura, enquanto muitas pessoas sentem que não podem dar sentido às suas vidas sem Deus, muitas conseguem, como eu. Elas não são somente da elite intelectual, mas pessoas comuns em várias culturas. No Canadá e nos Estados Unidos, as pessoas são muito dependentes de Deus. Na Islândia e na Dinamarca, as pessoas acham isto muito estranho. (Tem algo a ver com o nível de riqueza e educação da sociedade). Você pode achar que não pode dar sentido à sua vida sem Deus, mas muitas pessoas o fazem.

Mas agora eu quero mudar de assunto, de uma observação sociológica para uma observação moral e conceitual. Mesmo que você se sinta desta forma, eu quero tentar começar a persuadir você de que você não precisa se sentir desta forma. A primeira coisa que você deveria reconhecer é que pode haver propósitos na vida perfeitamente intactos mesmo se não houver nenhum propósito para viver. Se não houver um Deus ou divindades de qualquer tipo, não há nenhum propósito para a vida; você não foi feito com um propósito. Mas até mesmo não sendo feito com um propósito, você poderia achar muitos propósitos na vida, dar valor às coisas, tê-las, acreditar e lutar por elas. Algumas pessoas religiosas dirão, "Isso é certo para pequenos propósitos individuais, mas você não pode ter nenhum propósito nobre na vida sem crer em Deus. Você pode ter coisas bem pouco triviais, mas não realmente uma profunda e penetrante concepção de um propósito na vida sem Deus". Mas isso não é verdade. Há muitos ateus que tiveram tais propósitos nobres. Eles combateram "a pestilência" (usando a metáfora de Camus) implacavelmente. Eles buscaram minorar a soma total do sofrimento humano, da degradação humana, das esperanças destruídas; eles buscaram positivamente trazer um mundo com mais felicidade nele e entendendo mais um ao outro - florescendo mais humano, uma solidariedade mais humana, uma fraternidade e irmandade. Em resumo, eles buscam trazer um mundo sem classes, sem raças, sem gêneros. Esses grandes propósitos - propósitos nobres na vida - são perfeitamente disponíveis para qualquer um que seja ateu como também para alguém que seja teísta. Eu não nego que os crentes não fazem isto também, mas você não precisa de Deus para ter quaisquer propósitos, pequenos ou nobres, na vida.

Alguém poderia dizer, "Oh, isso está certo, mas o ateu realmente não tem qualquer fundamento, base ou chão para fazer isto, enquanto o crente tem". Bem, há duas linhas (nenhuma de que Dr. Craig mencionou) que tipicamente tentam mostrar que o crente tem uma base que o ateu não tem. Uma, particularmente popular em círculos protestantes, diz que algo é bom ou ruim se Deus delega mandamentos ou ordenações. Se Deus comanda ou ordena, é obrigatório, ou bom, ou desejável. Se ele proibir, está errado. Esta é chamada de a "teoria do mandamento divino".

A primeira coisa para se ver [sobre este fato] é que algo mandado não faz [isto] bom ou ruim. Eu poderia te falar, se todos vocês fumassem aqui, "Deixe de fumar", ou se nenhum de vocês estivesse fumando, eu poderia dizer, "Acenda um". Meu comando, até mesmo se eu tivesse a autoridade para mandar, não justifica o comando. Tem que ser alguma razão independente para fazer o comando. Não é só meu comando que é assim. Assim, [o fato] de que algo é ordenado não o faz desejável ou indesejável, obrigatório ou não-obrigatório. Alguém dirá, "Mas é Deus quem está comandando, e isto faz toda a diferença." Ledo engano. Não é porque Deus é todo poderoso que faz algo ser desejável, ou bom, ou ruim. Quando Deus disse "Onde você estava quando eu pus as fundações da terra?" tudo o que Deus mostra é seu poder. Mas o poder é compatível com mal. Se um ser é poderoso não significa que você deveria obedecê-lo, exceto por medo. Não dá uma razão moral para obedecer ao ser.

"Mas Deus é onisciente; ele tem conhecimento perfeito [considerando que] nós não” o que é, por definição, verdadeiro. Se houver tal Deus, isto não dá a você nenhuma razão para obedecer, porque conhecimento perfeito é compatível com o mal perfeito. "Bem, é porque Deus é bom". Agora eu pergunto aos cristãos, "Como você sabe que Deus é bom?" Eu sei que você acredita, você aceita, mas como você sabe? Provavelmente, a resposta mais comum é isto: "Bem, você lê a Bíblia e vê o tipo de exemplar que o Jesus era, a morte dele na cruz, e assim por diante". Você esquece-se de coisas como "quem não está comigo está contra mim". Mas lendo a Bíblia seletivamente, há muitas passagens nas quais Jesus mostra ser um exemplar incrível. Mas note que para ver que ele já é que um exemplar pressupõe que você tem um entendimento anterior do que é bom e ruim. Porque você tem uma compreensão do que é bom e ruim, você vê Jesus como um ser exemplar desejável. Assim você tem uma compreensão moral e conhecimento independentes que não descansam em sua crença em Deus.

Suponha que alguém diga, "Olhe, Deus é por definição o Bem perfeito". Alguns filósofos chamavam isto de verdade analítica - como "Filhotes de cachorro são cachorros jovens". Mas se você não soubesse o que "jovem" significa, você poderia nem mesmo saber que "filhote de cachorro" significa. Se você não soubesse o que "bem" significa, você não poderia nem mesmo saber o que "Deus" quer dizer. Você tem que ter um pouco de compreensão de "bem" para julgar que Deus é o Bem perfeito. Novamente, você precisa de um critério moral que é seu próprio e não vem de Deus. Pode vir causativamente de Deus, mas não entra em um senso justificatório, que é a coisa pertinente quando se discute sobre moralidade.

Se você pensa que isto é muito sofisma--ou quase sofisma (e a coisa é realmente mais complexa que eu pude mostrar), deixe-me dar a você uma razão mais simples para ver que crer em moralidade e dar sentido de moralidade é independente da crença em Deus. Suponha que você acredite em Deus e que tenha filhos; você reconhece que seus filhos dependem de ti, e há certas coisas que você lhes deve - proteção, cuidado e amor. Você ama seus filhos; quer protegê-los e gosta deles. Mas você também é um crente. Suponha que - por boas ou más razões - você perde sua fé. Você tem alguma mínima razão para deixar de amar seus filhos, deixar de gostar deles, deixar de protegê-las? Nem um pouco. Se você teve razão para se preocupar para e amar suas crianças antes, você continuará a ter muita razão depois que você perdesse sua fé. E enormemente simples mostrar como a moralidade é bastante independente da religião.

Ainda suponha que alguém me pressione: "Que tipo de bases para valores morais objetivos você tem? Não é tanto o que nós queremos dizer por valores de moral objetivos, mas que tipo de base nós poderíamos ter para reivindicá-los. Como você prova ou estabelece que algo seja bom ou mal, certo ou errado?" Isso é um problema que é igualmente um problema para o crente e o não-crente. A teoria do mandamento divino não funciona. Agora a outra teoria que é usada, principalmente pelos católicos e círculos anglicanos (mas não exclusivamente), é apelar à "lei moral natural". A lei moral natural é algo que é implantado presumivelmente em nossos corações. Agora eu estou perfeitamente preparado para dizer que, embora eu não pense que isto seja uma lei ou que emana de Deus ou que não haja excessões, há muitos truísmos morais. Eu não estou desacreditando-os chamando-os de truísmos morais. [Eles são] coisas tais como "sofrimento desnecessário é uma coisa ruim"; "estupro é ruim", enquanto "manter suas promessas é bom"; "integridade é boa"; "verdade é algo a ser valorizado". Coisas deste tipo, que eu chamo de truísmo moral, são pensadas freqüentemente como parte da lei moral. Elas estão disponíveis tanto para mim ou para qualquer ateu quanto aos crentes. Agora o que você faz na forma de justificá-los é iniciar com estes truísmos morais; você pode ser mais confiante na correção ou, se você quiser, na verdade {7} destas expressões morais; [quer dizer,] eles estão justificados. Eles estão mais justificados do que qualquer teoria filosófica cética - J. L. Mackie ou outro qualquer a quem você questionasse. O que você faz do modo de justificação é o que o filósofo Rawls chama de tentar obter suas convicções morais dentro do "equilíbrio reflexivo amplo". Você inicia com estes truísmos morais - as coisas em que você mais confia - e os coloca junto com tudo você conhece do mundo (por exemplo, sobre a natureza humana, sobre a sociedade), com todo pedaço de conhecimento que você possui; e você obtém um padrão coerente. [Então] você obtém este padrão coerente; um tipo de acordo intersubjetivo sobre o que fazemos (ou o menos discutível que fazemos).

Mackie trata o problema dos valores objetivos como algum tipo de pergunta ontológica. Não precisa ser uma pergunta ontológica. É uma pergunta sobre se certos valores morais são racionalmente aceitáveis. Essa é a pergunta crucial – tal pergunta crucial não é sobre o significado de verdade (Tarski definiu - ou se não foi Tarski, Davidson, para falar um jargão técnico por um momento), mas como você justifica certas reivindicações ser verdade e você os justifica rigidamente neste molde coerente. Você faz exatamente isto com valores morais como com qualquer outro tipo de valores. E valores morais são tão objetivos, até onde eu posso ver, quanto concepções científicas e são justificadas do mesmo modo. Não há nenhuma razão para ter um tipo profundo de ceticismo niilista. Nietzsche é uma boa diversão quando você é adolescente, mas há nenhuma razão para pensar que, de alguma maneira, sem Deus, o niilismo está se aproximando a nossa porta. Isso é puro romanticismo; é o ateísmo que é tomado da linha suja da religião (e muitos ateus fazem isso). Não são todos os ateus subjetivistas como Ardil ou como Mackie; alguns são, mas muitos deles não.

Assim eu indiquei a você um modo que você pode dar sentido à sua vida moral e dar um fundamento coerente para os valores morais, independentemente da existência ou não de Deus.

Imortalidade

Suponha que alguém me diga, "Mas uma coisa, Nielsen, se você é um ateu, uma das coisas que você vai ser é um negador da imortalidade{8}. Se ao final, a morte é seu [último] destino, então isto não arruinaria todos os nossos valores?" Não, eu digo - só o inverso. Se algo como o amor entre as pessoas é importante, acabar na nossa morte faz aquele amor ainda mais importante, porque é finito, porque se acaba. Da mesma forma isto é verdadeiro para a felicidade ou até mesmo a realização de seus projetos e assemelhados. Seria agradável se houvesse alguma razão para acreditar em nossa imortalidade. Até onde eu posso ver, não há a mais leve razão para acreditar nisto.

Assim eu acredito que você pode dar um sentido para os valores objetivos sem invocar Deus. E se você puder operar com uma concepção mais simples, então opere com uma concepção mais simples. Não multiplique concepções ou entidades além do necessário.



Notas

{7} Eu não gosto de usar a palavra “verdade” com respeito à ética puramente por razões técnicas, mas tem um perfeito sentido inofensivo se você disser que expressões morais são verdadeiras. Só que eu não quero falar sobre algum tipo de correspondência que ninguém entenda – particularmente em consideração a moral e expressões matemáticas.

{8) Ainda que não seja estritamente verdadeiro, um famoso ateu acreditou na imortalidade – J.M.E McTaggart. Mas eu penso que é bastante tolo, de uma forma ou outra. A maior parte dos ateus não acredita em imortalidade.


O artigo original em inglês pode ser encontrado aqui.

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sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Satanás pode ou não prejudicar os filhos de Deus? 2

Satanás pode prejudicar ou não os filhos de Deus


Certa vez Jesus disse a Pedro "Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo" (Lc 22:31). Mas João, em 1Jo 5:18 , afirma que "mas o que de Deus é gerado conserva-se a si mesmo, e o maligno não lhe toca". Como resolver esta aparente contradição?

Primeiramente, não há nenhuma indicação de que Satanás realmente prejudicou Pedro. Jesus simplesmente declarou que Satanás pediu permissão para fazer isto.

Segundo, como foi no caso de Jó, Satanás não faz nada a um crente que Deus não tenha permitido, porque Deus "faz uma cerca ao redor dele" (Jo 1:10).

Terceiro, tecnicamente falando, há uma diferença entre "peneirar trigo" (crentes) e destruí-los. Deus pode permitir o primeiro, mas Ele nunca irá permitir que Satanás faça este último com um de seus filhos: "Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor" (Rom 8:38-39).

Fontes consultadas:
  • Bíblia Almeida Corrigida e Fiel
  • Geisler, Norman - When Critics Ask - A Popular Handbook On Bible Difficulties
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sábado, 17 de novembro de 2007

O Dilúvio foi local ou global? 13

O Dilúvio foi local ou global?

Por Hugh Ross, Ph.D.

Traduzido e adaptado por Leandro Teixeira.

O texto original pode ser acessado aqui.

Talvez o aspecto mais controverso do Dilúvio de Gênesis seja a sua extensão geográfica. Parte da base para a controvérsia é que Gênesis só trata secundariamente a geofísica, a geologia e geografia do Dilúvio. Sua mensagem principal é que Deus foi compelido a limpar a Terra da maldade do homem. A mensagem do julgamento de Deus contra o mal excessivo é muito claramente declarada e compreendida em qualquer tradução. Contudo, para compreender os detalhes geológicos relativos ao Dilúvio, é útil, talvez neste caso essencial, ler o texto de Gênesis no hebraico original, e mesmo assim o texto nem sempre é tão específico quanto alguém poderia gostar.

Uma boa regra de interpretação Bíblica é analisar o que é menos específico na luz do que é mais específico. Como eu mencionei na parte sete desta série, a Bíblia é muito específica sobre a extensão da corrupção do pecado do homem e sobre a resposta de Deus. A corrupção é limitada aos pecadores, a sua descendência por várias gerações, pássaros e mamíferos que fazem parte do seu sustento, os seus bens materiais e a sua terra agrícola. Em nenhuma parte da Bíblia nós vemos Deus aplicando julgamento além desses limites. Conseqüentemente, nós podemos esperar que se o ser humano nunca tivesse visitado a Antártica, Deus não teria atingido aquele território. A extensão do Dilúvio de Gênesis seria limitada à extensão da corrupção do pecado do homem. Esta interpretação é apoiada pela escolha do autor de Gênesis das palavras hebraicas para as criaturas destruídas pelo Dilúvio, isto é, basar e nephesh. Adiante, a parte sete dará mais detalhes.

Em Gênesis 7:4-12 somos informados que o Dilúvio surgiu da troposfera da terra e de lençóis de água subterrâneos (não de algum lugar desconhecido no espaço exterior). Estes recursos de água são consideráveis, seguramente, mas é pouco pelo que o versículo 19 parece requerer. De acordo com Gênesis 7:19, " E as águas prevaleceram excessivamente sobre a terra; e todos os altos montes que havia debaixo de todo o céu, foram cobertos." A tradução parece insinuar que o Mt. Everest foi submergido pelas águas do Dilúvio. A palavra hebraica para "alto", contudo, simplesmente significa “elevado" e "monte" significa qualquer coisa de "uma pequena montanha pequena" até "um cume muito alto." O verbo hebraico para "coberto" permite três alternativas: (1) inundado, (2) choveu em ou (3) arrastar por uma torrente de água. Em quaisquer destes casos, 15 cúbitos (cerca de 7,5m) de água por inundação, 15 cúbitos de chuva súbita, ou uma torrente de 15 cúbitos de água, não haveria nenhum sobrevivente humano ou animal.

Gênesis 8 nos dá a prova mais significativa para um universal (com respeito ao homem, seus animais e terras), mas não global, Dilúvio. Os quatro verbos hebraicos diferentes usados em Gênesis 8:1-8 descrevendo o retrocesso das águas do Dilúvio indicam que estas águas voltaram às suas fontes originais. Em outras palavras, as águas do Dilúvio ainda se encontram dentro dos lençóis de água subterrâneos, troposfera e oceanos do planeta Terra. Como o conteúdo total de água da Terra é só 22 % do que seria necessário para um Dilúvio global, aparentemente o Dilúvio de Gênesis não poderia ter sido global.

O argumento que eu mais freqüentemente ouço contra esta conclusão é que antes da Dilúvio não havia nenhuma montanha alta ou oceanos fundos. O relevo atual da superfície da Terra foi gerado por um período de só alguns meses. Eu vejo vários problemas principais com tal uma sugestão:

1. contradiz um corpo vasto de dados geológicos;

2. contradiz um corpo vasto de dados geofísicos, ao mesmo tempo requerendo tais efeitos cataclísmicos tornariam a sobrevivência de Noé em uma arca altamente improvável;

3. negligencia as dificuldades geofísicas de um planeta com uma superfície lisa; e

4. contradiz nossas observações da tectônica. Os mecanismos que dirigem os movimentos das placas tectônicas têm constantes de tempo extremamente longas, tão longas que os efeitos de tal catástrofe seriam facilmente mensuráveis hoje em dia. Considerando que eles não são, eu concluo que o Dilúvio não pode ser global.

Quanto à referência "debaixo de todo o céu", tal expressão deve ser entendida sempre no contexto deles. O que constituiria “debaixo de todo o céu” para as pessoas do tempo de Noé? A extensão da sua visão da região inteira na qual eles existiram ou operaram. Talvez um versículo do Novo Testamento esclareça meu ponto. Em Romanos 1:8, o Apóstolo Paulo declara que a fé dos cristãos em Roma “estava sendo anunciada no mundo inteiro”. Uma vez que "no mundo inteiro" para os romanos significava o Império Romano inteiro (e não o globo inteiro), nós não interpretaríamos as palavras de Paulo como uma indicação que o Esquimós e os Incas estavam familiarizados naquele momento com as atividades da igreja em Roma.

Favorecendo apoio para um regional, em lugar de global, cataclismo, vem a razão do mandamento de Deus a Noé antes do Dilúvio, o mesmo mandamento que Ele havia dado a Adão e depois havia dado às pessoas que construíram a torre de Babel: "Encha a terra." O fato de Deus repetir este mandamento a Noé (e intervir dramaticamente para dispersar as pessoas do dia de Babel) insinua que as pessoas da geração de Noé não haviam enchido a terra. Esta visão é consistente com os nomes geográficos de lugar registrados nos primeiros nove capítulos de Gênesis. Todos eles ou recorrem a localidades dentro ou muito perto da Mesopotâmia.

O que os dados geológicos nos falam sobre inundações volumosas na história da Terra? As evidências nos mostram que o único lugar no mundo onde uma inundação volumosa ocorreu desde o surgimento do homem moderno é a região da Mesopotâmia.

O relato de Gênesis acerca do grande Dilúvio não é um embaraço para o cristão. Nós não somos postos em uma contradição entre os fatos estabelecidos da ciência e as palavras da Bíblia. Antes, nós temos mais um conjunto de provas objetivas que a Bíblia realmente é inerrante, não apenas em questões de fé e pratica, mas em todas as disciplinas inclusive geologia e história.

Tudo isso aponta para um Dilúvio regional, significando que o Dilúvio de Gênesis não foi universal? Não. Deixe-me reiterar: o Dilúvio de Gênesis certamente foi universal; nisso destruiu-se todo o gênero humano e os animais associados com o sustento deles, excluindo-se esses a bordo da arca de Noé. Só no século XX "universal" tem sido sinônimo de "global". Cidadãos globais, corporações globais e guerras globais são sem igual a este século.



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