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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Depravação Total - Implicações 0



O que é o homem?

No post anterior, fiz um breve apanhado do que é a doutrina da depravação total. Mas, como apenas conhecimento teórico não basta, é necessário que alguma aplicação prática decorra do entendimento. Buscarei fazer isto a partir de agora.

Descobrir a Verdadeira Identidade

Filósofos de todas as eras têm insistido em que o homem conheça a si mesmo. Não há nada errado nisto. Juntamente com Terêncio, dramaturgo da Roma Antiga, deveríamos declarar que “nada do que é humano nos é estranho”. Seria mesmo uma irresponsabilidade ignorar quaisquer aspectos relacionados à humanidade. Entretanto, parece que alguns ficaram tão maravilhados consigo mesmos que pensaram acerca de si muito mais do que convém. Friedrich Nietzsche, por exemplo, via fraqueza no homem, causada por um grande potencial inexplorado. Pensava ele que se o homem anelasse e vivesse além de todos os seus valores, por meio de uma sede de poder criativo, num processo contínuo de superação, ele seria um super-homem, ou o homem superior. Para isto, é claro, ele teria de abandonar a ideia de Deus: super-homens não precisam dele.

O que a Bíblia ensina sobre o homem? Diz que ele foi criado bom, mas que a queda em Adão comprometeu as suas capacidades de uma forma tão profunda que qualquer ideal de "homem superior" (no sentido de ser um homem perfeito) por esforço unicamente humano é impossível de ser alcançado. Ela é enfática ao afirmar que o problema humano está dentro dele, mas não a solução. Mostra que o homem não está no trono, mas chafurdado na lama. Que ele não é livre, mas escravo. Que não é autônomo, mas dependente. Que ele não é bom, mas mau. E, principalmente, o poder de resgatar a sua própria vida está tão afastado de suas capacidades quanto erguer-se do solo puxando-se pelos cabelos.

Não há necessidade de ser um sociólogo para perceber que a nossa civilização é muito instável. Qualquer mudança significativa no status quo facilmente levaria a “sociedade” a entrar num estado primitivo de selvageria. Podemos ver isto nas outras pessoas. Por melhores que sejam os avanços do conhecimento humano, e ainda que a nossa ciência e tecnologia sejam notáveis, social e moralmente não estamos nem um pouco melhores do que há milênios. E podemos ver isto também em nós mesmos; todos os dias, diante do espelho. Basta uma análise pessoal sincera tendo por modelo a Lei de Deus: os 10 mandamentos.

Mudar de Paradigma

O que é certo e o que é errado?
Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus (Romanos 3:19)

Como o homem é facilmente convencido das suas qualidades! Se tem algo que prontamente aceita, sem muito questionar, é o afago ao seu ego. Quão rápido se convence! Quão rapidamente pensa que é merecedor de honra! De glória em glória, ele começa a acreditar em si mesmo. E ainda que ele não tenha o aplauso do mundo, é possível que ele crie para si uma redoma de autoglorificação, atribuindo aos outros deficiência pela falta do reconhecimento que entende lhe ser merecido. Mas como vimos antes, não temos do que nos gloriar, porque não há nada propriamente humano que não esteja maculado pelo pecado.

De fato, cada indivíduo usa uma régua própria para medir a si e aos outros, pela qual ele sempre está aprovado. Mas não é por esta norma particular que somos julgados. Quando Moisés desceu do monte com as tábuas da Lei (Êxodo 20), ganhamos um padrão absoluto para aferir nossa integridade. A Lei nunca serviu como meio para salvar pessoas, mas sim como instrumento de condenação (Deuteronômio 28), porque nunca houve alguém (excetuando Jesus) que a cumprisse integralmente. A lei veio para nos servir de aio até que Cristo chegasse (Gálatas 3.24).

A doutrina da depravação total tem este mérito: mostrar quão grave é o pecado para Deus, e quão grave é a nossa maldade. Se os nossos atos de justiça são como trapos de imundícia para Ele (Isaías 64.6), o que se dirá das nossas injustiças!

Reconhecer a impotência

O que faremos? (At 2.37)
Penso que o primeiro sentimento que alguém deveria ter ao conhecer esta doutrina é o de humilhação. Ela retira o homem do pedestal, destronando o ser humano, colocando-o num estado de desesperança completa. Joga-o com força ao chão. Abole a confiança exacerbada em suas próprias capacidades, e que a solução dos problemas está dentro de si - como a psicologia moderna, por exemplo, ensina. Arranca o manto de glória própria que oculta a maldade por trás das boas ações. Incute a culpa, e não a releva. Mostra aquilo que realmente somos, não o que aparentamos ser.

A vide se secou, a figueira se murchou; a romeira também, e a palmeira e a macieira, sim, todas as árvores do campo se secaram; e a alegria esmoreceu entre os filhos dos homens (Joel 1:12)

Repentinamente, portanto, o homem natural se sente no vale da morte. Vê tudo a sua volta esmorecer, falhar, cair. Não há nada que possa servir de apoio para mantê-lo de pé. E então começa a perceber que a sua vitalidade é falsa. Parafraseando Spurgeon, é apenas pompa funerária de uma alma morta; velando a si mesmo, lamenta pelo modo de viver que, inevitavelmente, o jogou nos braços da morte. Para o não-convertido, tudo isto é tão horrível que ele fica atônitamente incrédulo. Ressente-se e não aceita que isto possa ser verdade. Por isso que a Palavra diz em João 3.19-20 que os homens não vêm à luz: para que suas obras más não sejam manifestas. Neste momento de perplexidade, o Espírito pode agir e convencê-lo do pecado e do juízo. Se Ele o fizer, a pessoa perderá completamente a esperança em si mesmo; apercebe-se-á que nada do que ele é ou possa fazer poderá salvá-lo da justa ira de Deus. E no momento seguinte, a maravilhosa graça do Senhor estará brilhando diante dele dizendo: “- Arrependa-se e venha!”.

Receber a cura

E quem quiser, receba a água da vida (Ap. 22.17)
Jesus, porém, ouvindo isso, disse-lhes: Não necessitam de médico os sãos, mas sim os enfermos; eu não vim chamar justos, mas pecadores (Marcos 2:17)

Esta palavra é para todo homem natural. A lei mostra que ele está mais do que doente: está morto. Mas o evangelho traz mais do que cura: traz uma nova vida. Esta é a boa nova: Deus entregou seu Filho, Jesus, e este voluntariamente se dispôs à cruz, o lugar que nos era merecido, e pagou pela nossa dívida. Jesus Cristo morreu a nossa morte, e a Sua ressurreição é a esperança que temos de um dia também reviver (Romanos 6.5-9). Para assegurar esta expectativa, o Espírito Santo nos foi enviado para habitar dentro de cada um que crer, servindo como penhor da promessa, e para relembrar tudo aquilo que Cristo ensinou, com vistas a andar em retidão e a crescer em santidade.

Para o crente, reconhecer sua depravação é o caminho que leva a honra, pois Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes (Tiago 4.6). A doutrina o coloca na posição correta diante do seu Criador: a de total dependência. O entendimento da depravação total é o ponto final na arrogância típica da nossa raça.


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