Craig virá ao Brasil para o Congresso Vida Nova, em 2012 |
Entre os dias 28 e 30 de março o filósofo, teólogo, autor e palestrante cristão Dr. Willian Lane Craig apresentou uma série de seminários e discussões no Campus da Purdue University, em West Lafayette. A série culminará num debate sobre a existência de Deus com o filósofo ateu Austin Dacey na terça à tarde. Dr. Craig gentilmente reservou um tempo na sua ocupada agenda para conversar comigo em nome da revista virtual Boundless. Na sequência acompanhe a transcrição da minha entrevista.
Boundless: Olá, Dr. Craig. Eu gostaria de conversar brevemente sobre os problemas relativos à apologética e o evangelismo universitário. Especificamente, eu tenho dúvidas que envolvem a vida e o trabalho dos estudantes universitários em um ambiente secular. Eu tenho, simplificando, uma questão biográfica genérica para começarmos: O que o trouxe para este ministério em particular?
Craig: Bem, eu venho de uma família não cristã, então quando eu me converti no ensino médio, eu queria compartilhar minha fé com meu irmão e com amigos não cristãos na escola. Então eu fui imediatamente confrontado com a necessidade de prover razões para minha fé recém-descoberta. Portanto desde o começo eu dava razões para minha fé. Este interesse foi acentuado assim que cheguei à faculdade, Weaton College, onde eu fui ensinado a integrar minha fé com o conteúdo aprendido. Foi lá que eu senti o chamado para esta área do evangelismo que atrairia tanto minha mente quanto o meu coração.
Boundless: Certo. Eu gostaria de conversar acerca de questões de evangelismo e apologética universitária. Quais são os maiores desafios para os cristãos que querem apresentar argumentos intelectuais para sua fé nos campus universitários hoje?
Craig: Eu acho que o maior obstáculo hoje é o pluralismo religioso ou relativismo. Os estudantes não acham que crenças religiosas é conhecimento. Eles não pensam que elas são expressões de fatos, e não acham que são coisas que podem ser conhecidas. Para eles, crenças religiosas são meramente expressões de gosto pessoal, somente opiniões. Como resultado, quando um cristão afirma que conhece a verdade sobre estes assuntos, as pessoas ficam profundamente ofendidas e pensam que os cristãos são fanáticos, dogmáticos e até mesmo pessoas imorais. Eu penso que este é o grande desafio. Outro relacionado a este seria que, devido às assertivas morais que os cristãos sustentam hoje, muitos estudantes não cristãos nos consideram como pessoas realmente imorais, pessoas verdadeiramente más. Eles... Bem, um estudante não cristão colocou da seguinte forma. Ele disse: “Porque é que os cristãos sempre se posicionam do lado errado em questões morais como o aborto, o homossexualismo e assim por diante?” Para ele, cristãos são realmente pessoas imorais por causa dos posicionamentos que tomam, e este é um gigantesco obstáculo ao recomendar a nossa fé.
Boundless: Como este tipo de ministério orientado à apologética tem mudado nos últimos anos? Sob a ótica destes interesses relativistas e pluralistas, como mudou?
Craig: Eu não acho que tenha mudado. Eu penso que nós precisamos fazer as mesmas coisas, exceto este que nós precisamos focar mais acertadamente assuntos chave como o pluralismo e o relativismo, e eu estou bastante ansioso para tratar disto. É interessante. Quando eu palestro sobre isto e disponho os problemas de uma maneira gráfica, eu deixo os problemas tão difíceis quanto eu consigo antes de tentar solucioná-los. A reação dos estudantes é muito positiva. Eu não hostilizado, nem sou visto com ceticismo. Eu descobri que dar uma boa resposta racional, bem argumentada e sólida parece satisfazer a necessidade. Portanto, eu não acho que deva mudar de alguma forma, exceto para ser mais objetivo e confrontar os assuntos mais francamente.
Boundless: Brevemente, poderia explicar a diferença entre pluralismo social e pluralismo filosófico? Em poucas palavras.
Craig: Certo. O pluralismo político é algo que nós todos afirmamos porque nós vivemos em uma sociedade democrática que enfatiza a Carta de Direitos. Nós todos temos liberdade de religião, liberdade de expressão, liberdade de opinião, e assim por diante. E então nós todos, especialmente cristãos que creem na liberdade de consciência, queremos afirmar este tipo de pluralismo político. Mas o erro é pensar que o pluralismo político implica em pluralismo a respeito da verdade (isto é, pluralismo filosófico). Isto é o que eu nego. E defendo que a base apropriada da tolerância é que cada ser humano é feito segundo a imagem de Deus e, portanto, dotado com certos direitos dados por Deus, tais como a liberdade de crença e a liberdade de expressão. Contudo, tolerância significa que eu posso discordar com aquilo que você diz, mas eu defenderei até a morte seu direito de dizê-lo. Infelizmente, em nossa época politicamente correta, muitas pessoas tem a impressão que tolerância significa “Não ouso discordar daquilo que você diz para que eu não seja marcado como fanático ou dogmático por ter ousado dizê-lo”.
Boundless: Sim, é uma errada confusão de “tolerância” com “concordância” ou “aprovação”.
Craig: Sim.
Boundless: Vamos ver… próxima questão… que argumentos contra o teísmo percebem ser mais efetivos?
Craig: Eu penso que indiscutivelmente é o problema do sofrimento inocente. Este tem um tremendo apelo emocional, especialmente entre os diversos estudantes que vêm de famílias cujas estruturas são disfuncionais e perniciosas e que, portanto, carregam montes de feridas emocionais. Eu penso que em muitos casos, estudantes ficam admirados, “Porque Deus permitiu que eu nascesse em um lar que me deixou com problemas emocionais?” Este problema, eu penso, ressoa entre os estudantes e é muito difícil de superar.
Boundless: Que argumentos a favor do teísmo são mais eficientes?
Craig: De forma bastante interessante, eu penso que o argumento moral é o mais efetivo. Eu, pessoalmente, gosto de argumentos científicos e filosóficos, baseados na ciência e na cosmologia. Mas eu descobri que esses não mexem tanto com os estudantes quanto o argumento moral, o qual diz que se não há Deus, não há nenhuma base absoluta para valores morais. Contudo, se você está afirmando o valor de coisas como tolerância, amor, fidelidade, o direito das mulheres, e assim por diante, você precisa ter uma sustentação transcendente. Você precisa ter Deus. Eu penso que os estudantes (que estão tão familiarizados com a ideia de que se Deus morreu, todas as coisas são relativas) ficam impressionados com o argumento quando você diz que tirando Deus da jogada, não há absolutos morais. Então você pode ajudá-los a ver quão horrível é o mundo sem absolutos morais, e que eles mesmos - se olharem para dentro de suas próprias consciências – já afirmam os absolutos morais, apesar de seus lábios trabalharem pelo relativismo. Portanto, este argumento tem um tremendo apelo entre os estudantes. É um aos quais eles respondem.
Boundless: Ainda sobre este assunto: qual é o menos eficiente dos argumentos contra o teísmo?
Craig: Você sabe, esta é realmente uma questão difícil. Eu suponho que eles seriam argumentos muito abstratos e filosóficos. Por exemplo, em um recente debate com Walter Sinnott-Asmstrong no Dartmouth College, ele argumentou que se Deus é eterno, então ele não poderia agir na história. Bem, este argumento é tão abstrato e longe da experiência diária que eu não acho que ele convença qualquer pessoa.
Boundless: Agora suponhamos que você esteja falando para acadêmicos da Intervasity em algum lugar: O que você falaria a eles que seriam argumentos ineficientes contra o ateísmo?
Craig: Indubitavelmente, eu acho que o argumento ontológico seria o menos eficiente dos argumentos em defesa de Deus. Eu fico tentado em usar o argumento ontológico em um debate algum dia! Mas, sempre que eu tento explicá-lo, ele é tão abstrato e tão distante do pensamento das pessoas que, no fim, eu paro porque ninguém o compreende. Este não funciona muito bem. Eu ainda estou muito tentado a usá-lo algum dia.
Boundless: E agora, sobre a questão da Defesa Carismática e Pentecostal: Eu tenho muitos amigos e relações com pessoas que estão em igrejas como a Assembleia de Deus e a Igreja de Deus em Cristo, e eles me confrontam algumas vezes quando eu falo sobre apologética com a afirmativa de que nada disto importa. Eles dizem que “a conversão é toda pelo Espírito Santo. Você nunca vai persuadir alguém para o Reino, etc.” Como você responde este tipo de crítica?
Craig: O que eu digo é, assim como o Espírito Santo pode usar a pregação, Ele pode também usar apologética e argumentos para trazer alguém para Si mesmo. A chave aqui é compreender que o Espírito Santo usa de expedientes. Ele usa de expedientes para trazer pessoas para Si mesmo. Não há razão para pensar que Ele não pode usar argumentos e evidências tanto quanto a pregação. Quando você olha o livro de Atos, esta é exatamente a forma como Paulo operava. Ele argumentava com as pessoas. Ele fazia conferências no salão de Tirano (N.T. cfe Atos 19:8-10). Ele discutia estas coisas com os filósofos no Areópago (N.T. cfe Atos 17.19). Eu descobri, ao lidar com pessoas de origem carismática ou pentecostal, que a coisa mais eficiente a fazer é simplesmente deixá-los vê-lo usando argumentos no evangelismo. E eles ficam entusiasmados. É somente porque eles não têm visto isto ser feito efetivamente que eles são céticos. Eu recentemente vim de uma grande igreja Assembleia de Deus em Edmonton, Canadá, algumas semanas atrás, onde nós tivemos cerca de 900 pessoas numa faixa de 20 e poucos anos. Eu falei do absurdo da vida sem Deus, e eles curtiram. Você não pode só ter emoções e ser uma pessoa inteira. Até mesmo facções desta subcultura cristã carismática e pentecostal têm mentes que querem respostas. Quando eles veem isto em ação, muitos com compromisso apaixonado por Cristo, a amam também. Eles realmente curtem.
Boundless: Você poderia sugerir talvez uma lista de leituras para os acadêmicos cristãos que querem construir seu arsenal filosófico em defesa da fé cristã?
Craig: Eu começaria por dominar alguns materiais bíblicos. Por exemplo, eu indicaria New Testament Introduction (Introdução ao Novo Testamento), de Donald Guthrie, publicada pela Intervarsity. Depois eu indicaria Dictionary of Jesus and the Gospels (Dicionário de Jesus e dos Evangelhos), publicado também pela Intervarsity. Se você quiser uma boa introdução filosófica, J. P. Moreland e eu escrevemos um livro chamado Philosophical Foundations for a Christian Worldview (Fundamentos Filosóficos para uma Cosmovisão Cristã), publicado pela Intervarsity. Este é até certo grau um livro de nível intermediário a difícil, mas, todavia, ele realmente seria uma ótima aquisição. Outro bom livro para se ter seria o Reason for the Hope Within (Razão da Nossa Esperança), editado por Michael Murray. Há uma série de livretos publicados por Ravi Zacharias International Ministries, escritos por filósofos cristãos, sobre uma enorme gama de assuntos apologéticos. Eu encorajaria as pessoas a obterem esta série completa de cerca de 15 livretos e trabalhe neles. Meu próprio livro, Reasonable Faith (Fé Racional), apresenta, penso eu, Deus e a ressurreição de Jesus como seus dois pilares. Eu também recomendaria um livro mais, Jesus Under Fire (Jesus Sob Ataque), editado por Wilkins e Moreland, publicados pela Zondervan. É um impressionante livro em resposta para o então chamado Seminário Jesus. Muito oportuno, eu penso.
Boundless: Ele segue a mesma linha que o livro de Boyd, Cynic, Sage, or Son of God (Cínico, Sábio ou Filho de Deus)?
Craig: Sim, mas ele é escrito por uma gama de autores evangélicos onde cada um contribuiu com um capítulo. Portanto, você obtém uma real gama de experiência ali.
Boundless: E você poderia recomendar algo além das linhas da leitura pré-evangelística, digamos para aqueles que lidam com um companheiro de quarto cético, amigo, irmão de fraternidade ou irmã de república? Alguém que não quer realmente ler a Bíblia. O que você poderia recomendar para esta pessoa?
Craig: Eu acho que os livros de Lee Strobel, Em Defesa do Criador, e Em Defesa de Cristo seriam bons livros para colocar nas mãos de um curioso. Deus tem usado estes livros para trazer um monte de pessoas à Cristo, eu creio.
Boundless: Obrigado pelo seu tempo, Dr. Craig!
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Traduzido por Leandro Teixeira. Publicado na edição nº 11 da Revista Apologética Cristã.
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