Há duas revelações de Deus: a geral e a especial |
Esta pergunta esconde um sentido mais profundo do que a pura e simples provocação que insinua. O que ela quer dizer na verdade é que Deus falhou. Se Deus falhou, Ele não é onipotente. Logo, o Deus cristão não existe.
Esta é uma questão que nos leva a buscar a compreensão da natureza de Deus e da natureza do homem. Sem este entendimento das naturezas, e da interação entre elas, é muito difícil explicar o problema.
Inicialmente, vou dividir a frase em duas partes, para lidar com algumas pressuposições que podem estar intrínsecas na sua elaboração.
“Se ele já falou (...)”
O autor coloca esta condicional “se ele já falou” de uma maneira que põe em dúvida o fato do Senhor ter realmente se manifestado de uma forma definitiva e suficiente. “Será que Ele realmente falou? E se falou, o que revelou foi o bastante?”
Deus se revelou de duas principais formas: através da revelação geral da natureza (das coisas criadas) e através da revelação especial, a qual temos documentada no livro que chamamos de Bíblia. A revelação geral declara a todo homem que há um Deus, e que ele é indesculpável no que se refere ao sentimento da Sua existência.
A revelação especial foi trazida muitas vezes no decorrer da história humana, conforme a necessidade do povo e a vontade de Deus, em diversas quantidades ou porções. A vontade do Senhor foi também revelada de variadas maneiras, às vezes diretamente, outras por sonhos, visões, através de anjos, teofanias, entre outros. Por fim, Deus se revelou de forma derradeira, pessoalmente, pelo Seu próprio Filho, na pessoa de Jesus Cristo. Toda esta revelação especial trata sobre o Ser divino e a Sua vontade; mostra Deus dirigindo o desenvolvimento da história humana; declara a condição do homem perante Ele e manifesta o plano da sua grandiosa salvação. A Bíblia afirma que a voz do Senhor foi plenamente anunciada. Deus, portanto, já falou (Hebreus 1.1).
“(...) porque o universo não se convenceu?”
Natureza: revelação geral de Deus |
Temos uma mentira aqui. O autor usou a palavra “universo” dando a entender que ninguém (ou sendo um pouco condescendente, uma minoria insignificante) creu naquilo que Deus revelou, seja através da natureza, seja através da Bíblia. Contudo, a revelação geral de Deus nas coisas criadas é tão forte que não há notícias de que alguma civilização, existente hoje ou já extinta, não tenha (ou tivesse) alguma forma de culto ao divino. O sentimento religioso está bem arraigado dentro do homem desde os seus primórdios. Negar isto é tolice (Salmos 14.1).
Mas como saber qual é o Deus verdadeiro? Já que a religiosidade é tão marcante assim, e a imaginação do homem é pródiga em produzir ídolos, é necessário que haja uma forma inconfundível de saber qual é o verdadeiro Deus dentro de miríades de entidades. Para isto temos a Revelação Especial de Deus, que está na Bíblia. Nela, O Deus Jeová assume a responsabilidade pela criação do mundo e do homem, mostrando o propósito desta; fala de Si mesmo, revelando a Sua vontade perfeita; fala da justiça e da misericórdia, buscando o relacionamento com a humanidade no desenrolar da história. Ele fala de coisas que ainda não aconteceram como se já houvessem ocorrido; realiza milagres incontestáveis para exibir Sua majestade soberana. Ele conta o passado, explica o presente e determina o futuro. Ela fala de homens - de pastores de ovelhas a reis - que tiveram experiências incríveis com o Senhor, atestando, assim, aquilo que Ele falou.
Nenhum outro deus se manifestou assim. O primeiro mandamento que Ele deixou para nós foi este: “não tereis outros deuses diante de mim”; o que é muito pertinente, já que realmente não existe outro! E Ele não precisaria se revelar, se não quisesse. Entretanto, Deus agiu com amor e misericórdia, dando-nos o conhecimento que pode salvar-nos de uma justa punição.
Então temos este ambiente: pelas coisas criadas, sabemos que há um Deus. E, pela Bíblia, sabemos qual Deus é o verdadeiro. Isto seria prova suficiente para convencer um pecador a entregar sua vida ao Senhor?
Logicamente, a resposta seria SIM. Contudo, argumentos, por melhores que sejam, não tem o poder de fazer a pessoa aceitá-los, mesmo que não haja base racional para agir desta maneira. A rejeição ao Deus verdadeiro não está baseada na racionalidade (ou irracionalidade) da proposta cristã, mas tem sua origem no seu ‘órgão’ moral. O apóstolo João nos fala acerca deste problema quando afirma em João 3.19 que os homens não vem à luz porque suas obras são más, pois amam mais as trevas. Este é o cerne do verdadeiro motivo de toda negação à Cristo.
O autor tentou induzir o leitor ao erro quando escreveu a frase que dá título à este texto. Fez pensar que, como ele não ficou convencido com os ‘argumentos’ do Senhor, Deus falhou. E como a Palavra diz que que Ele não falha, a Bíblia não é inerrante. Se ela tem erros, como podemos confiar nas suas declarações? Resumindo, o Deus cristão não deve existir porque Ele não foi persuasivo o suficiente como Ele revelou que seria!
Entretanto, esta é exatamente a reação esperada de TODO homem natural diante de Deus: rebeldia. Romanos 1.21-32 relata uma série de adjetivos totalmente desagradáveis aos ouvidos dos não-crentes, mas que são decorrentes do abandono a Deus:
Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu.
Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis.
Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si; Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém.
Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro.
E, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm; Estando cheios de toda a iniqüidade, prostituição, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade; Sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais e às mães; Néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia; Os quais, conhecendo a justiça de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem - Romanos 1:21-32
Percebam, portanto, o tamanho da insolência. O quadro descrito na passagem acima pinta com perfeição o nosso estado antes da conversão. Mas graças a Deus, há um remanescente. Por sua infinita misericórdia, o Senhor elegeu para si pessoas de todas as nações. O Espírito Santo de Deus transforma com poder a vida daqueles que foram escolhidos antes da fundação do mundo. Tais indivíduos “nascem de novo”. Depois da conversão, os ouvidos, antes surdos, agora ouvem a voz do Senhor, e os seus olhos estão abertos para ver as Suas obras. O coração dos eleitos também anseia pela retidão, e odeiam toda iniquidade. E estes recebem a Seu Senhor com alegria no coração, totalmente convencidos pelas Palavras de Vida Eterna proferidas pelo seu Salvador.
Porque o reino de Deus não consiste em palavras, mas em poder - 1 Coríntios 4:20.
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