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sexta-feira, 5 de março de 2010

A verdadeira religião - carta de Tiago - parte 2 0




Fé constante e firmeza de ânimo


Ora, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não censura, e ser-lhe-á dada. Peça-a, porém, com fé, não duvidando; pois aquele que duvida é semelhante à onda do mar, que é sublevada e agitada pelo vento. Não pense tal homem que receberá do Senhor alguma coisa, homem vacilante que é, e inconstante em todos os seus caminhos (Tg 1:5-8)

A parte 1 pode ser acessada aqui.

Ao sermos alvos da salvação provida por Cristo, Deus começa a trabalhar em nossas vidas. Esta é uma das evidências que podem ser mostradas para os ímpios (e até mesmo para os cristãos) que de alguém foi salvo pelo poder do Senhor. Nosso Pai é poderoso para mudar não só circunstãncias, mas mudar a índole das pessoas. É por isso que os crentes produzem bons frutos, e estes permanecem (Jo 15.16).

Deus quer que sejamos perfeitos, e Ele vai continuar a obra até o dia em que deixaremos este tabernáculo terrestre (Fp 1.6). Muitos aperfeiçoamentos vem através das provações que enfrentamos todos os dias, as quais foram objeto do texto anterior. Mas outros advêm do nosso relacionamento com o Senhor. Deus quer que peçamos, para que tenhamos alegria completa (Jo 16.24). Ele deseja que “sejamos completos, não tendo falta de coisa alguma” (Tg 1.4) e, assim, atingirmos “a estatura de Cristo” (Ef. 4.13). Neste segundo texto vamos estudar outros tipos de aperfeiçoamento, que adquirimos através de nossos pedidos, das nossas orações. Tiago cita, por exemplo, a dádiva da sabedoria. Todo aquele que não dispõe suficientemente dela pode alçar uma oração ao Pai e Ele a dará.

Entretanto, vou fazer uma digressão para explicar melhor sobre que sabedoria devemos pedir, para diferenciá-la do conhecimento comum que todos dispomos, em maior ou menor grau. Como paradigma, usarei a própria carta de Tiago, nos versículos 13 a 18 do capítulo 3, que pontua dois tipos de sabedoria, a saber: “a que vem do alto” e a “terrena, animal e diabólica”. O texto está disponível nesta outra postagem, devido ao seu tamanho, que ficou um pouco inadequado para um blog. Recomendo a sua leitura antes de continuar.

Então, roguemos ao Senhor que nos abençoe com Sua incomparável sabedoria. Usemos de nossa fé.

A fé não substitui os nossos cinco sentidos: antes, é como um sexto; ou, ainda, é algo que faz transcender os demais. Faz-nos ver mais do que os nossos olhos mostram; ouvir mais que sons; sentir mais do que sensações. Foi um dos sentidos, creio, que foram prejudicados na Queda. Perdemos nossa ligação com o Criador, nossa base segura. O chão desapareceu debaixo dos nossos pés e achamos que andamos firmemente sobre ele. Vivemos todos com uma espécie de sombra no nosso encalço, que, ao virarmos para olhar, nada conseguimos ver. Há uma insegurança, um determinado tipo de necessidade que não há como suprir. Alguns tentam substituí-la com álcool, drogas, sexo, dinheiro, filosofias diversas... Mas ela sempre está lá, sorrateira, exigindo nossa atenção. É uma sede que nunca é saciada. O eco da vida eterna. É o grito da nossa dependência de Deus.

Prosseguindo no nosso tema, percebemos que a fé é um fator distintivo na vida de um crente. Aquele que professa ser cristão mantém sua lamparina sempre bem cheia de combustível. “Sem fé é impossível agradar a Deus”. Orar a Deus sem crer que Ele exista é tão insano quanto querer abrir portas com “abracadabra”, ou esperar algo de alguém que não existe ou que já partiu há muito tempo. “É galardoador dos que o buscam”, pois “se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que alcançamos as petições que lhe fizemos (1Jo 5:15)”.

Há aqueles, entretanto, que não estão aperfeiçoados na fé. São os de ânimo dobre. Usando uma expressão popular, “acendem uma vela para cada santo”. São como o povo de Israel já foi, adorador do Deus verdadeiro, mas que mantinham armados seus altares para os deuses estranhos. A idolatria sempre foi um grande mal na vida da nação judaica, e dentro das congregações hodiernas podemos encontrar alguns exemplares que cambaleiam entre o Senhor e as pitonisas de En-Dor (1Sm. 28:7-25). Não há meio de conjugar cristianismo com astrologia, nem espiritismo com ressurreição, tampouco Cristo com Buda. “Não pense tal homem que receberá do Senhor alguma coisa”.

“Todavia para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual existem todas as coisas, e por ele nós também” (1Co 8:6).

“Porque andamos por fé, e não por vista” (2Co 5:7). Se o crente anda somente pelo que vê, andaria como os que estão perdidos ainda. Como diz o ditado “há mais coisas entre os céus e a terra do que imagina nossa vã filosofia”. Sem fé, não as vemos, e ignorar a existência delas não auxilia nem faz com que elas deixem de existir. Pela graça de Deus, Ele refez a ligação que foi perdida no Éden e podemos andar com passos largos pelo Caminho. Se esta ponte não fosse restaurada por Deus, ninguém a faria. Só o Senhor sabe onde ficam os firmamentos. O crente, então, confia na Sua bondade revelada. “Provai, e vede que o Senhor é bom; bem-aventurado o homem que nele se refugia” (Sl 34:8).

Ninguém crê em algo que não conhece. Há uma relação direta entre crer e conhecer. Quanto mais sabemos do nosso Senhor, a fé é proporcionalmente aumentada. “Aumenta-nos a fé”, disseram os apóstolos em determinado momento (Lc 17). O que Jesus fez? Deu-lhes uma lição sobre como a humildade precede as bênçãos. Quando submetemos o nosso ego ao senhorio de Cristo moldamos a nossa vida à dEle. O conhecimento de Deus e da Sua Palavra fornece sustentação para a fé. Deus não quer que o obedeçamos cegamente – Ele quer relacionamento profundo.

Penso que dei um vislumbre de outro aspecto da religião verdadeira. A fé que vem do Deus verdadeiro não esmorece, nem acaba. Podemos, vez por outra, sentir que Ele esteja longe. Mas nunca que Ele não exista. Em alta voz talvez digamos “Deus meu, Deus meu, porque me abandonaste”; entretanto, não fazemos como o ímpio: “não há Deus”. Nem a morte pode nos separar do amor de dEle (Rm 8.38). Jó disse uma vez “Ainda que ele me mate, nele esperarei” (Jó  13:15). Esta é uma característica marcante do Cristianismo: ter a certeza que Deus é o autor e mantenedor da vida – ela lhe pertence. Tal consciência está bem arraigada naqueles que O conhecem. A soberania de Deus não é questionada; antes usufruímos dela para passar por todas as situações adversas que são postas diante de nós. Rendemos nossa vida por Ele. Mártires da fé como Estevão (Atos 7) exemplificam o que eu quero dizer.


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