Este blog foi desativado em 10/03/2014. Visite o novo projeto: Como está escrito

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Depravação Total - Introdução 0



O que é a Depravação Total

Depravação Total é um nome dado para uma das cinco doutrinas da graça que tratam da operação salvífica de Deus para a humanidade. A saber, as cinco doutrinas são:

- Depravação Total (Total Depravity)
- Eleição Incondicional (Uncondicional Election)
- Expiação Limitada (Limited Atonement)
- Graça Irresistível (Irresistible Grace)
- Perseverança dos Santos (Perseverance of the Saints)

Em inglês, as sentenças formam um acróstico, TULIP (tulipa, em português), figura que é usada como referência à doutrina destes cinco pontos. Não é sem significado que as doutrinas sejam representadas por uma flor; afinal, elas exalam o cheiro suave do amor gracioso do Senhor. Mas algumas de suas pétalas são mais difíceis de serem admiradas. É o caso da Depravação Total. Minha intenção é elaborar vários textos, reunidos pelo mesmo marcador (Depravação Total), tentando extrair a essência desta pétala, elaborar um perfume e aplicá-la na vida cristã.

Entendendo a doutrina

Pois bem. Lendo rapidamente a expressão, ela parece dizer que todo homem é tão mal quanto o poderia ser. Mas o significado é outro. Ela quer dizer que cada parte componente do homem está corrompida: o corpo físico, as emoções, a vontade e o intelecto. Ou seja, a humanidade padece debaixo de corpos, sentimentos, desejos e mentes arruinadas. Isto não se deu na criação original de Deus, mas pela desobediência de nosso representante-mor.

Adão foi este representante. Deus o havia avisado: “no dia em que comeres do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, certamente morrerás” (Gênesis 2:16-17 ). Desobedecendo, ele pecou. Neste momento, Adão não quebrou a perna, nem machucou o braço: ele morreu. O seu espírito morreu. Perdeu totalmente a comunhão com o Criador (Isaías 59:2 ). O fruto foi tão amargo em seu ventre que mesmo apresentar-se diante de Deus lhe era motivo de pavor e vergonha. Ele e sua mulher Eva descobriram quão horrível é exporem-se nus e pecaminosamente sujos perante a Divindade (Gn 3:10 ).

E o legado desta miséria foi passado, deles para seus filhos, e para os filhos dos seus filhos. Toda a humanidade herdou a natureza caída e corrompida pelo pecado cometido em Adão. Alguns até podem questionar se ele foi o melhor representante para a nossa raça. Eu tenho certeza que foi, por três motivos bem simples: primeiro, porque ele foi criado perfeito; segundo, porque ele estava num lugar perfeito, o Éden. E terceiro, ele foi a escolha do próprio Deus, e não há motivo para desconfiar que o Senhor não tenha feito a melhor escolha possível. Na verdade, o fato do melhor homem ter errado desta maneira só agrava a situação da humanidade em relação a Deus.

O Senhor olhou do céu para os filhos dos homens, para ver se havia algum que tivesse entendimento, que buscasse a Deus. Desviaram-se todos e juntamente se fizeram imundos; não há quem faça o bem, não há sequer um (Salmos 14:2-3).

A Bíblia ensina que todos os homens, exceto Jesus Cristo (Hebreus 4:15 ), são depravados física e espiritualmente (Salmos 53:3 ). Ela também declara que cada parte do ser humano é depravada. Não somente os atos das pessoas são condenáveis, mas os seus pensamentos, seus desejos e emoções (Gênesis 6:5 ). A Bíblia ainda acrescenta que cada uma destas partes é totalmente decaída. Não parcialmente, mas completamente. Pois o ser humano está morto espiritualmente.

Quando o homem se torna pecador? Quando comete o primeiro pecado, ou antes? A resposta é que o ser humano já nasce com disposição para pecar, ou seja, ele peca porque É pecador (Salmos 51:5 , Salmos 58:3 ). Ao contrário do que algumas filosofias ensinam, o homem não nasce como uma tabula rasa, isto é, como se fosse um papel em branco, sem nenhum conhecimento inato (cf. Aristóteles). Há quem advogue que o homem nasce bom, e a sociedade ou o ambiente é que o corrompe (cf. Rousseau). Como se isto não fosse enganoso o suficiente, pensam que o homem deveria ser a medida de todas as coisas (cf. Protágoras). Quão torto será este mundo se o tomarmos pelo nosso padrão arruinado!

É tudo muito sério e drástico o que esta doutrina bíblica ensina. Veja que, por causa do pecado, há uma maldição sobre a humanidade e sobre toda a ordem criada. E a imprecação vem de Deus (Deuteronômio 28:15-68 ), Aquele que é o único a quem devemos prestar contas (Hebreus 4:13 ). E nisto tudo Ele é completamente justo em irar-se. O pecado é uma afronta terrível à Sua natureza absolutamente santa.

Tudo o que fazemos é mau?

Se julgarmos segundo padrões humanos, pode parecer que não somos tão maus assim. Criamos bem os nossos filhos, amamos as nossas esposas, fazemos doações, dedicamos tempo e dinheiro a obras sociais... Há muita coisa boa nas ações das pessoas. Jesus mesmo disse algo sobre este assunto (Mateus 7:11 ). Mas se formos medidos pelo padrão divino, não sobra nada. Para algo ser realmente bom para Deus, deve passar por estas duas peneiras:

1. Tudo deve ser feito para a glória de Deus
Portanto, quer comais quer bebais, ou façais, qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus. (1 Coríntios 10:31)

Quem pode dizer que faz algo para que Deus seja glorificado? Mesmo muitos ateus fazem obras louváveis perante os homens. Mas com certeza a sua intenção não é de exaltar o Criador e a sua justa lei. Portanto, é pecado. Mesmo os crentes pecam assim, querendo uma pontinha de glória própria, até mesmo ao gabar-se do sucesso de seus esforços evangelísticos, por exemplo! Orgulho e presunção nunca são bons (1 Coríntios 5:6 ; Tiago 4:13-16 ).

2. Tudo o que se faz deve estar firmado e ter origem na fé
Mas aquele que tem dúvidas, se come está condenado, porque o que faz não provém da fé; e tudo o que não provém da fé é pecado (Romanos 14:23).

Hebreus 11:6 diz que sem fé é impossível agradar a Deus. Então, todas as coisas que são feitas sem ter por esteio a fé são detestáveis a Ele. É isto que se quer dizer quando o homem não faz nada bom (Salmos 53:3 ). Por exemplo: se não discernirmos que todas as coisas que possuímos são de Deus, e que somos apenas mordomos, despenseiros dEle, podemos cair na pretensão de achar somos muito dignos por financiar obras sociais, construir orfanatos ou até mesmo ao dar comida para um mendigo. Curioso é que tais coisas são feitas porque são resultado do que os teólogos costumam chamar de ‘graça comum’ de Deus. O crédito das obras não vai para a conta destas pessoas que praticam, mas para a do Senhor. É Ele quem move as pessoas para fazer o que quer. Pela Sua Soberania, ele governa o mundo restringindo o mal em sua totalidade.

A vontade do homem natural é contrária a Deus. A Palavra é enfática em dizer que o homem jamais irá até Deus para ser salvo (João 3:19-20 ). A razão é porque ele não quer (João 5:40 ). Se esta analogia ajudar, pense em uma balança, onde num dos pratos você coloca a vontade de agradar Deus e tudo o que é reto, justo e puro, e no outro prato coloque o que satisfaz seus próprios desejos. A natureza do seu coração ainda não regenerado, ou seja, morto em delitos e pecados (Efésios 2:1 ), faz a balança SEMPRE pender para o lado da sua própria satisfação, como se o seu próprio coração de pedra estivesse amarrado deste lado da balança. Mas esta analogia também é falha, pois, de acordo com a Bíblia, na verdade a balança está quebrada. Não há nunca nenhum desejo de fazer o bem. Não há absolutamente nada neste lado da balança (Romanos 8:7 ).

Por ora, estamos sabendo que esta é a condição do homem perante seu Criador; mas o que devemos (ou podemos) fazer? Este é um assunto para os próximos posts.
Related Posts with Thumbnails