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sexta-feira, 18 de abril de 2008

Morri: e Agora? 4



Morri: e Agora?

O que acontece conosco após a morte física? Esta é uma pergunta que todos nós, mais dia, menos dia, fazemos. O ser humano cultiva na sua mente uma curiosidade sobre a realidade metafísica, sobre aquilo que vai além do que ele consegue ver, e isto inclui, logicamente, se algo nosso, que seja essencial a nós mesmos, resiste mesmo após a destruição do nosso corpo material.

Não cabe a este texto discorrer sobre a existência ou não desta "essência". Vamos assumir que ela existe, conforme as escrituras nos revelam, e entender melhor o que acontece com ela assim que morrermos.

Para começo de conversa...

Uma coisa devemos ter em mente antes de começar. Que o ser humano está destinado a morrer uma só vez, e depois disto, segue-se o juízo (Hb 9.27). Outras passagens corroboram o tema: 14:10-12 e 14; Jó 16:22; Jó 7:9. Então, o que deve ficar claro é que o homem só tem uma chance de escolher livremente sua morada eterna, seja ela com Deus ou sem Ele. Não existe um "estágio probatório" após a morte: o "estágio" é aqui mesmo, nesta vida.A Bíblia, tanto no Antigo Testamento quanto no Novo, se refere a um lugar de tormento eterno onde os ímpios ficarão para sempre. E a promessa do céu, do paraíso, está, também, clara em várias passagens nas escrituras.O ser humano é formado, basicamente, em 2 partes principais: o corpo físico e o corpo espiritual (alma). Não entrarei no mérito da divisão bipartida ou tripartida do homem. Generalizando, para fins deste estudo, serão consideradas somente estas duas partes: a material e a imaterial.

No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás. (Gn 3:19)


Na morte, o corpo material é destruído [1], vai para a sepultura ('sepultura' não precisa ser entendida no sentido estrito da palavra. Os que morreram sem ser sepultados também estão "na sepultura"). O hebraico tem uma palavra para este "estado de morto": Sheol. Esta palavra significa tanto sepultura, estado de morto, mundo ou morada dos mortos, cova. A Bíblia às vezes traduz este termo como inferno, o que não é uma denominação muito acertada. Exemplos de uso desta palavra estão em Dt 32.22 e Am 9.2. Outras passagens traduzem o termo "Sheol" como sepultura, o que é uma tradução mais adequada, até mesmo com o contexto. Leia Gn 37.35, Jn 2.1-2, Jó 14.13; Gn 42.38.

Mas a alma sobrevive, e é ela que tem importância aqui. É o destino da nossa alma que realmente interessa. Só há dois caminhos para onde a alma pode ir: ou para o Paraíso [2] ou para o Hades [3]. Hades é uma tradução para o grego da palavra hebraica Sheol. No NT, ela adquire um significado um pouco mais amplo, dando a entender que será o lugar temporário de tormento para as almas dos ímpios. Vê-se tal afirmação em passagens como Lucas 16.23,24 e Mt 11.23 onde a palavra Hades é, incorretamente, traduzida simplesmente por inferno.Jesus nos conta, em Lucas 16.19-31, a existência de um lugar de tormento, e um lugar de consolação. Na língua original, a palavra escrita como "inferno" em algumas de nossas traduções, é Hades. É o lugar onde o rico está sendo atormentado, depois de morto. O lugar onde Lázaro está sendo consolado chama-se "seio de Abraão" [2].

Além destes dois lugares, fica tambem claro que: a) Não há como passar de um lugar para outro (há um abismo separando os dois); b) A forma da pessoa saber sobre a verdade da outra vida está na Lei e nos Profetas. Para Abraão (e Jesus, no caso), as escrituras davam um testemunho muito mais forte do que alguém que voltasse dos mortos, sendo, portanto, inútil que alguém voltasse para avisar os vivos, pois não acreditariam de qualquer forma; e c) Após mortas fisicamente, as pessoas ainda mantém sua consciência em funcionamento.

Ora, havia um homem rico, e vestia-se de púrpura e de linho finíssimo, e vivia todos os dias regalada e esplendidamente. Havia também um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele; E desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas. E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado. E no inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio. E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro, que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado. E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá. E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai Pois tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento. Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. E disse ele: Não, pai Abraão; mas, se algum dentre os mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. Porém, Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite. (Lc 16:19-31)


Os salvos também estarão num lugar temporário, antes do Dia do Grande Juízo. Chama-se "Seio de Abraão", ou Paraíso [3], ou ainda, mais simplesmente, Céu. Ali seremos consolados, toda lágrima será enxugada. Jesus, quando estava na cruz, falou ao ladrão que estava ao seu lado, que "hoje mesmo estarás comigo no paraíso" (Lucas 23.39-43). Então, assim que morrermos, estaremos com o Senhor Jesus!

E um dos malfeitores que estavam pendurados blasfemava dele, dizendo: Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo, e a nós. Respondendo, porém, o outro, repreendia-o, dizendo: Tu nem ainda temes a Deus, estando na mesma condenação? E nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o que os nossos feitos mereciam; mas este nenhum mal fez. E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso. (Lc 23:39-43)


Outro lugar que nos comprova que estaremos com Cristo é Ap 6.9-11. Nesta passagem, os mortos em Cristo estão no lugar temporário; não ocorreu a ressurreição, nem tampouco o julgamento. Vê-se que as almas destes estão conscientes também.

E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram. E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? E foram dadas a cada um compridas vestes brancas e foi-lhes dito que repousassem ainda um pouco de tempo, até que também se completasse o número de seus conservos e seus irmãos, que haviam de ser mortos como eles foram. (Ap 6:9-11)


Podemos constatar também que, além de conscientes, tanto os que vão ao Hades quanto os que vão ao Paraíso lembram de sua vida, e do que ficou para trás. Também verifica-se que conhecemos as outras pessoas nestes estágios. Até deve ser por este motivo que nós seremos consolados. Ninguém é consolado de algo bom, mas de lembranças ruins. Acredito, pela Palavra, que neste estado intermediário, mesmo com todas as benesses do paraíso, sofreremos um pouco com as lembranças ruins da nossa vida terrena, ou até mesmo por ser sabedor de que seus parentes e amigos podem estar tomando o outro caminho, o de perdição. E então seremos confortados.

Mas no Dia do Senhor seremos ressuscitados [4]. Ambos, justos e ímpios, receberão um novo corpo, "Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno." (Daniel 12:2). Mas isto não se dará exatamente no mesmo tempo. A Bíblia fala que os justos ressuscitarão primeiro:

Os restantes dos mortos não reviveram até que se completassem os mil anos. Esta é a primeira ressurreição. Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele os mil anos. (Apocalipse 20:5,6)


A segunda ressurreição [4], a dos ímpios, está declarada aqui:

Vi um grande trono branco e aquele que nele se assenta, de cuja presença fugiram a terra e o céu, e não se achou lugar para eles.Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, postos em pé diante do trono. Então, se abriram livros. Ainda outro livro, o Livro da Vida, foi aberto. E os mortos foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros. Deu o mar os mortos que nele estavam. A morte e o hades entregaram os mortos que neles havia. E foram julgados, um por um, segundo as suas obras. Então, a morte e o inferno foram lançados para dentro do lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo. (Ap 20.5,6)


Decorrente destas duas passagens, podemos verificar que, embora o paraíso seja bom, não é o destino final dos justos. E, da mesma forma, o Hades (que não é o inferno) não é o destino final dos ímpios. Um novo céu e uma nova terra vai ser criada para os primeiros e é ali que habitaremos eternamente com o Pai:

E vi um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. E eu, João, vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido. E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus. E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas. E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E disse-me: Escreve; porque estas palavras são verdadeiras e fiéis. (Ap 21:1-5)


Nesta cidade [6] receberemos, além do novo corpo, uma nova identidade, e uma memória "limpinha", nova em folha. Por melhor que seja a Nova Jerusalém, teríamos as dores herdadas da vida terrena. Faz todo sentido que Deus nos aliviasse deste tipo de dor, nos dando uma nova memória. A passagem acima diz que não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor. Mas há uma outra passagem que corrobora com esta afirmação: "Pois eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá lembrança das coisas passadas, jamais haverá memória delas." - Isaías 65.17. E a nova identidade pode ser verificada nesta passagem: "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao vencedor, dar-lhe-ei do maná escondido, bem como lhe darei uma pedrinha branca, e sobre essa pedrinha escrito um nome novo, o qual ninguém conhece, exceto aquele que o recebe."- Apocalipse 2.17. Saliento que esta dádiva será dada para os justos, não para os ímpios.

O destino eterno dos ímpios é o lago de fogo, este sim, o inferno. Jesus deu as características deste lugar:

E, se a tua mão te escandalizar, corta-a; melhor é para ti entrares na vida aleijado do que, tendo duas mãos, ires para o inferno, para o fogo que nunca se apaga, Onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga. (Mc 9:43-44)


Inferno, aqui, trata-se da transliteração para o português do termo grego "géenna", que, por sua vez, origina-se do hebraico Geh Hinnóm cujo significado literal é "Vale de Hinom". Ela aparece doze vezes no Novo Testamento (Mateus 5:22, 29, 30; 10:28; 18:9; 23:15, 33; Marcos 9:43, 45, 47; Lucas 12:5, Tiago 3:6), sendo sempre traduzida por inferno, e/ou a um lugar de tormento.

Vale de Hinom, originalmente, era o lugar onde Acaz, rei de Judá, é mencionado praticando rituais de adoração ao deus Moloque. A cerimônia, de acordo com 2 Crônicas 28:1-3, incluía o sacrifício de crianças. Com o passar dos anos, o vale de Hinom tornou-se o depósito e incinerador do lixo de Jerusalém. Lançavam-se ali cadáveres de animais para serem consumidos pelo fogo, ao qual se acrescentava enxofre para ajudar na queima, e mantê-lo sempre acesso a fim de evitar a proliferação de doenças. Também eram recolhidos ao local cadáveres de criminosos executados, não considerados dignos de um sepultamento decente. Quando esses caíam em lugar onde não havia fogo, sua carne em putrefação ficava infestada de vermes.

De fato, foi uma comparação muito forte do que o inferno é. Mas, perceba, esta é a descrição do verdadeiro inferno, o lago de fogo [7] citado em Apocalipse, onde o Hades e a morte serão lançados. Ali também será a morada de Satanás e dos anjos rebeldes. A verdadeira natureza do inferno não será tratada neste artigo, mas numa postagem posterior.

Quanto ao julgamento [5], sabe-se que haverão dois, um para os justos e outro para os ímpios. Mas este julgamento nada tem a ver com o fato de serem averiguadas as culpas, as provas contra e a favor das almas. A inocência (ou a condenação) já é definida no ato da morte de cada um [2] e [3]. O que será feito neste julgamento é puramente a declaração disto, bem como a atribuição de recompensas ou punições proporcionais. Proporcionais sim, porque nós daremos conta de todo bem e mal que fizermos no nosso corpo, seja qual for o nosso destino eterno.Os justos terão um julgamento de obras. Cada um de nós, que for salvo, receberá uma recompensa diferente (ou um galardão, na linguagem bíblica) conforme o bem que fez enquanto vivo. Nenhum justo, repito, será condenado aqui. Todos estes já estão salvos eternamente.

Os ímpios terão um julgamento de condenação [5]. Os que optaram por se afastar de Deus, terão exatamente isto, e quanto piores as coisas que fez durante a vida, pior será a "punição" recebida. O que é completamente justo. Imagine a situação: alguém que foi um bom pai de família, um bom empregado, um bom patrão, enfim, uma "boa pessoa", porém rejeitou livre e conscientemente a salvação providenciada por Cristo, não terá o mesmo "castigo" de alguém como um Stálin ou um Hitler. Neste julgamento, não há, também, qualquer possibilidade de alguém ser salvo.

Concluindo

Várias coisas ficam claras. Primeiramente, só temos a possibilidade de uma escolha livre para seguir ou não a Deus aqui nesta vida. Não há uma segunda chance. Segundo, o seu destino está selado com a morte. Terceiro, as bençãos [6] que receberemos são melhores dos que as tradicionalmente conhecidas. Quarto, a "perdição eterna" [7] é bem pior do que o tradicionalmente descrito pela sabedoria popular. E por último, sabemos que os justos estarão com Jesus assim que deixarem esta vida [2], estaremos com Ele no paraíso. E o melhor ainda está por vir [6]!

***

Clique aqui para baixar o infográfico acima em formato PDF (695kb).

comment 4 comentário(s):

Edu Neves on 29 de abril de 2008 às 00:51 disse...

“Procurando o Deus desconhecido.”

http://panoramateologico.blogspot.com

José Carlos on 15 de novembro de 2009 às 11:51 disse...

Segundo as palavras do Senhor Jesus Cristo a eternidade não é, e jamais será uma escolha humana pessoal. Todo aquele que o Pai me der, "esse" virá a mim; e o que vem a mim, de maneira alguma o lançarei fora. (João 6:37) Ninguém "PODE" vir a mim, se o Pai, que me enviou, o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último Dia. João 6:44. Longe de ser uma escolha humana, é antes uma eleição de Deus. E, se o Senhor não abreviasse aqueles dias, nenhuma carne se salvaria; "mas", POR CAUSA DOS ESCOLHIDOS QUE ESCOLHEU, abreviou aqueles dias. Marcos 13:20. Longe de ser uma escolha pessoal humana, é uma escolha eterna de Deus.

Anônimo disse...

A questão do estado do homem na morte é muito séria. Só que, no estudo feito, não foi considerada a passagem de Eclesiastes 9: 5, 6 e 10 (entre outras mais), bem como o fato de que não há explicitamente uma passagem que diga o contrário do texto citado. Há amparo bíblico para dizer que os salvos ficarão em algum lugar e que o espírito fica vivo após a morte? Não seria o texto citado de Lázaro, apenas uma parábola como tantas outras de Jesus e que não dão apoio a uma posição doutrinária?
Se o irmão é realmente sincero e deseja conhecer a verdade e não discutir interpretações, pense bem nisso.

borges.2007@gmail.com

Leandro Teixeira disse...

Olá irmão anônimo:

Primeiramente, obrigado por comentar. Em segundo lugar, concordo contigo que é de suma importância sabermos o destino de nossas almas depois desta vida.

Entendo que estes versículos que você citou deixam margem a outra interpretação, se olhados de maneira superficial, a de que a alma talvez entre num "sono profundo" até a volta de Jesus.

Entretanto, há de se observar que estas passagens estão num contexto: "debaixo do sol". É em relação aos vivos que a memória do morto "cai no esquecimento"; e é em relação às ações e preocupações dos vivos que os que já morreram não tem parte. Obviamente, o versículo 10 afirma que quem morreu nada mais pode fazer no plano terreno, nem projeto, nem conhecimento.

Quanto à passagem relacionada a Lázaro, não creio que seja simplesmente uma parábola. Ali Jesus não fala em termos genéricos, mas usa nomes próprios (Lázaro, Abraão) para se referir às pessoas. Para muitos estudiosos da Bíblia, isto dá a entender que esta é uma história real, não simplesmente um exemplo parabólico.

Na graça e paz de Cristo,
Leandro.

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